'Não' britânico
11 de dezembro de 2011O veto do primeiro-ministro britânico, David Cameron, a uma maior disciplina orçamentária através da mudança dos tratados que regem a União Europeia (UE) provoca agora querela dentro do próprio governo de Cameron.
Em entrevista à emissora BBC, neste domingo (11/12), o vice-primeiro-ministro britânico do Partido Liberal Democrata, Nick Clegg, demonstrou-se irritado com o "não" de Cameron na cúpula da União Europeia em Bruxelas.
Clegg declarou estar profundamente decepcionado com a posição do primeiro-ministro conservador. Ele afirmou ter dito em telefonema com Cameron que sua decisão foi ruim para o país. O vice de Cameron não vê, todavia, a coalizão de governo em Londres ameaçada. "Ainda pior para o país seria se a coalizão se desmantelasse. Isso provocaria uma catástrofe econômica em tempos já economicamente incertos."
O veto de Cameron também irritou os parceiros do Reino Unido na União Europeia. Políticos alemães de diversos partidos alertam para um isolamento maior de Londres dentro do bloco europeu.
Importância da Europa
Martin Schulz, deputado social-democrata alemão no Parlamento Europeu, avaliou que "Cameron isolou seu país de forma dramática". "Acho isso triste", complementou. Schulz ressaltou, no entanto, que a saída do Reino Unido da União Europeia não seria algo desejável.
Em reação à contenda em torno da cúpula sobre a crise do euro em Bruxelas, o presidente da Alemanha, Christian Wulff, afirmou que "devemos estar cientes da importância da Europa e não devemos fazer especulações sobre uma redução da Europa". "As relações da Alemanha com a França, Itália e Reino Unido são a espinha dorsal da UE", disse Wulff durante visita a Mascate, capital de Omã.
O ministro alemão da Economia, Philipp Rösler, também rejeitou as especulações sobre uma exclusão do Reino Unido da União Europeia. "O Reino Unido precisa da Europa tanto quanto a Europa precisa do Reino Unido. Ali, mais cedo ou mais tarde, será reconhecido que o nosso caminho rumo à união estável é o melhor. Para Londres, a porta permanece aberta", declarou Rösler à edição dominical do jornal Bild.
Posições britânicas
Em entrevista à BBC, o ministro britânico das Finanças, George Osborne, apoiou a decisão de Cameron em Bruxelas, afirmando que o primeiro-ministro defendeu o setor de serviços financeiros do país e, ao mesmo tempo, assegurou que as firmas britânicas pudessem continuar vendendo seus produtos na Europa. Quanto à questão sobre o distanciamento do Reino Unido da União Europeia, Osborne afirmou achar que "as pessoas estão simplesmente contentes com o fato de um primeiro-ministro britânico ter feito precisamente aquilo que prometeu".
Em pesquisa de opinião publicada pelo jornal britânico Mail on Sunday, uma maioria de britânicos (62%) disse concordar com a rejeição de David Cameron à mudança dos tratados da União Europeia para solucionar a crise do euro. Somente 19% dos entrevistados discordaram da decisão do premiê conservador.
Sobre as relações entre o Reino Unido e a União Europeia, 66% dos entrevistados disseram estar de acordo com a realização de um referendo sobre o futuro da parceria. A pesquisa de opinião constatou ainda que 48% dos britânicos defendem a saída do país da União Europeia, somente um terço dos entrevistados afirmou querer continuar no bloco europeu.
CA/dpa/afp/rtr
Revisão: Marcio Damasceno