Polícia prende supostos espiões sírios em Berlim. Diplomatas deixam Damasco
7 de fevereiro de 2012Forças militares sírias atacaram nesta terça-feira (07/02), pelo quarto dia consecutivo, a cidade de Homs, centro dos protestos contra o regime Assad na Síria. Segundo os membros da oposição, o alvo dos ataques é sobretudo o bairro Bab Amro, que se encontra isolado, com o fornecimento de energia elétrica suspenso. Na segunda-feira, segundo a oposição, foram mortas 95 pessoas na cidade.
O governo em Damasco declarou, como de praxe, que as forças militares estão lutando contra terroristas em Homs. Os relatos sobre o levante contra o regime Assad, que já se arrasta por 11 meses, não pode ser avaliado por observadores externos, uma vez que Damasco praticamente não permite a entrada de jornalistas estrangeiros no país.
Diretor do serviço secreto russo à mesa de negociações
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, foi recebido em Damasco com um mar de bandeiras da Rússia. O diretor do serviço secreto russo para o exterior (SWR), Mikhail Fradkov, também participou das negociações na capital síria.
A Rússia, aliado importante da Síria e também fornecedora de armamentos para Damasco, demonstrou, com a visita, que mantém seu apoio ao regime Assad.
Juntamente com a China, Moscou vetou, no último fim de semana, uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a partir da qual Assad seria forçado a cessar a violência contra os manifestantes que criticam seu governo.
Liga Árabe: nada é possível sem a Rússia e a China
O conteúdo da resolução, estabelecido pela Alemanha, França, Reino Unido, Marrocos e por diversos outros países árabes, foi feito com base no plano de paz da Liga Árabe para a Síria. Nabil Elaraby, secretário-geral da Liga, afirmou que Moscou e Pequim perderam pontos em muitos países árabes, em função do veto no Conselho de Segurança da ONU.
Mesmo assim, completou Elaraby, os países árabes irão continuar cooperando com a China e com a Rússia, "pois precisamos deles". Segundo o secretário-geral, a rejeição à resolução foi uma mensagem errada enviada ao governo sírio, que, agora, parece achar que pode fazer tudo o que quiser, sem ter que arcar com as consequências.
A China também quer enviar negociadores
A China também cogita mais uma iniciativa diplomática para acalmar a situação na Síria. O ministério chinês do Exterior confirmou que o país pretende contribuir para uma solução pacífica para o caso e deverá, para isso, desenvolver uma proposta política ao lado de países do Norte da África e da Ásia Ocidental. Os EUA fecharam sua embaixada em Damasco, em função da violência que assola o país. O governo alemão também cogita fechar sua representação diplomática na capital.
Desde o início dos protestos, em março de 2011, estima-se que aproximadamente 6 mil pessoas morreram, muitas delas em consequência de torturas, segundo organizações de defesa dos direitos humanos.
O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, anunciou outras sanções contra o regime Assad, bem como a criação de um chamado "grupo de contato", para apoio à oposição síria. A premiê Merkel afirmou, após encontro com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que Alemanha e França não estão "apenas decepcionados, mas horrorizados" com a decisão contrária a uma resolução do Conselho de Seguranca da ONU. Sarkozy afirmou que Paris e Berlim nao deixarão o povo sírio sem apoio.
Espiões na Alemanha
Em Berlim, dois homens foram detidos, sob suspeita de estarem a serviço do serviço secreto sírio. Os investigadores responsáveis pela detenção de ambos acreditam que possa haver uma rede de apoio aos mesmos no país.
Segundo o Ministério Público da Alemanha, o teuto-libanês Mahmoud El A., de 47 anos, e o sírio Akram O., de 34, estão sob fortes suspeitas de colaboração com o serviço secreto sírio.
Westerwelle convocou o embaixador sírio na capital alemã para conversas após a detenção dos dois suspeitos. O ministro alemão esclareceu a seu colega de pasta sírio que Berlim não aceita, de forma alguma, "qualquer conduta avessa a membros da oposição síria que se encontrem na Alemanha".
Rede de apoio
Os dois espiões são acusados de atividades ao longo de diversos anos. Além disso, autoridades investigam a participação de mais seis supostos espiões na Alemanha. Segundo informações extraoficiais, alguns deles são funcionários da embaixada síria em Berlim. As investigações, ainda em andamento, envolvem a participação de 70 agentes do governo alemão.
Em dezembro último, o sírio Ferhad Ahma, ligado à oposição em seu país de origem, foi agredido em Berlim em sua casa, no bairro Mitte. Ahma avaliou o ataque como uma medida para intimidá-lo, tomada "a serviço de vassalos do regime".
Ahma vive desde 1996 em Berlim e é membro do Partido Verde. Desde outubro de 2011, o sírio de 37 anos pertence ao Conselho Nacional Sírio, formado pela oposição no país e não reconhecido oficialmente. Ele representa a minoria curda neste grêmio provisório.
SV/rtr/dpad/afp/dpa
Revisão: Carlos Albuquerque