Prefeita de Paris é candidata socialista à presidência
15 de outubro de 2021A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, foi escolhida pelos militantes do Partido Socialista (PS) candidata à eleição presidencial de 2022 na França – que nunca teve uma presidente mulher.
Ela obteve mais de 72% dos votos na eleição interna da legenda nesta quinta-feira (14/10), derrotando seu único oponente, o ex-ministro da Agricultura e atual prefeito de Le Mans, Stéphane Le Foll.
Hidalgo, de 62 anos, conta com amplo apoio dentro do PS, mas terá que superar as dificuldades enfrentadas por seu partido, que encolheu consideravelmente nas eleições presidenciais de 2017.
À época, o candidato da sigla, Benoît Hamon, recebeu apenas 6,36% dos votos, mesmo com o PS ocupando a presidência da França com François Hollande. A legenda também penou nas eleições legislativas, encolhendo de 280 para 30 cadeiras na Assembleia Nacional.
Com um programa baseado na justiça social e no ambientalismo, Hidalgo espera repetir o feito do conservador Jacques Chirac, que em 1995 conseguiu conquistar a presidência após chefiar a prefeitura de Paris.
Ambientalista e próxima de Lula
Natural da Espanha, Hidalgo emigrou para a França com os pais quando tinha 2 anos e obteve a cidadania francesa aos 14 anos.
Recentemente, em entrevista ao jornal Le Point, Hidalgo se definiu como "social-democrata, ambientalista, feminista e republicana". Ocupando a prefeitura de Paris desde 2014, ela ganhou destaque internacional por implementar medidas para diminuir a circulação de carros. Recentemente, a cidade impôs um limite de velocidade de 30 km/h em praticamente todas as vias.
As autoridades também instalaram centenas de quilômetros de faixas para ciclistas. Além de ampliar as ciclovias, a cidade está impulsionando planos de remover 60 mil das cerca de 140 mil vagas de estacionamento no nível do solo da cidade.
As medidas agradaram o eleitorado jovem e a classe média da cidade, mas também provocaram críticas de alguns setores, que apontaram que as restrições são prejudiciais para moradores de classes mais baixas dos subúrbios, que dependem dos automóveis para se deslocar.
Em 2020, sua administração foi multada em 90 mil euros por empregar um número "excessivo" de mulheres em posições de alto escalão, violando regras de paridade de gênero nos cargos. "Estou feliz por anunciar que fomos multados", disse Hidalgo à época.
Assim como outros socialistas franceses, Hidalgo também é considerada próxima do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em março deste ano, ela divulgou nota celebrando a anulação das condenações do petista pelo STF, o que efetivamente colocou Lula de volta no jogo eleitoral. "Que boa notícia! Ontem se fez justiça", escreveu Hidalgo no Twitter.
Em março de 2020, ela também entregou pessoalmente a Lula o título de cidadão honorário de Paris. A honraria na realidade havia sido concedida em outubro de 2019, quando Lula ainda estava preso.
Em 2019, Hidalgo também apoiou a instalação de um jardim na capital francesa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco.
Campanha promete ser acirrada
A disputa pela presidência da França, que inicialmente parecia se encaminhar para a repetição do duelo entre o presidente Emmanuel Macron e a extremista de direita Marine Le Pen, está cada vez mais acirrada e imprevisível.
A seis meses da data da eleição, as pesquisas dão como certa a presença de Macron no segundo turno. Ele teria em torno de 25% dos votos no primeiro turno. Mas a ida de Le Pen para o segundo turno – o que, segundo muitos analistas, garantiria uma nova vitória para Macron – não é mais dada como certa.
Nas últimas semanas, a candidatura de Le Pen tem sido eclipsada pelo surgimento de um possível novo candidato da extrema direita, o jornalista Eric Zemmour. Ele não é oficialmente candidato, mas pesquisas eleitorais o colocam à frente de Le Pen, num patamar entre 15% e 20%.
A esquerda está dividida entre o ultraesquerdista Jean-Luc Mélenchon (do movimento França Insubmissa), o ambientalista Yannick Jadot, dos verdes franceses, o comunista Fabien Roussel e o ex-socialista Arnaud Montebourg, entre outros. Pelas pesquisas atuais, nenhum deles chegaria ao segundo turno.
A direita conservadora não está nem perto de ter definido um candidato. A disputa interna se dá entre o ex-ministro do Trabalho Xavier Bertrand, a presidente da região de Paris, Valerie Pecresse, e o ex-negociador do Brexit Michel Barnier.
Nesse cenário fragmentado, analistas consideram que um candidato com 15% dos votos pode chegar ao segundo turno.
as/ek (Lusa, AFP, Efe)