Presidente da Deutsche Telekom renuncia ante as pressões
16 de julho de 2002Após semanas de hesitação e boatos, chegou a hora da verdade para o presidente da Deutsche Telekom, Ron Sommer, que anunciou sua renúncia, nesta terça-feira (16), na tão esperada reunião do Conselho Administrativo da gigante alemã das telecomunicações, em Bonn. "Quando um presidente não conta mais com a plena confiança do Conselho Administrativo, a renúncia é o único passo", justificou Sommer sua decisão.
Do lado de fora da sede da empresa, funcionários fizeram uma manifestação a favor do seu chefe e uma legião de fotógrafos e equipes de tevê esperava ansiosamente por uma definição.
Como insegurança no leme de uma empresa é o que mais temem os mercados financeiros, a ação da Deutsche Telekom teve mais uma desvalorização brutal de 15% na segunda-feira, na Bolsa de Frankfurt. Após o anúncio da renúncia, a ação reagiu com um aumento de até 10% na cotação, mas voltou a cair para a marca de mais 6,12%.
Executivo bem-sucedido e com uma carreira brilhante, Sommer caiu na mira principalmente devido à desvalorização das ações da Telekom, considerada a maior queima de capital da história da Alemanha. Em sua expansão, ela acumulou dívidas de mais de 60 bilhões de euros, inclusive devido à compra de empresas acima de seu valor, segundo os críticos.
Schröder resolveu sacrificar Sommer
O governo alemão, que até há pouco vinha dando força a Sommer, mudou de opinião, passando a exigir sua cabeça. A União ainda detém, direta e indiretamente, 43% das ações da ex-monopolista. Uma alta porcentagem, que inclusive causou dificuldades à Deutsche Telekom nos Estados Unidos, por ocasião da compra da operadora norte-americana de telefonia VoiceStream.
Segundo o empresário Hans-Olaf Henkel, ex-presidente da Confederação das Indústrias Alemãs (BDI), o chanceler federal alemão, Gerhard Scrhöder, teria reagido à provocação do seu adversário nas eleições parlamentares de setembro, Edmund Stoiber, da União Social-Cristã, durante um recente debate. Stoiber cobrou de Schröder uma decisão sobre a Telekom. Em clima de campanha, Schröder lembrou que acionistas também votam e tomou as providências.
Ron Sommer deu a impressão de que lutaria pela presidência e até conseguiu arregimentar apoio em vários setores. Com isso, se no fim de semana sua substituição era tida como certa, nesta terça-feira ninguém ousava opinar o que resultaria da reunião.
Solução provisória -
Por um período de seis meses, o cargo deixado vago por Sommer será preenchido por Helmut Sihler, ex-presidente do Conselho Administrativo. O diretor técnico da empresa, Gerd Tenzer, cujo nome estava sendo cogitado nos bastidores, será o vice-presidente. Sua designação, que chegou a ser dada como certa, enfrentou muita resistência, tanto na diretoria como no conselho administrativo. O argumento era de que a empresa, por suas dívidas, mais precisaria de um especialista em finanças e saneamento do que alguém com formação técnica.Por outro lado, também houve muitas críticas à atuação do presidente do conselho administrativo, Hans-Dietrich Winkhaus, que teria preparado mal a mudança na presidência. Winkhaus chegou a ser considerado um possível bode expiatório, nas inúmeras especulações que circularam nos últimos dias. Ele teria admitido, sem necessidade, a intromissão do chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, e do ministro das Finanças, Hans Eichel, escreve, por exemplo, o diário econômico Handelsblatt.
Os mercados financeiros, onde Ron Sommer goza de boa reputação, certamente lamentarão a saída do executivo nascido em Israel, de mãe russa e pai alemão, que tocou a privatização da empresa, transformando-a no gigante que ela é. Sua renúncia fora exigida pela Associação de Proteção ao Pequeno Acionista. A ação da Deutsche Telekom foi uma das primeiras a difundir em larga escala os títulos de valor na Alemanha. Com a crise geral das telecomunicações na Europa e no mundo - o que exime, em parte, Ron Sommer do débacle da Telekom - três milhões de alemães perderam fortunas.