Políticos pedem melhor integração de jovens estrangeiros
7 de novembro de 2005O incêndio de cinco veículos, na madrugada desta segunda-feira (07/11), no bairro Moabit, em Berlim, e três em Bremen deixou as autoridades de segurança da Alemanha em estado de alerta. Apesar de ninguém ter assumido a autoria dos crimes, a polícia alemã não descarta a existência de um vínculo com a rebelião dos jovens estrangeiros que colocou várias cidades da França em chamas, nos últimos 11 dias.
Em Berlim, os carros foram incendiados entre 1h e 3h30 desta segunda-feira. Na capital alemã, costumam ocorrer incêndios de veículos nos bairros Kreuzberg e Prenzlauer Berg durante as manifestações do Dia do Trabalho (1º de maio).
Em Bremen, três veículos foram incendiados no pátio de uma revendedora, causando um prejuízo de dezenas de milhares de euros, segundo a polícia. Além disso, houve um incêndio no prédio de uma antiga escola, que estava para ser demolida. Os supostos autores dos delitos, no entanto, não buscaram o confronto com a polícia, informaram as autoridades.
O porta-voz da Chancelaria Federal, Thomas Steg, advertiu para conclusões precipitadas. "Acho que deveríamos evitar analogias prematuras e profecias sobre a possibilidade de eventos similares aos da França ocorrerem na Alemanha", disse.
Autoridades alemãs estão preparadas?
O deputado Wolfgang Schäuble (CDU), designado para assumir o Ministério do Interior na provável grande coalizão comandada por Angela Merkel, declarou ao jornal Bild que a Alemanha precisa melhorar a integração, principalmente dos jovens estrangeiros.
Ele ressaltou que as condições da França são diferentes das da Alemanha, "mas também aqui há bairros com forte concentração de estrangeiros que se isolam do resto da sociedade. É necessário que os jovens estrangeiros dominem a língua alemã. Além disso, precisamos oferecer-lhes boa educação escolar, mais chances de formação profissional e empregos", declarou.
Schäuble acha que as autoridades alemãs estão preparadas para eventuais rebeliões semelhantes às da França. "Mas a tarefa principal é prevenir, porque quando a polícia precisa intervir, já é tarde demais", argumentou.
Bem mais cético, o ministro do Interior da Baviera, Günther Beckstein (CSU), advertiu: "Não estamos imunes a acontecimentos parecidos com os da França. Há uma preocupante formação de uma sociedade paralela. A integração na Alemanha ainda está longe de ser tão boa quanto se espera".
Grande tarefa do futuro
O deputado Hans-Christian Ströble, do Partido Verde, eleito pelo bairro Kreuzberg, disse não haver qualquer indício de que possa ocorrer na Alemanha o que está acontecendo na França. "Mas há gangues jovens em algumas cidades. Por isso, é preciso haver sinais mais evidentes de que a sociedade se preocupa com os filhos de imigrantes", declarou ao jornal Berliner Zeitung.
"Uma tarefa central da política de integração deve ser garantir que nenhuma criança chegue à escola sem saber falar alemão", acrescentou o deputado Volker Beck, também dos Verdes.
A encarregada para assuntos islâmicos da bancada do Partido Social Democrata, Lage Akgün, ressaltou que "o conflito na França não é um confronto de culturas ou religiões. Em síntese, é uma rebelião de filhos de estrangeiros marginalizados, o que deve ser evitado a tempo na Alemanha". Akgün defende que os jovens até 16 anos de idade tenham um direito garantido por lei a aulas e acompanhamento em escolas de tempo integral.
O vice-presidente do Conselho Alemão para Migração, Dieter Oberndörfer, pediu novos esforços para uma melhor integração dos estrangeiros. "Espero que, numa época em que só se pensa em economizar, não sejam cortados os recursos para a grande tarefa do futuro: a integração. Há o risco de que isso possa ocorrer, em função dos outros problemas que o país enfrenta."