Presidente da Fifa insinua que Alemanha comprou a Copa de 2006
16 de julho de 2012O futebol alemão e o presidente da Fifa, Joseph Blatter, estão em pé de guerra. Poucos dias depois de importantes dirigentes do futebol alemão terem pedido a renúncia de Blatter, acusando-o de conivência no escândalo dos pagamentos de propinas aos dirigentes brasileiros Ricardo Teixeira e João Havelange, o suíço contra-atacou e insinuou que a Alemanha teria comprado votos na eleição que escolheu o país como sede da Copa do Mundo de 2006.
"Recordo-me da escolha da sede da Copa de 2006, quando no último minuto alguém deixou a sala. E, assim, a votação acabou em 10 a 9 para a Alemanha em vez de 10 a 10", afirmou Blatter em entrevista ao jornal suíço SonntagsBlick, respondendo uma pergunta sobre as acusações de irregularidades na escolha das sedes dos mundiais da Rússia, em 2018, e do Qatar, em 2022. Quando o repórter perguntou se ele supõe que a Copa de 2006 na Alemanha tenha sido comprada, o presidente da Fifa disse: "Não, não suponho nada. Eu constato".
A reação não demorou. "Não posso entender as declarações e insinuações de Sepp Blatter. Para começar, ele se engana já no resultado da votação. Ganhamos por 12 a 11 e não por 10 a 9", rebateu Franz Beckenbauer, que na época era o chefe do comitê organizador do evento. "Decisivo foi que os oito países europeus votaram, fechados, a nosso favor", afirmou.
A Alemanha saiu vencedora da votação com 12 votos contra 11, como afirma Beckenbauer. O neozelandês Charles Dempsey de fato deixou a sala de votação, em circunstâncias até hoje não esclarecidas, possibilitando a vitória alemã. Ao lado dos oito europeus, quatro asiáticos votaram a favor da Alemanha. Dempsey morreu em 2008.
"As informações de Blatter são falsas. Ganhamos por 12 a 11 e não por 10 a 9 e com a abstenção de Charles Dempsey perdemos o voto dele. Dempsey havia assegurado à DFB [Federação Alemã de Futebol] que votaria na Inglaterra e, se esta caísse fora, na Alemanha", declarou o vice-presidente do comitê organizador da Copa de 2006, Fedor Radmann, ao jornal alemão Tagesspiegel.
A Alemanha concorria com a África do Sul. Se houvesse empate, caberia a Blatter decidir, e ele provavelmente optaria pelos africanos, já que havia apoiado essa candidatura. A África do Sul acabou sediando a Copa de 2010.
Pedido de renúncia
A DFB desmentiu imediatamente as insinuações e acusou Blatter de tentar desviar a atenção das irregularidades dentro da entidade que dirige. "Estas insinuações nebulosas são completamente infundadas e parecem ter, principalmente, a finalidade de desviar as atenções de procedimentos recentemente noticiados e documentados", disse o secretário-geral da entidade, Helmut Sandrock.
Na semana passada, o presidente da Liga Alemã de Futebol, Reinhard Rauball, chegou a ligar para Blatter para pedir que ele renuncie devido às recentes revelações de pagamentos de propinas a funcionários da Fifa. O presidente da DFB, Wolfgang Niersbach, declarou no sábado ter ficado chocado com as notícias.
Documentos liberados pela Justiça suíça na quarta-feira passada mostram que Havelange, ex-presidente da Fifa, e Teixeira, ex-genro de Havelange e ex-presidente da CBF, receberam na década de 90 propinas milionárias da empresa de marketing ISL, que era parceira da Fifa e negociava os direitos de transmissão da Copa do Mundo. Na época, Blatter era secretário-geral da Fifa.
O suíço Guido Tognoni, por muitos anos diretor de mídia na Fifa, acusou, numa entrevista à TV alemã, o presidente da Fifa de estar sempre ciente das negociatas realizadas nos bastidores do órgão. "Sepp Blatter sempre esteve envolvido. Se Sepp Blatter agora vem fazer acusações contra os alemães, então estas também o atingem, pois ele poderia ter parado tudo se tivesse havido alguma irregularidade", afirmou. "Vir acusar só agora acho uma coisa muito mesquinha", completou Tognoni.
Havelange na mira de Blatter
Na mesma entrevista em que atacou o futebol alemão, Blatter disse, ainda, ser a favor de que Havelange seja destituído da presidência honorária, à qual foi nomeado quando deixou o comando do órgão. "Solicitarei ao comitê executivo (da Fifa) que o tema seja tratado no próximo congresso", afirmou. "Ele tem que sair. Ele não pode continuar presidente de honra após o ocorrido", acrescentou.
A próxima reunião do comitê executivo da Fifa será nesta terça-feira na sede da entidade, em Zurique. O encontro, que deveria marcar o início de um período de maior transparência no órgão máximo do futebol mundial, com a aprovação de um código de ética, deverá ser ofuscado pela pressão crescente sobre Blatter. "A reunião do comitê executivo foi convocada para decidir sobre o processo de reformas. Mas esse encontro será totalmente ofuscado pelo que foi revelado recentemente", constatou Niersbach.
As últimas revelações comprovam, mais uma vez, a necessidade de que ocorra uma renovação dentro da entidade que administra o futebol mundial, diz o ex-presidente da DFB e membro do comitê executivo da Fifa, Theo Zwanziger. "As informações vindas a público recentemente comprovam de forma infelizmente negativa, mas também expressiva, como o atual processo de reforma da Fifa é essencial, e como é importante a criação de uma comissão de ética totalmente independente e de um regulamento ético", comentou Zwanziger.
MD/dpa/sid
Revisão: Alexandre Schossler