Petroleiros iranianos transportam gasolina para Venezuela
27 de maio de 2020O segundo navio-tanque de uma frota iraniana transportando combustível para a Venezuela atracou nesta terça-feira (26/05) em Punta Cardón, porto que atende a segunda maior refinaria da Petroleos de Venezuela (PDVSA) no oeste do país.
O petroleiro transportando 1,5 milhão de barris de gasolina do Irã foi escoltado por fragatas e helicópteros navais venezuelanos ao entrar na zona econômica exclusiva do país. O terceiro da flotilha de cinco navios-tanque também entrou em águas territoriais venezuelanas na terça-feira.
O ministro do Petróleo da Venezuela, Tareck El Aissami, twittou fotos do petroleiro de bandeira iraniana, Forest, e da tripulação após sua chegada ao porto venezuelano.
O primeiro dos navios-tanques iranianos, o Fortune, chegou a um porto que serve a refinaria de El Palito, na segunda-feira, numa demonstração de desafio por parte de Teerã e Caracas, que estão sob sanções americanas.
A carga, que inclui aditivos e peças de reposição cruciais para as refinarias venezuelanas danificadas, deve alavancar a distribuição de combustíveis e aumentar a produção das refinarias no país, onde uma escassez aguda de gasolina está forçando as pessoas a fazerem filas por dias em postos de gasolina ou a caminhar quilômetros para o trabalho.
"Obrigado, Irã", tuitou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, no último domingo, pouco antes de o Fortune atracar. "O fim do Ramadã nos traz a chegada do navio Fortune, um sinal de solidariedade do povo islâmico do Irã com a Venezuela. Em tempos em que o império supremacista pretende impor seu domínio pela força, apenas a irmandade dos povos livres nos salvará."
Dificuldades econômicas
A economia venezuelana está arruinada há anos, com a inflação nas estrelas, abalada pela instabilidade política, má gestão, corrupção e sanções dos EUA. Os venezuelanos tiveram que enfrentar a escassez de necessidades básicas, como alimentos e medicamentos, que forçaram milhões a deixar o país.
As sanções dos EUA têm como alvo principal a indústria petrolífera da Venezuela ‒ uma das maiores do mundo ‒, atingindo a principal fonte de receita do país. A produção de petróleo local caiu para quase um quarto dos níveis observados em 2008.
A situação da Venezuela piorou com a queda drástica nos preços globais da matéria-prima em meio à crise do coronavírus. O preço do petróleo venezuelano caiu para menos de 10 dólares o barril, o nível mais baixo em mais de duas décadas e bem abaixo do preço médio do ano passado, de 56,70 dólares.
Fim do poder de refino da Venezuela
A Venezuela, que abriga uma das maiores reservas de petróleo do mundo e possui uma das principais refinarias da América Latina, viu sua rede de refino de 1,3 milhão de barris por dia entrar em colapso devido à falta de investimentos, corrupção, apagões, fuga de funcionários e às sanções americanas.
Durante meses, Caracas conseguiu importar a gasolina necessária, fornecendo petróleo a seus clientes, incluindo a maior empresa petrolífera da Rússia, Rosneft. Mas foi atingida por um duro golpe no início deste ano, quando os EUA impuseram sanções a duas unidades comerciais da Rosneft por negociarem com a Venezuela.
Em março último, a petrolífera russa deixou surpreendentemente a Venezuela, vendendo todos os seus ativos no país, embora para uma empresa de propriedade integral do governo russo.
Socorro iraniano
A capacidade de refino do país aumentou em maio, após a chegada de peças de reposição fornecidas através de voos da Mahan Air iraniana, informou a agência de notícias Reuters, citando fontes anônimas. O nível de processamento de petróleo bruto subiu para cerca de 215 mil barris por dia (bpd), ante 110 mil barris por dia em março. Mas isso não ajudou muito a reduzir a escassez de combustível no país, onde a gasolina teve que ser estritamente racionada.
Os atuais fornecimentos iranianos não deverão superar completamente o déficit, mas estão sendo vistos como um grande alívio na situação atual. Especialistas dizem que 1,5 milhão de barris de gasolina seriam suficientes apenas para durar de algumas semanas a um mês diante dos níveis atuais de consumo.
Sanções dos EUA
Nos últimos meses, os EUA intensificaram as sanções destinadas a derrubar Maduro. Em março, Washington acusou o líder venezuelano e vários membros de seu círculo interno de, entre outras coisas, tráfico de drogas e "narcoterrorismo", oferecendo uma recompensa de 15 milhões de dólares (cerca de 80 milhões de reais) por informações que levassem à captura e condenação de Maduro.
Washington e dezenas de outros países acusam Maduro de manter-se indevidamente na presidência e reconhecem seu rival oposicionista, Juan Guaidó, como presidente interino.
Os EUA disseram que estariam monitorando os embarques de petróleo iraniano para a Venezuela. Uma flotilha de navios da Marinha e da Guarda Costeira americanas está patrulhando o Mar do Caribe numa missão para combater o tráfico de drogas, mas parece não ter interferido nos três primeiros navios.
"Os venezuelanos precisam de eleições presidenciais livres e justas que levem à democracia e à recuperação econômica, não dos dispendiosos acordos de Maduro com outro Estado pária", disse neste domingo a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Morgan Ortagus.
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