Desafios diplomáticos
22 de agosto de 2009Quando a chanceler federal alemã, Angela Merkel, assumiu o governo, quatro anos atrás, uma meta se sobrepunha às outras em sua agenda: melhorar as relações com os Estados Unidos. A antipatia entre George W. Bush e Gerhard Schröder, seu antecessor no governo alemão, havia surgido durante a guerra do Iraque e esfriado sensivelmente as relações entre os dois países.
A política da democrata-cristã Merkel desenvolveu assim bons contatos com o republicano George W. Bush, que não poupava elogios à premiê alemã. Ao contrário de Schröder, Merkel pôde se dar ao luxo de criticar o presidente norte-americano, em relação tanto a questões ambientais como a Guantánamo, cujo fechamento ela defendia.
Tais divergências de opinião não foram discutidas em público, mas a portas fechadas. Bush também acabou aceitando que o governo alemão não mandasse soldados para o sul do Afeganistão.
A harmonia entre Washington e Berlim só foi abalada quando o então candidato à presidência dos EUA, Barack Obama, escolheu o Portão de Brandemburgo como local de seu discurso de campanha eleitoral no país, e Berlim recusou sua permissão.
Obama acabou por falar para um público de quase 200 mil pessoas a poucos metros dali, diante da Coluna da Vitória. O apoio da população alemã ao candidato já estava garantido, só faltava o da premiê. A distância entre os dois era clara também para a opinião pública.
Hoje, Merkel e Obama encontraram uma forma profissional de convivência. Berlim apoia a política externa do presidente norte-americano, voltada para o diálogo, bem como seus esforços em prol do desarmamento. Em junho último, Obama visitou a Alemanha, tendo ido a Dresden e ao memorial do campo de concentração Buchenwald, libertado em 1945 por tropas norte-americanas.
Rússia: parceira e obstáculos
Moscou mostrou-se um parceiro difícil para a coalizão de governo alemã. A confiança entre Moscou e Berlim foi abalada várias vezes e os atritos não se reduzem à defesa dos direitos humanos e liberdade de imprensa, aspectos defendidos por Merkel. Por outro lado, o projeto antimíssil dos norte-americanos para o Leste Europeu desperta a desconfiança russa.
Os ataques verbais do presidente Wladimir Putin durante a Conferência para Segurança em 2007 em Munique foram sinais dessa indisposição. Para alguns especialistas, as divergências lembravam os tempos de Guerra Fria.
Em meados de 2008, a guerra entre Rússia e Geórgia afetou mais uma vez as relações de Moscou com o Ocidente. A UE anunciava que a Rússia não estava cumprindo o "plano de seis pontos" acertado anteriormente. Merkel protestou quando o governo russo reconheceu oficialmente a independência das repúblicas Abkházia e Ossétia do Sul. As negociações entre a Otan e a Rússia foram provisoriamente suspensas.
O conflito pelo gás entre a Rússia e a Ucrânia desencadeou, no início de 2009, uma nova crise. Pela primeira vez, o governo russo interrompeu o fornecimento de gás para a Europa por um período mais longo. E ainda reclamou quando Berlim acusou os dois lados de serem responsáveis pelo conflito.
A fim de evitar a dependência do gás russo, a Alemanha vem optando cada vez mais pela importação de gás da Ásia Central, que deverá ser transportado até a Europa pelo gasoduto Nabucco.
Embora haja muitas razões para uma distância crítica entre a Alemanha e a Rússia, os governos dos dois países vêm trabalhando de forma objetiva nos últimos tempos, em parte até amistosamente. Um bom exemplo foi o combate à crise financeira, que também atingiu fortemente a Rússia.
Afeganistão: conflito sem fim?
Permanecer e perseverar é o lema da missão das Forças Armadas alemãs no Afeganistão. Os aproximadamente 4 mil soldados alemães no país, que fazem parte das forças de segurança (Isaf) da Otan, não têm perspectiva alguma de deixar a região. Pelo contrário, em função da segurança cada vez mais precária no país, Berlim envia cada vez mais soldados, material e auxílio para a formação de forças afegãs de segurança.
O fato de o Afeganistão, apesar dos pequenos progressos, ainda não conseguir resolver sozinho seus problemas, coloca questões que o governo alemão evita levar a público. Várias enquetes comprovam que a maioria da população alemã é contra a presença de soldados do país no Afeganistão.
Por estes quatro anos, a coalizão de governo esteve certa, contudo, de que abandonar a missão "no meio do caminho" iria destruir todos os esforços anteriores, principalmente agora que Obama está aumentando a pressão sobre o talibã e seus aliados.
Ainda paira no ar, porém, a frase do ex-ministro da Defesa Peter Struck, de que a Alemanha deveria garantir a segurança na cordilheira de Hindu Kush, o que custaria aos cofres do país verbas consideráveis. Somente em 2008, a missão no Afeganistão custou mais de 530 milhões de euros.
Oriente Médio: paz continua sendo sonho
O Oriente Médio Nenhuma foi a região mais visitada do que pelo atual ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier. Num total de 14 viagens e em incontáveis encontros, ele se informou regularmente a respeito do confronto entre israelenses, palestinos e países vizinhos.
Uma de suas peculiaridades diplomáticas foi ter insistido, por ocasião de uma visita a Damasco, na participação da Síria nas negociações de paz, apesar da resistência dos EUA. No entanto, as possibilidades de paz para a região acabaram se esvaindo.
A guerra entre Israel e a milícia hisbolá, em meados de 2006, fez com que todas as esperanças desaparecessem. O governo alemão se posicionou claramente do lado de Israel. Merkel culpou o Hamas pela morte de centenas de civis na guerra na Faixa de Gaza e visitou o ex-chefe de governo israelense, Ehud Olmert, em sinal de solidariedade. Isso fez com que Berlim perdesse confiança entre a opinião pública palestina.
Autora: Nina Werkhäuser
Revisão: Roselaine Wandscheer