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Inovação empoeirada

20 de novembro de 2011

Após o choque do WikiLeaks, a ascensão do Partido Pirata e das redes sociais, governo conservador alemão reage, colocando Merkel na berlinda digital. Uma inovação empoeirada, sentenciam especialistas em internet.

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Merkel 'inova' no YouTube
Merkel 'inova' no YouTubeFoto: youtube/Bundesregierung

Poucas vezes um comunicado da Chancelaria Federal da Alemanha à imprensa conteve tantas referências aos "cidadãos". Através da internet, 1.790 destes enviaram suas dúvidas à premiê Angela Merkel, a qual responde às dez perguntas mais populares no portal YouTube, durante um período de três dias. Trata-se de um esforço da política democrata-cristã para entabular um "diálogo" com o povo alemão.

No entanto, as questões não correspondem necessariamente às prioridades do governo federal. Por exemplo, perguntou-se por que os parlamentares decidem seus próprios salários, e por que os eleitores não têm a possibilidade de arguir diretamente seus representantes, nem durante uma única hora por mês. Nenhuma das dez perguntas escolhidas diz respeito à crise de endividamento na Eurozona.

Arremedo de diálogo digital

Responder perguntas através de um portal de vídeo não é especialmente inovador, sentencia Christoph Bieber, especialista em internet do Centro de Mídia e Interatividade da Universidade de Giessen. "Em 2011, não há por que aplaudir um político por esse tipo de estratégia", comentou à Deutsche Welle.

Governo federal mantém canal de vídeo
Governo federal mantém canal de vídeoFoto: youtube.com

A proposta do governo alemão não é realmente um "diálogo vivo e controverso", acrescentou, já que as questões são pré-determinadas e a entrevista com Merkel é gravada de antemão. Assim, não é possível uma conexão real com os cidadãos.

A estratégia em vídeo também levanta ressalvas de outro tipo, prossegue Bieber. Por exemplo: será que o governo federal precisa responder a questões sobre a legalização da maconha – numero um na lista das dez mais populares –, quando a existência do euro está em xeque?

Segundo o perito em redes sociais, teria feito mais sentido Merkel se expor via internet à curiosidade dos eleitores, em seu papel de líder da União Democrata Cristã (CDU), durante uma convenção recente de seu partido.

O blogueiro Markus Beckedahl representa o Partido Verde na comissão do parlamento alemão para internet e sociedade digital. Sua crítica é direta: no caso de Merkel, o diálogo com os cidadãos é apenas simulado, já que não há oportunidade de fazer réplicas ou novas perguntas. "A internet oferece possibilidades muito melhores", declarou Beckedahl à agência de notícias DPA. "Em pleno ano de 2011, isso simplesmente é uma coisa velha."

Choque do século 21

Metade dos polítcos alemães nem responde a e-mail
Metade dos polítcos alemães nem responde a e-mailFoto: picture alliance/dpa

Uma das razões para a ofensiva de Berlim no YouTube seria "o choque que os partidos estabelecidos sofreram em relação à internet", analisa Bieber. O vazamento de informações secretas pelo WikiLeaks, a ascensão do Partido Pirata na Alemanha e o clamor público contra o software usado pelo governo para monitorar os computadores de supostos criminosos: ocorrências como estas serviram como toque de despertar para as autoridades do país.

Contudo, muitos políticos alemães ainda estão bem atrasados na era da comunicação digital. Numa enquete recente, metade dos 750 políticos consultados revelou que não responde a e-mails. E 45% não estão registrados em redes sociais como Facebook e Twitter.

Merkel, no entanto, tem um perfil no Facebook, e seu porta-voz, Steffen Seibert, usa o Twitter. O governo federal alemão também possui um canal na plataforma YouTube, contando com cerca de 2.600 assinantes.

Abertura compensa

O governo norte-americano tem sido pioneiro no uso da rede como meio de comunicação política. Em abril de 2011, o presidente Barack Obama respondeu a perguntas de todo o mundo numa entrevista conduzida pelo fundador do Facebook, Mark Zuckerberg.

Christoph Bieber observa que a falta de experiência com a comunicação online, o que marca tantos políticos, não representa necessariamente um problema. Ele tampouco acredita que os políticos que, durantes anos, evitaram a internet e agora aparecem subitamente no Facebook estejam prejudicando a própria credibilidade.

Pelo contrário: quem aprende e tenta, irá lucrar. Há anos a internet se torna, cada vez mais, parte da vida cotidiana, e é tempo de que seja vista como um campo normal de engajamento político, exortou o especialista da Universidade de Giessen.

Autoria: Nicole Scherschun (av)
Revisão: Francis França