Políticos suspeitos de envolvimento em morte de promotor no Paquistão
3 de maio de 2013O autor dos disparos contra o carro de Chaudhry Zulfiqar nesta sexta-feira (03/05) na capital paquistanesa, Islamabad ainda é desconhecido. O motivo do assassinato do destacado promotor público também é obscuro. A suspeita é que Zulfigar sabia demais.
Ele trabalhava para a Agência Federal de Investigação (FIA) do Afeganistão e, entre outros casos, se ocupava do esclarecimento do ataque suicida que, em 2007, matou a política da oposição Benazir Bhutto. Nesse contexto, também vinham sendo investigados políticos e militares de alto escalão.
Um dos nomes que aparecem no caso é o do ex-presidente paquistanês Pervez Musharraf. Ele está sob a suspeita de não ter oferecido cobertura suficiente a Bhutto no local do atentado, favorecendo, assim, por omissão, a morte da ex-primeira-ministra – por medo de que ela pudesse voltar ao poder. A divulgação de indícios do envolvimento de Musharraf na morte de Bhutto se deu há apenas poucos dias.
Investigações contraditórias
Devido a essa acusação, Musharraf se encontra em prisão domiciliar. Em março ele havia retornado do exílio voluntário, para poder participar das eleições parlamentares no Paquistão, em 11 de maio. O ex-chefe militar sempre negou qualquer envolvimento na morte de Buttho.
Ao falar com a Deutsche Welle, o advogado de Musharraf, Malik Qamar Afzal, lamentou de forma demonstrativa a morte do promotor de Justiça. "Ele era nosso colega e estamos mais chocados com esta perda do que qualquer outra pessoa". Afzal rechaça qualquer ligação entre seu cliente e o assassinato do jurista, afirmando que não há motivo para tais imputações, as quais seriam "tolice".
O atentado contra Bhutto não é o único caso de projeção internacional sob a responsabilidade de Chaudhry Zulfiqar. O promotor também liderava as investigações contra sete dos suspeitos na série de atentados em Mumbai, no final de 2008. Mais de 160 pessoas morreram durante os vários dias de ataques terroristas na metrópole indiana.
Sem comprovação
Zulfiqar não é a única vítima de atentados violentos no Paquistão, ressalta Ikram Chaudhry, ex-vice-presidente da Associação de Advogados do Tribunal Superior. Outros dois advogados credenciados no mesmo tribunal foram vítimas de sequestro e violência física. Chaudhry vê os incidentes com preocupação.
"Acredito que os incidentes estejam conectados e que integrantes do governo e de certos círculos de segurança, que querem mostrar que têm poder para acabar com alguém, estejam envolvidos", afirma. "Mas esta tática de intimidação não vai funcionar. A ordem constitucional e o Estado de Direito do Paquistão não serão abalados com isso."
Para a juíza e ativista dos direitos humanos Asma Jahangir, o atentado contra Zulfigbar também é uma advertência à Justiça e à mídia. "Consideramos isso uma mensagem. E avisamos aos que vêm praticando esses atos: os representantes do Judiciário não vão aceitar essa situação passivamente. Estamos todos unidos neste caso. Não vamos deixar essa pessoa em paz, vamos procurá-la também com nossos próprios meios", garantiu Jahangir.
O ato foi planejado de forma direcionada, acredita a juíza, mencionando telefonemas suspeitos: "No dia anterior ao assassinato de Chaudhry Zulfiqar, a Associação dos Advogados Credenciados no Tribunal Superior recebeu várias ligações perguntando o endereço do promotor público. Certamente não é coincidência ele ter sido morto no dia seguinte".
Eleições parlamentares obscurecidas
A partir de uma motocicleta, os autores do atentado dispararam mais de uma dúzia de tiros contra o carro de Chaudhry Zulfiqar. Ele acabara sair de casa, numa rua movimentada de um bairro de classe média de Islamabad.
Gravemente ferido, o promotor de Justiça não resistiu aos ferimentos e morreu no hospital, segundo porta-voz da polícia. O guarda-costas de Zulfiqar ficou ferido, e uma pedestre morreu atropelada pelo carro descontrolado do investigador.
O assassinato do prestigiado jurista lança uma sombra sobre as eleições parlamentares paquistanesas, marcadas para 11 de maio. Muitos paquistaneses gostariam que o pleito fosse um marco divisório na história do país depois de sua independência, em 1947. Pela primeira vez, haverá a passagem de um governo civil eleito para outro, e o fato é celebrado como uma vitória da democracia num país repetidamente abalado pela violência e o terror.