Pior ainda está por vir na América Latina, alerta OMS
2 de junho de 2020Com cerca de 30 mil mortos no Brasil e mais de 10 mil no México, a pandemia de coronavírus ameaça sobrecarregar os sistemas de saúde na América Latina, enquanto diversos países europeus iniciam nesta terça-feira (02/06) o retorno a uma relativa normalidade.
Dos 10 países com maior número de infecções diárias de covid-19, quatro são latino-americanos: Brasil, Peru, Chile e México, segundo afirmou o diretor de Emergências sanitárias da Organização Mundial de Saúde (OMS) Michael Ryan.
"Eu certamente caracterizaria que a América Central e do Sul, em particular, se tornaram as zonas intensas de transmissão para esse vírus. Não acredito que tenhamos chegado ao ponto alto dos contágios [na América Latina] e, no momento, não se pode prever quando será alcançado", afirmou. O epicentro da doença na América Latina é o Brasil, que, com mais de 526 mil casos, se tornou o segundo país com mais infecções em todo o globo, atrás apenas dos Estados Unidos (1,8 milhão de casos).
No Brasil, com mais de 210 milhões de habitantes, as medidas de quarentena ou de confinamento são impostas de maneiras diferentes, seguindo as normas estaduais ou municipais. O presidente Jair Bolsonaro continua a desdenhar da doença e fazer pouco dessas restrições, com a intenção de proteger a economia e o emprego, mesmo com o número de mortos se aproximando dos 30 mil.
A cidade do Rio de Janeiro divulgou um plano gradual de reabertura econômica de seis fases, até a "volta à normalidade" em agosto, segundo a estratégia anunciada pelo prefeito Marcelo Crivella.
A primeira fase, que começa nesta terça-feira, permite a retomada das atividades nos locais religiosos com medidas de precaução, como o distanciamento social. Os esportes náuticos individuais, como o surf ou a natação, podem ser praticados, mas não é permitido ainda o banho de sol nas praias fluminenses. O comércio ainda não tem permissão para reabrir, salvo algumas exceções.
O estado de São Paulo, o mais afetado em todo o país, também deu início nesta segunda-feira a uma estratégia de reabertura gradual.
Contudo, ainda é grande a preocupação em relação aos demais países latino-americanos. "Precisamos apoiar especialmente as Américas Central e do Sul", ressaltou Ryan, alertando para a instabilidade em vários países nessas regiões, com um grande aumento dos casos e uma forte pressão sobre os sistemas de saúde.
O Peru, com 33 milhões de habitantes, é um dos que está sob forte risco. Segundo o Ministério da Saúde local, o país já superou 170 mil casos da doença e contabiliza mais de 4,6 mil mortes.
O México, país de 120 milhões de habitantes, já tem mais de 93 mil casos confirmados e ultrapassou nesta terça-feira o total de 10 mil mortes. Mesmo assim, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, anunciou nesta segunda-feira a retomada gradual das atividades da indústria automobilística e dos setores da mineração e construção civil.
No Chile, com 1,1 mil mortos e 100 mill infecções, as restrições impostas para diminuir a propagação da doença resultaram em uma retração econômica de 14,1% em abril, em comparação ao mesmo mês do ano anterior. Este é número o mais baixo desde o início dos registros, segundo informou o Banco Central do país.
O Equador, com 3,6 mil mortes e mais de 39 mil casos, decidiu reiniciar os voos comerciais domésticos e reduziu o toque de recolher de 15 para 11 horas. Por sua vez, o governo de Honduras dividiu o país em três zonas, de acordo com os índices de incidência do vírus, para possibilitar o que chamou de reabertura inteligente e gradual.
Europa reabre, apesar do medo da "segunda onda"
O panorama na América Latina contrasta com o que se vê na Europa, onde foram registradas 180 mil mortes e mais de 2,1 milhões de casos. Após quase três meses de medidas de confinamento impostas na maior parte do continente, os países começam a adotar medidas de relaxamento e de reabertura econômica em muitos setores.
A Espanha, país que teve mais de 27 mil mortos e quase 240 mil casos, não registrou nenhuma nova morte nas últimas 24 horas. O país, porém, impôs algumas das medidas de confinamento mais rígidas em todo o mundo, deixando a grande maioria da população em confinamento.
Mesmo que as viagens entre os países europeus ainda não sejam permitidas – o que deve ocorrer a partir de 15 de junho – os locais turísticos mais importantes da Europa começam a reabrir. Nesta terça-feira, foi a vez do Museu Guggenheim em Bilbao e do mercado Grande Bazar em Istambul, com mais de 3 mil barracas e 30 mil comerciantes.
O Coliseu de Roma foi iluminado com as cores da bandeira italiana para marcar a reabertura ao público. O imponente anfiteatro romano recebeu em torno de 300 visitantes que fizeram reservas online, uma cifra bem inferior aos 20 mil que o local costumava receber todos os dias.
Mesmo assim, o governo italiano espera que a reabertura dos monumentos históricos possa ajudar a dar novo impulso ao setor do turismo, extremamente abalado pela epidemia de covid-19 que matou mais de 33 mil pessoas.
A França, onde a pandemia deixou quase 30 mil mortos, deu início à segunda fase do plano de reabertura, com a permissão para viagens domésticas de até 100 quilômetros de distância e a retomada das atividades em restaurantes e cafés, ainda que com limitações.
Além disso, após a reabertura de parques e jardins em toda a França neste sábado, as praias, museus, monumentos, zoológicos e teatros podem voltar a funcionar nesta semana.
No Reino Unido, as escolas reabrem para alunos de 4 a 6 anos e de 10 a 11 anos, apesar das críticas de professores, sindicatos e governos locais, que julgam a medida como apressada. O país, que já soma mais de 38 mil mortos pela doença, registrou 111 novos óbitos nesta segunda-feira, sendo esta a menor contagem diária desde o início das medidas de confinamento.
Apesar dos temores quanto a uma segunda onda da doença, a normalização também avança na Finlândia (reabertura de restaurantes, bibliotecas e outros lugares públicos), Grécia (jardins de infância e escolas primárias), Romênia (cafés, restaurantes e praças), com medidas semelhantes adotadas na Albânia, Noruega e Portugal.
RC/afp
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