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Política alemã descobre a mídia

(av)25 de abril de 2005

Pela primeira vez na Alemanha, uma CPI é transmitida ao vivo pela TV: terá o ministro do Exterior favorecido a imigração ilegal? Enquanto uns falam em americanização da política, outros saúdam ganho em transparência.

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Volmer e Fischer depõem na CPI dos vistosFoto: AP

Será que Joschka Fischer e Ludger Volmer favoreceram indiretamente o tráfico humano, ao simplificar o processo de concessão de vistos? Esta questão envolvendo o ministro do Exterior alemão e seu ex-vice-ministro é tema da mais recente reality soap da TV alemã. A transmissão integral e ao vivo da sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito encarregada de respondê-la ficou a cargo de Phoenix, o canal de documentários das emissoras públicas ARD e ZDF.

Mediocracia?

O fato é totalmente inédito na história da imprensa alemã. A intenção das emissoras é permitir aos espectadores formarem uma opinião independente sobre a culpa ou não de seus políticos, sem mediação. Uma decisão ambivalente, avalia Thomas Meyer, politólogo da Universidade de Dortmund e autor do livro Mediokratie – Die Kolonisierung der Politik durch die Medien (Mediocracia – A colonização da política pela mídia). Segundo ele, a política é sempre encenada.

"Vivemos numa democracia midiática e a tarefa da mídia é tornar visível o que é encenado", afirma Meyer. Assim, a transmissão ao vivo da comissão dos vistos seria um novo passo no sentido da midiatização da política. "A questão agora é que tanto a imprensa quanto os espectadores precisam aprender sensatamente a lidar com essa possibilidade." É preciso que a audiência possa perceber a proporção entre a substância e a encenação. E para isso ela precisa da ajuda dos jornalistas, lembra o especialista em ciências políticas.

A diferença decisiva: privado ou público

Lutz Erbring, professor de Comunicação na Universidade Livre de Berlim, vê a transmissão da CPI de forma totalmente positiva, pois "não há política sem encenação, isso é um mito". Ele não vê qual seria o problema com a americanização da política, de que tanto se fala: "Considero a transmissão televisiva como um ganho em transparência".

Nos Estados Unidos, já no início dos anos 50, a era McCarthy apresentou na TV os inquéritos de supostos comunistas. "Isso foi um dos fatores que precipitaram a passagem do fantasma McCarthy", avalia o pesquisador.

A grande diferença entre a Alemanha e os EUA é que na primeira as emissoras de direito público representam um papel importante, enquanto do outro lado do Atlântico a mídia privada domina. "Nas sociedades onde os meios de comunicação comerciais dominam a política, impera um estilo político voltado para a mídia e encenado", esclarece Thomas Meyer. Por isso, nos EUA não é fácil basear-se em argumentos e conteúdos. Na Alemanha, a transmissão de CPIs pode ser mais crítica e informativa do que no caso dos norte-americanos, acredita o politólogo de Dortmund.

Vantagem para Fischer

Nos últimos anos, milhares de pessoas, sobretudo do Leste Europeu, entraram na Alemanha e em outros países da UE com vistos legais, permanecendo então ilegalmente. Segundo a oposição conservadora (CDU/CSU), tal fato só foi possível devido à política excessivamente liberal da coalizão governamental social-democrata/verdes, que desse modo haveria favorecido o tráfico humano e a prostituição.

Quem está com a razão? Cabe notar que, embora a transmissão pela TV seja inédita, Joschka Fischer é conhecido por sua boa performance na mídia, com mais chances de despertar as emoções dos espectadores do que o objetivo Ludger Volmer, cujo depoimento foi igualmente transmitido ao vivo, já na quinta-feira (21/04). Será a embalagem mais importante do que o conteúdo? Aguardem a resposta após o próximo comercial.