Presidente da Alemanha na ONU: "Podem confiar em nós"
24 de setembro de 2021O presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier. falou à Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas nesta sexta-feira (24/09). É a primeira vez em quase quatro décadas que um chefe de Estado alemão fala na reunião, que costuma contar com a participação dos ocupantes da chancelaria federal.
O político social-democrata assegurou os presentes que, num mundo em mutação, seu país continuaria a honrar suas responsabilidades internacionais. "No preâmbulo à Constituição alemã, a afirmação é breve e precisa: servir à paz do mundo como um membro igualitário de uma Europa unida."
"Essa afirmação, essa obrigação se aplica a todo governo alemão. E é por isso que foi importante para mim vir a Nova York hoje, como presidente federal, e comunicar essa mensagem da Alemanha à comunidade internacional: nossos parceiros podem confiar em nós, e nossos concorrentes devem continuar contando conosco."
"Nós, alemães, não esquecemos"
Referindo-se às eleições gerais de domingo, em que se decidirá a sucessão da chanceler federal Angela Merkel, após 16 anos à frente do governo, Steinmeier assegurou que o resultado não alterará fundamentalmente a política externa do país, graças às lições aprendidas durante o século 20.
"Mesmo após essa eleição, a Alemanha permanecerá um país que conhece e aceita suas responsabilidades internacionais. [...] Nós, alemães, não esquecemos: o recomeço político e econômico após duas guerras mundiais; o crescimento da comunidade internacional depois de todo o infortúnio que emanou do meu país; e por fim a reunificação pacífica – esse feliz trajeto alemão só foi possível com o apoio dos nossos vizinhos e parceiros."
O mandatário criticou o retorno do Talibã ao poder no Afeganistão como uma falha política por parte do Ocidente. No entanto, acrescentou, é preciso aprender as lições, e as nações democráticas não podem desistir de fazer o mundo um lugar melhor.
"Estou convencido de que resignação seria a lição errada. A meu ver, este momento de desilusão geopolítica significa três coisas para nossa política externa: devemos nos tornar mais honestos, mais espertos, mais também mais fortes."
Não há lugar para schadenfreude
Ainda em relação ao Afeganistão, o social-democrata alemão ressalvou: "Nossa falha não deve ser razão para outros se alegrarem. Muito conscientemente, vou usar essa palavra alemã conhecida em muitos idiomas: schadenfreude, uma mentalidade de que o dano alheio é o ganho próprio, não faz justiça à realidade deste mundo interconectado."
"Instabilidade regional, erosão da soberania estatal, fluxos de refugiados e migrantes, extremismo religioso e terrorismo, e novas formas de conflito – híbrido, digital, ambiental e de recursos: tais desdobramentos ameaçam a nós todos, e todos nós temos que encará-los.
Segundo Steinmeier, a Alemanha e a Europa precisarão assumir um papel no enfrentamento dos desafios que confrontam o mundo, inclusive a pandemia de covid-19 e a mudança climática. "A responsabilidade das grandes potências, incluindo a nós, europeus, pesa ainda mais quando pensamos nos desafios globais, nas grandes questões diante da humanidade."
Necessidade de solidariedade global
O presidente alemão aludiu também à desigualdade no enfrentamento da crise sanitária global: "Nunca, antes, vivenciamos tanto nossa dependência mútua, nossa interdependência, de forma tão vital quanto nos quase dois anos da pandemia de covid-19. E no entanto, embora saibamos que essa pandemia não acabará até que tenha acabado em todas as partes, nosso desempenho na distribuição global das vacinas é, no melhor dos casos, misto."
Considerando essa interdependência, a cúpula do clima COP 26, marcada para novembro, em Glasgow, Escócia, terá que fazer progressos, enfocando os desastres naturais que incluíram "incêndios apocalípticos e temperaturas escaldantes", assim como inundações catastróficas no oeste da Alemanha.
"Diante desse pano de fundo dramático, a recaída em egoísmos nacionais contra que estou alertando é mais do que apenas um passo atrás no passado: é um roubo do nosso futuro comum! Ela prejudica as próprias instituições e instrumentos de que precisamos agora. Precisamos de resoluções conjuntas fortes em Glasgow, agora!"
Antes, o único presidente alemão a ter discursado diante o órgão das Nações Unidas foi Karl Carstens em 1983. Steinmeier, que ocupa a presidência desde março de 2017, já se dirigira antes à Assembleia-Geral na qualidade de ministro do Exterior da Alemanha.