Prefeita de Paris anuncia candidatura à presidência
12 de setembro de 2021A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, anunciou neste domingo (12/09) que pretende se candidatar à presidência da França. A candidatura da social-democrata é encarada como uma tentativa de quebrar uma provável polarização no pleito de 2022 entre o centrista Emmanuel Macron e a ultradireitista Marine Le Pen.
"Humildemente decidi ser candidata à presidência da República Francesa", disse a socialista na cidade de Rouen (noroeste da França). Em seu discurso, ela lembrou de suas origens - seus pais são imigrantes espanhóis -,que nasceu na cidade espanhola de San Fernando e se mudou para a França quando tinha 2 anos.
"Estou aqui para vos falar da França. Eu, uma mulher francesa nascida na Espanha, cheguei ao nosso país aos 2 anos e cresci em Lyon, num bairro da classe trabalhadora", disse Hidalgo.
Durante seu discurso de 20 minutos, Hidalgo, de 62 anos, também atacou a presidência de Macron, que, em sua opinião, "dividiu como nunca antes" os franceses, "agravou" problemas sociais e "deu as costas ao meio ambiente".
Apesar de ter sido eleita para um segundo mandato em Paris em meados de 2020, garantindo que não se candidataria à presidência, ela já havia dito na terça-feira que nada a impedia de concorrer.
Sua candidatura soma-se assim à longa lista de candidatos presidenciais de esquerda, ao lado do ultraesquerdista Jean-Luc Mélenchon (do movimento França Insubmissa), do ambientalista Yannick Jadot, do comunista Fabien Roussel e do ex-socialista Arnaud Montebourg, entre outros.
Mas, a sete meses da votação, pesquisas indicam que nenhum deles têm, por enquanto, chances de chegar ao segundo turno. Levantamentos mais recentes indicam apenas que Macron e Marine Le Pen seguem garantindo a passagem para o segundo turno da eleição, com o atual presidente aparecendo como o favorito para vencer o pleito. Por enquanto, Hidalgo aparece com entre 7% e 9% das intenções de voto nas pesquisas, tendo pela frente o desafio de conquistar eleitores em outras regiões da França. Analistas apontaram que o lançamento da candidatura em Rouen é parte do objetivo de romper a imagem limitada de política parisiense.
"Hidalgo sai de Paris", era a manchete deste domingo do jornal Le Journal du Dimanche, sublinhando que "tudo está planejado para adaptar sua imagem às províncias", como o fato de se rodear de uma equipe de campanha composta por prefeitos de outras partes do país.
Hidalgo ainda terá que superar as dificuldades enfrentadas pela sua legenda, o tradicional Partido Socialista, que encolheu consideravelmente nas eleições presidenciais de 2017. À época, o candidato da sigla, Benoît Hamon, recebeu apenas 6,36% dos votos, mesmo com o PS ocupando a presidência da França com François Hollande. A legenda também penou nas eleições legislativas, encolhendo de 280 para 30 cadeiras na Assembleia Nacional.
Com um programa baseado na justiça social e na ecologia, a socialista Hidalgo espera repetir o feito do conservador Jacques Chirac, que em 1995 conseguiu conquistar a presidência após chefiar a prefeitura de Paris.
Carros, Lula e bicicletas
Recentemente, em entrevista ao jornal Le Point, Hidalgo se definiu como "social-democrata, ambientalista, feminista e republicana". Ocupando a prefeitura de Paris desde 2014, ela ganhou destaque internacional por implementar medidas para diminuir a circulação de carros em Paris. Recentemente, a cidade impôs um limite de velocidade de 30 km/h em praticamente todas as vias.
As autoridades também instalaram centenas de quilômetros de faixas para ciclistas nas vias. Além de ampliar as ciclovias, a cidade está impulsionando planos de remover 60 mil das cerca de 140 mil vagas de estacionamento no nível do solo da cidade. As medidas agradaram o eleitorado jovem e a classe média da cidade, mas também provocaram críticas de alguns setores, que apontaram que as restrições são prejudiciais para moradores de classe mais baixas dos subúrbios, que dependem dos automóveis para se deslocar.
Em 2020, sua administração foi multada em 90 mil euros por empregar um número "excessivo" de mulheres em posições de alto escalão, violando regras de paridade de gênero nos cargos. "Estou feliz por anunciar que fomos multados", disse Hidalgo à época.
Assim como outros socialistas franceses, Hidalgo também é considerada próxima do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em março deste ano, ela divulgou nota celebrando a anulação das condenações do petista pelo STF, que efetivamente colocou Lula de volta ao jogo eleitoral. "Que boa notícia! Ontem se fez justiça", escreveu Hidalgo no Twitter.
Em março de 2020, ela também entregou pessoalmente a Lula o título de cidadão honorário de Paris. A honraria na realidade havia sido concedida em outubro de 2019, quando Lula ainda estava preso. Em 2019, Hidalgo também apoiou a instalação de um jardim na capital francesa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco.
jps (AFP, ots)