Promessa de saída
8 de outubro de 2011Há oito meses enfrentando protestos que pedem sua saída do poder, o presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, anunciou neste sábado (08/10) que está pronto para deixar o cargo dentro de alguns dias.
"Eu não quero o poder e vou desistir dele nos próximos dias", afirmou o líder iemenita em um discurso transmitido pela televisão, durante o qual mandou como recado para seus adversários que "não vai deixá-los destruir o país". Saleh, no entanto, não detalhou como ou para quem passaria o cargo.
Esta não foi a primeira vez que o presidente iemenita falou em deixar o poder, por isso seus opositores questionam se desta vez realmente ele tem a intenção de sair.
Saleh, 69 anos – 33 deles à frente do governo do Iêmen – recusou-se a deixar a presidência sob condições estabelecidas em um plano de transição elaborado pelos países árabes vizinhos.
Em junho passado, Saleh ficou gravemente ferido após a explosão de uma bomba no palácio presidencial e recebeu tratamento na Arábia Saudita. Durante sua ausência, mediadores e grupos da oposição tentaram convencê-lo a ficar longe do país e a entregar o poder. Mas ele voltou ao Iêmen no mês passado.
Oposição descrente
Em uma das primeiras reações à declaração do presidente do Iêmen, a ganhadora do Prêmio Nobel da Paz deste ano, a ativista Tawakkul Karman, disse que a afirmação de Saleh não é confiável e que os protestos devem continuar.
"Não acreditamos neste homem e, se ele quiser sair, tudo bem, isso cabe a ele. Ele tem que deixar o poder e entregá-lo para os revolucionários, para as regras da revolução", afirmou Karman à emissora Al-Jazeera. "Vamos continuar nossa revolução pacífica".
Mohammed al-Sabri, um porta-voz da oposição, acredita que o discurso de Saleh tem como objetivo ganhar manchetes em jornais dias antes do encontro do Conselho de Segurança da ONU, marcado para a próxima terça-feira (11/10), que vai discutir o fracasso dos esforços para tentar convencê-lo a assinar o acordo de transferência de poder. "Se ele estivesse falando sério e se estivesse convencido de que as pessoas não o querem mais, ele teria saído hoje, e não deixaria para fazer isso amanhã", acredita al-Sabri.
O presidente tem resistido à pressão doméstica e internacional para deixar o cargo, insistindo que qualquer mudança deve vir por meio das urnas. Saleh também se recusou a assinar acordo proposto pelo Conselho de Cooperação do Golfo, pelo qual ele entregaria a presidência a seu vice, Abdrabuh Mansur Hadi em troca de imunidade.
Desde janeiro, manifestantes contrários ao regime no Iêmen ocupam praças das maiores cidades e realizam protestos. Eles recebem o apoio de partidos da oposição. Saleh acusa alguns desses partidos de formarem milícias armadas.
Eles também recebem o apoio do general desertor Ali Mohsen al-Ahmar, que vem dando proteção aos manifestantes na chamada "Praça da Mudança", em Sana.
MS/afp/ap
Revisão: Carlos Albuquerque