Polêmica
17 de dezembro de 2011Um dia após "lamentar" ter fornecido informações incompletas a respeito de um empréstimo particular para financiamento de uma casa, uma reportagem publicada pelo semanário Der Spiegel levanta novas questões envolvendo o nome do presidente alemão, Christian Wulff. A revista publicou na sexta-feira (16/12) que o empresário Egon Geerkens, amigo de longa data de Wulff, foi, de fato, o mediador de um empréstimo de mais de meio milhão de euros ao presidente.
Segundo a reportagem, Geerkens teria negociado pessoalmente com Wulff – que na época, em 2008, ainda era governador da Baixa Saxônia. O empréstimo teria sido pago por meio da conta de Edith Geerkens, esposa do empresário. Geerkens, contudo, detinha uma procuração que lhe dava plenos poderes para gerenciamento da tal conta.
Quem mediou o empréstimo?
Em 2010, o presidente não declarou oficialmente este empréstimo para financiamento imobiliário perante a Assembleia Legislativa, como deveria ter feito. Segundo ele, isso aconteceu porque a soma havia sido concedida pela esposa de Geerkens. Wulff reconheceu que a situação agora "pode dar uma impressão errada".
Na última quinta-feira (15/12), o presidente lamentou publicamente a omissão dos fatos relacionados ao caso e suas declarações incompletas de 2010. Wulff não admite, contudo, que este tenha sido um comportamento errôneo. Ele defende que informou corretamente à Assembleia Legislativa não ter relações comerciais com Egon Geerkens. Wulff e o empresário rejeitaram as novas acusações através de seus advogados.
Segundo o semanário Der Spiegel, Geerkens teria confirmado, todavia, ter tratado diretamente com Wulff a respeito dos detalhes do empréstimo. Os dois teriam acertado que evitariam a menção de seus nomes juntos em qualquer contexto. "Nós dois somos muito conhecidos em Osnabrück. Por isso não queria que qualquer aprendiz de banco visse que estava fluindo tanto dinheiro da minha conta para a de Wulff", afirmou o empresário, de acordo com a revista alemã.
Os advogados de Wulff afirmam que o dinheiro do empréstimo veio, de fato, da conta de Edith Geerkens. E o banco Sparkasse, de Osnabrück, também confirmou a transferência do dinheiro. Os documentos deverão ser expostos nesta segunda-feira (19/12) no escritório dos advogados de Wulff, em Berlim.
Críticas acirradas
Caso as novas acusações sejam confirmadas, a confiabilidade de Wulff como presidente poderá ser completamente abalada, afirma Jerzy Montag, especialista jurídico do Partido Verde. Neste caso, Wulff não teria mesmo dito a verdade perante a Assembleia Legislativa da Baixa Saxônia, conclui Montag.
O líder da bancada dos Verdes neste estado alemão, Stefan Wenzel, mostrou-se irritado com as novas informações. "Temos a impressão de que não responderam às nossas perguntas dizendo a verdade", disse ele à emissora de rádio NDR, referindo-se às declarações de Wulff em 2010.
"O importante não é de qual conta o dinheiro saiu, mas sim quem era o gestor da mesma, quem era de fato o dono deste dinheiro e quem conduziu esta relação comercial. Isso está claramente regulado na lei de controle de lavagem de dinheiro", afirma Wenzel.
No momento, a liderança do Partido Social Democrata (SPD) aumenta a pressão sobre o democrata-cristão Wulff. "Se o presidente não quiser macular o cargo mais alto do Estado, ele precisa agora, enfim, dizer toda a verdade", afirmou Andrea Nahles, secretária-geral do SPD, ao jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung. Segundo ela, "lamentar não adianta quando tais acusações são lançadas pela mídia e continuam pairando no ar".
Autora: Nicole Scherschun (sv)
Revisão: Mariana Santos