PIB cai 0,6%, e Brasil entra em recessão técnica
29 de agosto de 2014A economia brasileira teve retração de 0,6% no segundo trimestre deste ano em comparação aos três primeiros meses de 2014, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta sexta-feira (29/08).
Como o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre do ano foi revisado para baixo, de 0,2% para -0,2%, o país pode ser considerado em recessão técnica. O termo, porém, é controverso. Alguns economistas dizem que, como as retrações foram muito baixas, elas não indicariam uma recessão.
Outros analistas, no entanto, explicam que os índices apontam para a recessão da economia brasileira. A última vez que o país registrou uma recessão técnica foi no último trimestre de 2008 (-4,2%) e no primeiro de 2009 (-1,7%) por conta da crise internacional.
"A economia brasileira vem desacelerando gradativamente há algum tempo, e mudanças neste ano para reativá-la, por conta das eleições, não vão ser implementadas", afirma o economista Evaldo Alves, da FGV. "A economia deve recuar mais um pouco, a menos que o governo federal dê incentivos, como ocorreu na semana passada."
Na última quarta-feira (20/08), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou regras que facilitam a compra de imóveis e que dão mais opções de crédito para o consumidor. Para Alves, o governo não deveria incentivar o setor monetário – como o de crédito –, mas o setor real, com o incentivo a investimentos para a compra de máquinas e equipamentos.
"Incentivar o crédito neste momento é uma medida que pode se tornar inócua, porque o nível de endividamento dos consumidores está alto, e esse remédio pode até não funcionar", opina. "O governo só quer mexer no crédito para aumentar o consumo, que foi a receita que deu certo antes da última eleição."
Para o economista Reginaldo Nogueira, do Ibmec/MG, a indústria está muito fraca e não há investimento privado devido à piora das expectativas com o futuro da economia. "O país precisa rapidamente de uma melhora da agenda econômica para restaurar a confiança no meio empresarial e reerguer o investimento."
No segundo trimestre de 2014, a agropecuária foi o único setor que cresceu, com 0,2%. Já a indústria (-1,5%) e os serviços (-0,5%) recuaram, este último setor responsável por mais de 60% do PIB.
Quanto à demanda, houve uma alta no consumo das famílias (0,3%), mas recuos no consumo do governo (-0,7%) e formação bruta de capital fixo, ou seja, dos investimentos (-5,3%).
Queda maior na comparação anual
Em comparação com o segundo trimestre do ano passado, o PIB encolheu 0,9%. A agropecuária ficou estável (0,0%), a indústria diminuiu 3,4% e o setor de serviços aumentou 0,2%.
No acumulado do primeiro semestre de 2014, a economia brasileira cresceu 0,5% em relação ao mesmo período de 2013. Em relação aos setores, na mesma comparação, a agropecuária (1,2%) e os serviços (1,1%) tiveram expansão. A indústria, por sua vez, recuou 1,4%.
No acumulado dos últimos quatro trimestres em comparação com os trimestres imediatamente anteriores, o Brasil cresceu 1,4%.
De acordo com o Boletim Focus,divulgado na segunda-feira (25/08) pelo Banco Central com a previsão de economistas de instituições financeiras, a expectativa de expansão do PIB em 2014 está em 0,7%.
"O ano terá um crescimento muito baixo, provavelmente acima de 0,5%", diz Nogueira. "Não acredito em recuperação forte no segundo semestre, embora alguma melhora possa acontecer. Teremos, infelizmente, um ano de economia praticamente estagnada, com inflação acima de 6%, o que é um resultado muito ruim", completa o economista do Ibmec/MG.