Presidente e rival acertam divisão de poder no Afeganistão
17 de maio de 2020O presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, e seu adversário nas disputadas eleições presidenciais, Abdullah Abdullah, assinaram neste domingo (17/05) um acordo de compartilhamento de poder, encerrando vários meses de instabilidade política no país do Oriente Médio.
"O acordo político entre o presidente Ghani e o doutor Abdullah acaba de ser assinado. Abdullah vai liderar a Alta Comissão de Reconciliação Nacional, e os membros da sua equipe serão incluídos no gabinete do governo", afirmou o porta-voz do presidente afegão, Sediq Sediqqi, no Twitter.
A comissão que Abdullah chefiará será responsável pelas negociações de paz com o Talibã, que busca pôr um ponto final em duas décadas de guerra. O conselho terá cinco representantes de cada um dos líderes. Ghani, por sua vez, continuará liderando o país como presidente.
O porta-voz de Abdullah Omed Maisam, citado pela agência de notícias alemã dpa, afirmou que o médico de 59 anos deverá ter uma participação de 50% no governo, considerando ministérios, diretorias independentes e representantes de províncias.
Não ficou claro ainda quais posições ministeriais caberão à equipe de Abdullah. Durante as negociações do acordo, ele teria pressionado pelo controle de pastas importantes, como as de Finanças e Relações Exteriores.
"Uma equipe técnica trabalhará na implementação do acordo, e detalhes serão compartilhados mais tarde", disse o porta-voz de Abdullah.
O pacto de divisão de poder foi saudado por autoridades internacionais, como o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, que apelou a favor da continuação dos esforços para acabar com a violência no Afeganistão.
"O secretário Pompeo lamenta o tempo perdido durante o impasse político", disse a porta-voz Morgan Ortagus em comunicado. "Ele reiterou que a prioridade para os Estados Unidos continua sendo um acordo político para acabar com o conflito e saudou o comprometimento dos dois líderes em agir imediatamente em apoio à pronta entrada em negociações intra-afegãs."
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, também exaltou o acordo. "Saúdo a decisão tomada pelos dirigentes políticos afegãos de resolverem as suas diferenças e formarem um governo inclusivo", afirmou Stoltenberg.
Tanto Ghani como Abdullah reivindicaram vitória nas controversas eleições presidenciais de setembro passado, marcadas por acusações de fraude e manipulação. Ghani foi declarado o vencedor oficial, mas o resultado foi rejeitado por Abdullah, que anunciou um governo paralelo. Em março, ambos realizaram cerimônias de posse separadas dentro do palácio presidencial em Cabul.
O impasse político levou os Estados Unidos a cortarem 1 bilhões de dólares em ajuda ao Afeganistão. Não ficou claro se esse financiamento será retomado após o acordo deste domingo.
A crise também despertou temores de um fracasso do processo de paz no Afeganistão, depois do histórico acordo de 29 de fevereiro com os Estados Unidos e os talibãs, que contempla a retirada de tropas estrangeiras do país em 14 meses.
O início das conversas entre o governo em Cabul e os insurgentes está sujeito à libertação de cerca de 5 mil prisioneiros talibãs e de mil membros das forças afegãs em prisões dos talibãs, segundo o acordo de Doha.
O controverso processo de troca de prisioneiros começou no início de abril, mas tem se arrastado devido a desentendimentos entre as duas partes, agravados pela crise política no país.
Na segunda-feira, Cabul pediu aos insurgentes para esclarecerem o paradeiro de 610 prisioneiros das forças de segurança afegãs que não estão na lista de detidos, e alertou que só vai libertar mais prisioneiros se os talibãs continuarem o processo.
A troca de prisioneiros continua a ser o principal obstáculo ao começo das conversações de paz diretas entre ambas as partes, um diálogo que não tem ainda data de início.
EK/ap/afp/dpa/rtr/lusa
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