Em prol do euro
17 de dezembro de 2010Olhando retrospectivamente para 2010, o primeiro-ministro de Luxemburgo e chefe do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, resumiu assim o ano tão turbulento para a zona do euro: "Poderíamos ter sido melhores, mas já fomos muito bons", declarou no encerramento da cúpula da União Europeia, nesta sexta-feira (17/12) em Bruxelas.
Segundo a chanceler federal alemã, Angela Merkel, a UE apoia unanimemente o euro, e tudo será feito para garantir sua estabilidade financeira. A chefe de governo pretende introduzir uma política econômica europeia comum. Contudo as desavenças em torno dos títulos de dívida conjuntos (eurobonds), durante o encontro, já demonstraram quão difícil é essa intenção.
Defeitos de nascença
As sequelas de dois sérios defeitos congênitos da união monetária europeia se abatem agora sobre a UE, de forma brutal. Em primeiro lugar, jamais houve uma política econômica conjunta, paralelamente à moeda comum, e disso resultam os enormes desequilíbrios econômicos na zona do euro.
Em segundo lugar, certos países nunca deveriam ter sido admitidos na UE. A Grécia é o exemplo mais crasso, mas não o único, em absoluto. O bloco europeu fechou os olhos durante muito tempo diante desses fatos. Agora está na hora de arcar com as consequências, em tempo recorde.
Em princípio, é acertada a direção das medidas estabelecidas na conferência de cúpula da UE. Os governos nacionais se comprometem a tudo fazer para preservar a estabilidade do euro. O tom absoluto e, simultaneamente, vago dessa declaração não é, de forma alguma, uma desvantagem.
É claro que, teoricamente, há limites para a ajuda. Porém citar números seria um convite aos especuladores para, imediatamente, testarem esses limites. O mecanismo permanente anticrise é um indicador desse comprometimento mútuo.
Qualquer suspeita de que o grêmio pudesse deixar para trás um de seus países, em caso de vicissitude, causaria uma reação em cadeia. E a eventualidade de a união monetária se esfacelar sairia caríssimo, em especial para os alemães.
Vacas sagradas
Uma equiparação a posteriori da política econômica dos países do euro deverá ser ainda fonte de enormes atritos. Alguns governos talvez ainda nem compreendam bem o que isso significa.
A consolidação orçamentária, por si, já é suficientemente complicada. Porém trata-se, também, de mexer com vacas sagradas nacionais, como impostos, aposentadorias e as leis sobre o mercado de trabalho, para só mencionar alguns grandes setores: trata-se de respeitáveis tradições e de consensos sociais penosamente alcançados, em cada um dos países.
Obviamente uma equiparação não pode visar a unificação absoluta. Mas, tão enormes como são, as diferenças não podem permanecer. Importante é que o critério para uma aproximação não seja um suposto meio-termo perfeito, mas sim a competitividade global.
O tempo urge, e a necessidade obriga os integrantes da zona do euro a um grau de integração que, voluntariamente, eles não teriam adotado. Mas geralmente é assim que as coisas acontecem. Se a Europa se esforçar, ela poderá efetivamente sair fortificada da crise.
Montenegro candidato à UE
Apesar de toda a concentração na estabilização da moeda comum, ainda houve tempo para a política externa na capital belga: ao final da conferência, os dirigentes da União Europeia decidiram que Montenegro é candidato oficial a entrar para o bloco.
"Este é um forte sinal de que nos sentimos comprometidos com o futuro dos Bálcãs", observou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso. Ainda não está definido quando se iniciarão as negociações para o ingresso de Montenegro.
Até sua independência, em 2006, a pequena nação balcânica pertenceu à Iugoslávia e à Sérvia, respectivamente. Outros candidatos oficiais à UE são a Sérvia, Croácia, Turquia e Islândia.
Autor: C. Hasselbach / S. Henn / A. Valente
Revisão: Carlos Albuquerque