Pompa x direitos humanos
8 de agosto de 2008Na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, a China se apresentou como país voltado para o mundo e rico em tradição. Numa imponente coreografia, cerca de 15 mil artistas passaram em revista 5 mil anos de história nacional. A festividade desta sexta-feira (08/08) consta como a maior e mais cara desde o início das Olimpíadas.
Entre os 91 mil espectadores encontravam-se os presidentes George W. Bush e Nicolas Sarkozy, além do premiê russo, Vladimir Putin. Sua presença é especialmente proeminente após meses de críticas internacionais à política de direitos humanos de Pequim. Estas alcançaram seu ápice em seguida aos conflitos de rua no Tibete e transformaram a trajetória da tocha olímpica entre Atenas e Pequim num verdadeiro "corredor polonês".
Vergonha para a Europa?
Em especial a ida de Sarkozy, na qualidade de chefe de Estado europeu, foi seriamente controvertida. Somente no início de julho – portanto no último minuto – ele confirmou que estaria presente no estádio olímpico de Pequim.
"Senhor Presidente, é uma vergonha, é lamentável que vá viajar para a abertura dos Jogos Olímpicos..." Assim o deputado europeu Daniel Cohn-Bendit, do Partido Verde, condenou a decisão de Sarkozy. Este se defendeu: não se pode "boicotar um quarto da humanidade", nem humilhar Pequim, além do mais, ele contaria com a aprovação de toda a União Européia.
"Não se pode dividir o mundo em benevolentes e impiedosos. Mas há homens e mulheres de Estado que tentam encontrar a melhor solução." Para Sarkozy, esta consiste em exigir abertamente o respeito aos dinheiros humanos. Por isso, ele leva na pasta uma lista com nomes de presos políticos chineses, por cuja libertação se empenhará.
Pelo menos esta foi sua promessa. Ao que tudo indica, o presidente francês conseguiu mesmo desagradar gregos e troianos: sua longa hesitação em aceitar o convite feriu os brios do exigente governo chinês, cercando a visita de mal-estar.
Papel de Pequim na paz mundial
De Berlim, o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, declarou que a China deveria se empenhar de forma mais intensa e abrangente pela solução de conflitos internacionais. "O país se tornou uma grandeza autônoma da política internacional e representa um papel decisivo no mapeamento do mundo multipolar."
Hoje em dia, dependemos cada vez mais uns dos outros nas questões internacionais, prosseguiu o político social-democrata em entrevista divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores. Exemplo disso seria a intervenção chinesa no conflito nuclear com a Coréia do Norte, mas também as desavenças em torno do programa atômico iraniano ou a crise em Darfur.
Referindo-se aos direitos humanos e ao Estado de direito, Steinmeier disse estar certo de que Pequim compreende que episódios como as recentes agitações no Tibete e suas causas precisam ser examinados e elaborados, em interesse próprio.
Jornalismo e clima
"Também no tocante à cobertura jornalística dos Jogos, fica claro: a China prejudica em primeira linha a si mesma, se os observadores internacionais não conseguem formar sua própria imagem da situação." No geral, seria necessária uma parceria que permitisse ao mesmo tempo um diálogo aberto e posições críticas, declarou o ministro, que em meados de junho passou vários dias na China.
Em relação à proteção do clima, será igualmente impossível fazer progressos sem a cooperação chinesa. A boa notícia é que há um bom tempo já se difundiu no país a consciência de que preservar o meio ambiente e o clima não é um luxo. Pequim reconhece que crescimento econômico às custas do meio ambiente não só não compensa como agrava os problemas sociais, observou Steinmeier.
Paz teórica
A "paz olímpica" é um conceito que infelizmente permanece teórico, como demonstra a coincidência entre o início dos Jogos e a eclosão do conflito armado na Ossétia do Sul (Cáucaso). Na Grécia antiga, a trégua sagrada (ekecheiria) garantia, durante pelo menos três meses, o transcorrer pacífico das festividades olímpicas e o livre ir-e-vir de atletas e convidados.
Contudo não é esta a primeira vez que o espírito guerreiro se prova mais forte do que o esportivo. Em 1916, e mais tarde em 1940 e 1944, os Jogos Olímpicos tiveram que ser suspensos, em decorrência da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais. E em novembro de 2003, a Assembléia Geral das Nações Unidas apelou inutilmente para um cessar-fogo universal, em respeito aos Jogos de Atenas de 2004.