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Presidentes de Parlamentos europeu e alemão atacam Erdogan

9 de junho de 2016

Martin Schulz e Norbert Lammert defendem deputados alemães de origem turca da acusação de apoiar o terrorismo, por terem aprovado a classificação como genocídio do massacre da minoria armênia pelo Império Otomano.

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Presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz: "Erdogan quebrou um tabu"
Presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz: "Erdogan quebrou um tabu"Foto: Getty Images/AFP/F. Florin

A troca de farpas entre políticos alemães e turcos sobre o reconhecimento do genocídio armênio continuou nesta quinta-feira (09/06), com um firme rechaço dos presidentes do Parlamento alemão, Norbert Lammert, e do Parlamento Europeu, Martin Schulz, às declarações e acusações feitas pelo presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.

Schulz exigiu de Erdogan, em carta divulgada nesta quinta, que suspenda as ameaças aos deputados de origem turca envolvidos na recente resolução do Parlamento alemão sobre o genocídio armênio.

Há uma semana, os parlamentares alemães aprovaram, quase por unanimidade, a resolução que classifica como genocídio o massacre perpetrado em 1915 pelo Império Otomano contra a minoria armênia. O governo turco tachou a resolução de "um erro histórico", que ameaça arranhar ainda mais as relações entre Ancara e Berlim, desgastadas no último ano devido à crise migratória e ao debate sobre o papel de cada país no acolhimento aos refugiados.

Além disso, o presidente turco acusou pessoalmente os 11 deputados de origem turca que votaram a favor da resolução de serem uma extensão do banido Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), classificado como organização terrorista tanto na Alemanha quanto na Turquia. Além disso, Erdogan exigiu um teste de sangue, para verificar a origem dos parlamentares.

Schulz, do Partido Social-Democrata (SPD) da Alemanha, condenou as declarações do chefe de Estado turco, definindo-as como uma "quebra de tabu". "Parlamentares que se posicionam no contexto de seus mandatos, independente de quaisquer diferenças de opinião sobre uma questão política, não podem, de forma alguma, ser comparados a terroristas", advertiu.

"Com grande preocupação tomei conhecimento das notícias de que o senhor atacou seriamente com palavras a membros do Parlamento alemão eleitos democraticamente", disse Schulz na carta a Erdogan. "Como presidente de um Parlamento multinacional, multiétnico e multirreligioso, permita-me a seguinte observação: o livre exercício do mandato pelos parlamentares é um pilar decisivo de nossas democracias europeias."

Norbert Lammert, presidente do Parlamento alemão
Norbert Lammert, presidente do Parlamento alemão, rebateu as acusações do presidente turco aos deputadosFoto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler

O presidente do Parlamento alemão, Norbert Lammert, igualmente rebateu as críticas de Erdogan, dizendo considerar inconcebível "um presidente eleito democraticamente no século 21" acompanhar sua crítica aos deputados com "dúvidas sobre a ascendência turca" deles, e "classificar seu sangue como degenerado". "Rechaço de todas as formas a suspeição de que membros deste Parlamento seriam porta-vozes de terroristas", enfatizou o político democrata-cristão.

Relações complicadas

O governo Erdogan é um aliado crucial para a chanceler federal Angela Merkel na questão migratória, já que a Turquia aceitou receber de volta refugiados que partem de seu território rumo à Grécia. Nesta quinta, o Ministério da Economia turco disse que a resolução sobre o genocídio armênio ameaça a amizade entre os dois países, mas não chegou a detalhar medidas retaliatórias específicas.

Na semana passada, a própria Merkel havia rechaçado as declarações de Erdogan: "Os deputados do Bundestag são, sem exceção, eleitos livremente, e as acusações e declarações que foram feitas agora pelo lado turco são incompreensíveis."

Genocídio marca identidade dos armênios

As relações diplomáticas de Merkel com o presidente turco estiveram sob fogo por diversas vezes nos últimos meses, com vários críticos acusando a chanceler federal de ignorar o histórico de direitos humanos na Turquia e a piora da liberdade de imprensa a fim de receber a cooperação de Ancara na implementação do acordo de refugiados da União Europeia.

Até que a coalizão de Merkel decidisse impulsionar a resolução, no ano passado, a posição oficial do governo alemão era de lamentar o ocorrido com o povo armênipo, mas sem mencionar a palavra genocídio – nem de forma oral nem escrita. Num país em que a reconciliação com passado é reiterada todo momento, a postura era constantemente alvo de críticas.

Mas a Alemanha tem problemas com a palavra. Há tempos Berlim vinha se movimentando com muito cuidado sobre um terreno político minado. Não se queria estragar a relação com a Turquia, membro da Otan. Assim como o relacionamento com os mais de 3 milhões de cidadãos de origem turca que vivem na Alemanha. Há, ainda, o envolvimento alemão – então aliado do Império Otomano – na catástrofe dos armênios, que pode ser passível de pagamentos de reparações.

Genocídio dos armênios é a interpretação oficial em mais de 20 países, incluindo França, Suíça e Brasil. O termo "genocídio" foi definido pela ONU em 1948 como atos cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso.

RC/dw/ots