Prevenir o que não se pode remediar
12 de agosto de 2004O Instituto de Medicina e Ciência Sexual do hospital universitário Charité, em Berlim, iniciou um projeto financiado por fundos privados para ajudar pedófilos dispostos a controlar seus impulsos sexuais. "Acabamos de começar a reconhecer os problemas, ainda faltam programas de prevenção adequados e bem fundados", explica Kai Sachs, diretor da Sociedade Alemã Contra a Exploração Infantil.
O psicólogo Christoph Joseph Ahlers, do instituto berlinense, está convencido de que uma intervenção preventiva pode poupar crianças de um trauma por violência sexual. "Trata-se de vítimas e da prevenção contra novas vítimas", sublinhou, acrescentando que até agora há poucos terapeutas qualificados e interessados em ajudar pacientes com tendências pedófilas. "Os pacientes podem ser tratados e há progressos – é isso o que queremos provar."
Existem interessados?
A pergunta é se haverá um suficiente número de pacientes dispostos a participar do tratamento. "A questão é como chegar até eles", explica Michael Osterheider, diretor do departamento forense de psiquiatria e psicoterapia da Universidade de Regensburg. Segundo ele, muitos pedófilos estão convencidos de que não fazem nada de errado e querem que relações sexuais entre adultos e crianças sejam legalizadas.
Mas Ahlers não se preocupa com o número de participantes, uma vez que o projeto é direcionado a pacientes que sofrem com suas tendências e procuram auxílio médico. "Esperamos alcançar todos aqueles que perceberam que crianças desempenham algum papel em suas fantasias sexuais."
Ajudar em vez de proteger
As sessões ajudam o paciente a reconhecer sua própria sexualidade e a começar a aceitar suas tendências sexuais. Eles devem entender que não são culpados pelos seus sentimentos, mas que continuam sendo responsáveis pelos seus atos, explica Ahlers. Mais adiante, eles devem aprender a não interpretar sinais infantis de maneira sexual.
Para isso é essencial que haja um certo grau de confiança do paciente no terapeuta, para que se possa começar o tratamento. Pacientes que não estiverem dispostos a submeter-se a um programa de abstinência serão solicitados a abandonar o programa.
Na Alemanha, assim como no Brasil, o sigilo médico impede o terapeuta de fornecer informações sobre os pacientes. Mas Ahlers garante que, caso algum paciente confesse intenções de praticar uma ação criminosa, o instituto será obrigado a informar a polícia. "Eles continuam submetidos à mesma ação penal", salienta.
O único objetivo terapêutico é tornar o paciente capaz de manter seus impulsos sob controle. "Apesar do tratamento, um pedófilo continuará sempre um pedófilo", diz.