Política monetária ou fogo de artifício?
7 de novembro de 2002À primeira vista, chama a atenção. As economias em ambas as margens do Atlântico Norte não vão lá muito bem. Por isto, o banco central americano FED baixa sua taxa de juros, mas os europeus não tomam a mesma medida. O abismo entre as taxas praticadas na Europa e nos EUA se aprofunda. Dá para entender? É simples. Os europeus não acreditam que baixar juros possa ativar a conjuntura – eles estão muito mais interessados num euro estável, para dentro e para fora.
Nos Estados Unidos, ao contrário, o presidente do FED, Alan Greenspan, envia dois recados com sua drástica redução na taxa. Primeiro: a incipiente recuperação da conjuntura está ameaçada de estagnar de novo. Segundo: vejam, estamos fazendo algo contra este perigo. No entanto, os dois recados devem ser avaliados mais pelo teor psicológico, pois concretamente pouco poderão influir na economia.
Desde 2001, o FED já baixou seus juros 12 vezes, sem qualquer sucesso. Sempre apareceram contratempos. Primeiro estourou a bolha de sabão da Nova Economia. Depois os escândalos bilionários nos balanços de grandes empresas provocaram uma profunda crise de confiança entre os investidores, que – ao contrário do que acontece na Europa – usam em grande parte o mercado acionário como base da previdência privada.
E, há alguns meses, o presidente norte-americano, determinado como uma fera a promover uma nova guerra contra o Iraque, atrai as atenções mundiais. Que consumidor se permite, em tempos de ameaça de guerra, gastar seu dinheiro na compra de uma casa ou de um carro? Que empresário investe nesses tempos seus recursos na renovação de seu maquinário ou na ampliação de sua fábrica?
O nível de juros nos EUA já é o mais baixo dos últimos 40 anos. Pode-se financiar a compra de um carro com juros de zero porcento. Apesar disto, os americanos se mantêm cautelosos. A confiança dos consumidores está no patamar mais baixo em nove anos.
Isto aborrece o todo-poderoso da política monetária americana. "Grande incerteza, em parte derivada de altos riscos geopolíticos, freia atualmente os investimentos, a produção e a criação de empregos", afirma literalmente a justificativa do FED para a redução nos juros. Mal pode se imaginar uma referência mais clara aos danos que o presidente Bush causa à economia com sua espada desembainhada. Entretanto, Alan Greenspan não pode mudar nada, pois nenhum banco central do mundo consegue estimular a conjuntura com juros baixos. E o pior: em breve Alan Greenspan terá queimado toda sua munição. Só lhe restam 1,25% para chegar ao nível japonês.
O Banco Central Europeu é mais inteligente. Guarda sua munição, mesmo que os mercados acionários a princípio se decepcionem. O BCE sabe que a conjuntura não evoluirá apenas por que o dinheiro está mais barato. E ele quer continuar ganhando reputação e credibilidade, ao não ceder à pressão do banco central americano, nem às reivindicações de políticos europeus por juros mais baixos. Estes devem primeiro consolidar seus orçamentos públicos e isto sem ajuda da política monetária. O único compromisso do BCE é com a estabilidade do euro e o banco leva seu trabalho a sério. Ele também quase não tem margem de ação. O volume de dinheiro na Eurolândia subiu 7%, o que aponta um potencial inflacionário. E a taxa de inflação em si está claramente acima da meta do BCE de 2%, entre outras razões por causa da alta dos preços do petróleo e outros combustíveis. Graças ao presidente Bush.
Assim, o BCE tomou uma decisão inteligente. Ele ganha credibilidade por que não se entrega à ilusão de poder impulsionar a conjuntura com política monetária. E mantém sua munição para a hora apropriada.