Posse de Trump divide os Estados Unidos
19 de janeiro de 2017Washington está praticamente pronta para a posse do magnata Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. O palco em frente ao Capitólio, onde o republicano fará seu juramento, já está montado. O trajeto por onde passará o recém-empossado presidente no tradicional desfile de posse do Capitólio até a Casa Branca também está marcado com placas de proibido estacionar e só precisa ainda ser bloqueado.
Cerca de 30 mil policiais, não só da capital, mas de todo o país, já estão preparados para atuar na segurança. A taxa de ocupação dos hotéis também é alta. Sites como Airbnb relatam até mesmo um número recorde de reservas em Washington para hóspedes que, aos centenas de milhares, viajam de todo o país para participar da cerimônia de posse de Trump.
Uma das apoiadoras de Trump é Nina Detrow, de San Diego, na Califórnia. Ela está animada porque nunca teve a chance de participar de uma cerimônia de posse. Ela acha Washington incrível, pois há muitas atrações para serem vistas. Mas nem tudo são flores: "Estou muito decepcionada com alguns amigos que me levam a mal por eu estar aqui para apoiar Trump."
Detrow argumenta que Trump venceu uma eleição democrática e merece uma chance. Afinal, ele será o presidente de todos os americanos, incluindo daqueles que não votaram nele, argumenta. Se ele falhar, estará fora da Casa Branca após quatro anos. Detrow, porém, acredita que Trump será bem-sucedido, até porque ele é muito diferente dos outros políticos. Ele fala de outra maneira e não dá declarações vazias, como os demais, elogia – e é exatamente isso que ela acha bom. Detrow concorda que Trump, às vezes, perde a oportunidade de ficar calado. Mas ela argumenta: "Quem não faz o mesmo?"
Longe da posse de Trump
Exatamente esse modo de falar é um problema para Jane Brown, de Wilmington, na Carolina do Norte. Ela está em Washington para visitar o filho e prefere ignorar a posse de Trump. Por isso considera retornar mais cedo para sua cidade natal. "O presidente eleito não mostra compaixão e decência, que são dois atributos essenciais", afirma Brown. "E se ele não começar a mostrar isso em breve, esse país continuará dividido e vai implodir."
Brown, porém, diz que estaria pronta para dar uma chance ao sucessor de Barack Obama. E acrescenta: "Eu espero que ele me desminta e tenha sucesso". Mas ela diz não acreditar que Trump conseguirá unir de novo o país. Para ela, Trump só se interessa pelo poder, e é por isso que ele queria ser presidente, pois esse é um poder que nem mesmo todo o dinheiro do mundo pode comprar, afirma – é necessário ocupar a Casa Branca.
Brown não está sozinha na sua rejeição a Trump e à posse. Nunca um presidente eleito teve níveis de aprovação tão baixos antes de assumir. E nunca as autoridades receberam tantos pedidos para autorizar manifestações contra uma posse. Além disso, 60 congressistas do Partido Democrata e também vários republicanos cancelaram a participação na cerimônia, muitos deles nos últimos dias, em reação às duras palavras do presidente eleito contra o ícone dos direitos civis John Lewis. Depois de Lewis chamá-lo de presidente ilegítimo, Trump disse que ele faria melhor se cuidasse da sua região na Geórgia, que está "numa situação horrível" e "infestada pelo crime".
A música une
As perspectivas para a cerimônia, portanto, não são as melhores – normalmente, o evento não serve apenas para empossar o novo presidente, mas também para unir a nação dividida após a eleição. Desta vez, porém, as frentes políticas estão tão polarizadas que isso parece impossível. Ainda assim há pessoas em Washington que se alegram por ter um encontro marcado na Casa Branca para dar um presente de despedida a Obama e, ao mesmo tempo, estão felizes por presenciarem a cerimônia de posse de Trump.
Entre elas está Michelle Urzynicok. Ela toca clarinete na banda militar conhecida como The President's Own, que desde 1801 é responsável pela parte musical da cerimônia de posse, não importa se um democrata ou um republicano estiver se mudando para a Casa Branca. "Nós estamos ansiosos", assegura.