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Presidentes ucraniano e russo traçam paralelos com 2ª Guerra

8 de maio de 2022

No 77º aniversário da capitulação da Alemanha, tanto Zelenski quanto Putin comparam intento e métodos do adversário aos nazistas. Secretário-geral da Otan prevê mais violência russa na Ucrânia, avalia ameaça nuclear.

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Tanque de guerra dispara obuses
Putin queria menos Otan em suas fronteiras, mas conseguiu o contrário, afirma secretário-geral da Aliança AtlânticaFoto: Serhii Nuzhnenko/REUTERS

Neste domingo (08/05), em que se comemoram os 77 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, divulgou um discurso dramático em vídeo.

A partir de um subúrbio seriamente devastado de Kiev, ele traçou paralelos entre a invasão alemã e a atual campanha militar russa no país: "Décadas após a Segunda Guerra Mundial, a escuridão retornou à Ucrânia, e ela se tornou novamente preta e branca. O mal retornou, com uniforme diferente, sob slogans diferentes, mas com o mesmo fim."

No emocionado vídeo, filmado em preto-e-branco, entre dois prédios residenciais bombardeados, e integrando imagens do conflito histórico, Zelenski acusou a liderança russa de, ao lançar sua ofensiva militar em 24 de fevereiro, cortar o "nunca mais" do slogan antibélico, substituindo-o por "Podemos fazer de novo" – uma popular alusão à participação da União Soviética na derrota da Alemanha hitlerista.

"Uma sangrenta reconstrução do nazismo foi organizada na Ucrânia. Uma fanática repetição desse regime, suas ideias, ações, palavras e símbolos, reprodução maniacamente detalhada de suas atrocidades e seu 'álibi', que supostamente conferem propósito sagrado a um mal."

O chefe de Estado de origem judaica recordou a contribuição do povo ucraniano para a vitória da coalizão aliada na Segunda Guerra: o país sofreu bombardeios, fuzilamentos em massa e ocupação, perdeu cidadãos nos campos de concentração e câmaras de gás, como prisioneiros de guerra e nos trabalhos forçados, mas mesmo assim acabou vencendo, enfatizou.

Prova disso seria o abrigo antiaéreo "Werwolf" (lobisomem, em alemão), de Adolf Hitler, perto da cidade ucraniana de Vinnytsia, hoje destruído: isso mostraria que o mal não pode escapar de sua responsabilidade e "se esconder num bunker", frisou Zelenski. Assim, aludia a seu homólogo russo, Vladimir Putin, que tem repetidamente sido acusado de se refugiar num lugar seguro secreto desde que iniciou sua "operação militar especial" na Ucrânia.

"Irmandade" para libertar de "imundície nazista"

Por sua vez, por ocasião do 77º aniversário da vitória dos Aliados sobre a Alemanha o presidente russo Putin enviou mensagens de felicitação aos líderes e cidadãos de antigos países da União Soviética.

"Nosso dever comum é impedir o renascimento do nazismo, que trouxe tanto sofrimento aos povos de diversos países. É necessário preservar e transmitir [...] a verdade sobre os acontecimentos da guerra, valores espirituais comuns e tradições de amizade e irmandade", citou-o o Kremlin.

O chefe do Kremlin dirigiu-se desse modo ao Azerbaijão, Armênia, Belarus, Cazaquistão, Quirguizistão, Moldávia, Tajiquistão, Turquemenistão, Uzbequistão e às autoproclamadas repúblicas da Abcásia e Ossétia do Sul, desejando que as novas gerações "sejam dignas da memória dos seus pais e avós" que lutaram na Segunda Guerra Mundial. Um dos pretextos para a "operação militar especial" russa na Ucrânia foi a "desnazificação" do país.

Putin felicitou, ainda, os líderes e habitantes das pró-russas Donetsk e Lugansk, no leste ucraniano – cujos militares, "tal como os seus avós, lutam ombro a ombro para libertar suas terras da imundície nazista" – e se disse confiante de que, assim como em 1945, a vitória estará do seu lado. Dias antes do início da invasão da Ucrânia, Moscou havia reconhecido unilateralmente ambas as províncias como "repúblicas populares" autônomas.

Além disso, Vladimir Putin saudou os povos da Geórgia e da Ucrânia, deixando de fora as autoridades desses países, que manifestaram interesse em aderir à Otan. Aos cidadãos ucranianos e especialmente aos veteranos da Segunda Guerra, apelou pela "inadmissibilidade de vingança por parte dos herdeiros ideológicos daqueles que foram derrotados na Grande Guerra Patriótica" – como o conflito mundial é conhecido na Rússia.

Sem indício de atividade nuclear, apesar de ameaças de Putin

Em entrevista publicada neste domingo pelo jornal belga Le Soir, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, frisou a perspectiva ainda mais destruição pela Rússia na Ucrânia. "Nós nos devemos preparar para ofensivas russas, mais brutalidade, mais angústia e destruição ainda mais maciça de infraestruturas críticas e áreas residenciais."

Por outro lado, "desde o início da guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro, a Otan não viu nenhuma mudança na estratégia nuclear da Rússia", apesar das ameaças de Putin de que usaria tais armas, em caso de intervenção ocidental. "É nosso dever reduzir esse risco. A Otan é a aliança mais forte do mundo. E a nossa mensagem é clara: após o uso de armas nucleares só haveria perdedores de todos os lados."

O ex-primeiro-ministro norueguês salientou que "infelizmente esta guerra poderia durar meses ou mesmo anos" e, para repelir de forma sustentável e bem-sucedida a invasão russa, Kiev precisa "mudar para armas ocidentais modernas".

"A Ucrânia necessita urgentemente mais armas pesadas. O Ocidente deve intensificar suas entregas, fazer ainda mais e se preparar para um comprometimento de longo prazo. Temos que garantir que a Ucrânia se possa defender. A coragem e bravura dos soldados ucranianos não serão suficientes, também requer um apoio militar continuado do Ocidente."

De acordo com Stoltenberg, Putin declarou guerra "porque queria menos Otan nas suas fronteiras", mas o que conseguiu foi "exatamente o oposto", ou seja: "mais presença da Aliança no flanco leste e possivelmente dois novos membros da Otan", a Suécia e a Finlândia. Se ambos os países tomarem essa decisão, "poderão integrar-se rapidamente" à Aliança, predisse.

Stoltenberg espera que na Cúpula de Madri, no fim de junho, os líderes dos Estados-membros da Otan concordem em reforçar a defesa da Aliança Atlântica, pois "enfrentamos o maior desafio de segurança desta geração", não só pela Rússia, mas pelo terrorismo, ciberataques e as implicações da ascensão da China para a política de segurança.

Em referência ao fim do conflito mundial, em 8 de maio de 1945, o secretário-geral observou que "os aliados da Otan já foram inimigos, mas conseguimos construir instituições como a Aliança e a União Europeia sobre as ruínas da Segunda Guerra, a fim de evitar a guerra".

av (Lusa,AFP,DPA)