Presidente do Bundestag criticado por bronca em tuiteiros
25 de novembro de 2017Os parlamentares alemães não são muito diferentes dos de outras nacionalidades: é claro que nem todos ficam mirando bem-comportados a tribuna do salão plenário enquanto alguém discursa, mesmo quando assuntos sérios estão sendo tratados.
A cena se repete a cada encontro no Bundestag em Berlim: o presidente do órgão, Wolfgang Schäuble, entra, os deputados se levantam. Ele abre a sessão e, mesmo antes de terem se sentado novamente, alguns já puxam o celular do bolso do paletó e começam a teclar.
Os debates parlamentares são um momento em que cresce sensivelmente o volume de posts no Twitter, Facebook e demais contas de redes sociais dos representantes eleitos. O procedimento é independente de lealdades partidárias: muitas vezes veem-se parlamentares que sequer conseguem aplaudir os próprios colegas de bancada, de tão ocupados com a comunicação virtual.
Um olho no salão, o outro no celular
Antigamente ser deputada ou deputado significava esperar pacientemente a vez de ocupar a tribuna. No meio tempo, escutava-se com atenção os pronunciamentos dos demais – ou torcia-se estoicamente para que acabassem logo. No máximo, um ou outro representante popular ou membro do governo talvez aproveitasse o tempo vago para despachar discretamente sua pilhazinha de petições.
Hoje em dia, porém, os legisladores estão sempre ocupados: a comunidade infonáutica se alimenta incessantemente de seus comentários sobre o que ocorre no Bundestag, todos têm uma opinião a dar, em tempo real. E há quem aproveite a oportunidade para alfinetar, em imagem e texto, os colegas supostamente preguiçosos.
Nem todo o mundo acha isso normal. O presidente da câmara baixa do parlamento, Schäuble, por exemplo, se irrita com tal comportamento. Relativamente novo no cargo, com Berlim em momento difícil, atravessando dificuldades na constituição do governo e ameaçado de novas eleições, ele parece achar que os deputados não encaram a própria função com a atenção e seriedade necessárias.
Depois da bronca, a shitstorm
Em carta recém-divulgada pela emissora Deutschlandfunk o político da União Democrata Cristã (CDU) repreendeu seus subordinados: "A utilização de dispositivos para fotografar, tuitar ou difundir notícias sobre os procedimentos no plenário é inapropriada às negociações do Bundestag e, portanto, indesejada." E exigiu maior moderação no uso de telefones móveis e laptops.
O que se seguiu nas redes sociais era previsível: uma onda de indignação – ou, no jargão da internet, uma shitstorm. Desde a suposta "proibição do Twitter", Wolfgang Schäuble vem sentindo na pele quão impiedosa é a internet: toda foto em que ele esteja telefonando ou olhando para um monitor entrou novamente em circulação. E, vejam só, em seus tempos de ministro das Finanças o homem até ficava jogando sudoku na bancada do governo. Ah-ha!
Malevolência à parte, houve quem tentasse dar um conselho bem intencionado ao veterano conservador. Uma das usuárias mais ativas das mídias sociais nas sessões parlamentares, Dorothee Bär, da União Social Cristã (CSU), explicou numa carta a Schäuble que, utilizadas devidamente, as redes sociais são "a contraparte midiática à transparência da cúpula de vidro do Reichstag [edifício-sede do Parlamento], como sinal e meio de transparência".
Outros parlamentares do Bundestag, porém, condenaram sem misericórdia a iniciativa do líder parlamentar: "Espalhar isso foi uma besteira, como se não tivesse coisa melhor para fazer", comentou à DW Klaus Ernst, vice-presidente da bancada verde. "É para marcar e apagar!"
"Pelourinho na internet"
A cada legislatura, os deputados alemães definem um regulamento interno para nortear seu próprio trabalho. Deste não consta nenhuma restrição ao uso de celulares, tablets ou computadores. No entanto vigora também um acerto interpartidário sobre o uso de aparelhos eletrônicos, no qual se declara "indesejado" tanto o emprego de dispositivos para fotografar quanto a colocação sobre as mesas de laptops ou tablets, durante as sessões.
Uma vez que Twitter, Facebook e similares sequer são abordados nesse acordo, Schäuble não teria como proibir os tuiteiros inveterados, mesmo que quisesse. Ainda assim, a deputada Manuela Rottmann considera "perfeitamente apropriado que o presidente do Bundestag chame a atenção para as regras".
A política do Partido Verde, que acaba de entrar para o parlamento e se abstém de tuitar durante as sessões, observou que para muitos colegas parece ser importante documentar, para os constituintes, que eles estão realmente no local, fazendo seu trabalho. "Mas é claro que não é bonito alguns usarem isso como 'pelourinho na internet', ao fotografar outros deputados em situações desfavoráveis."
Rottmann também defende que se pratique moderação com os tuítes e posts a partir do Bundestag. "Talvez seja uma chance para escutar ou para se informar mais intensamente, em vez de investir todos os recursos nesse mundo paralelo."
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