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Primeiro Fórum Social Mundial fora do Brasil

ef15 de janeiro de 2004

Alemanha vai defender comércio mundial justo no 4º Fórum Social Mundial, em Mumbai, para que todos lucrem com a globalização. Sistema de castas da Índia é outro tema polêmico do primeiro megaencontro fora do Brasil.

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Kerstin Müller, única enviada oficial da Alemanha a MumbaiFoto: AP

Os organizadores do Quarto Fórum Social Mundial (FSM), em Mumbai (ex-Bombaim), a ser aberto nesta sexta-feira (16), contam com a participação de até 150 mil pessoas. Dos participantes nos três fóruns anteriores realizados em Porto Alegre, a partir de 2001, cerca de 85% eram brasileiros. Mas desta vez a Ásia e a África reforçarão sua presença, que foi de apenas 2% nos três megaencontros no Brasil. O FSM foi criado há quatro anos como reunião paralela à de banqueiros, empresários e políticos em Davos, na Suíça. Em 2005, o Fórum Social Mundial voltará a Porto Alegre e de lá irá, em 2006, para a África, possivelmente o Quênia.

Até o próximo dia 21, membros de organizações ecologistas, defensoras dos direitos humanos, civis e das mulheres, de movimentos de agricultores e anti-racistas vão se reunir na cidade indiana sob o lema "Um mundo melhor é possível". Em virtude do fracasso das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) de 2003, em Cancún, o debate sobre o livre comércio está sendo aguardado com grande expectativa.

O fiasco no México deu novo impulso aos adversários da globalização, pois muitos viram na discussão da OMC seu próprio triunfo: países emergentes e em desenvolvimento, principalmente Brasil, Índia e África do Sul, rejeitaram qualquer acordo diante das subvenções agrícolas nos Estados Unidos e na União Européia, que impedem o acesso de produtos das nações mais pobres aos ricos mercados norte-americano e europeus ocidentais.

Protestkundegebung der globaliosierungskritischen ATTAC Bewegung
Protesto do grupo antiglobalização Attac contra a Organização Mundial do ComércioFoto: AP

Impulso antiglobalizante

- De malas prontas para voar para Mumbai, o alemão Sven Giegold esclareceu que, assim como muitos outros membros da organização antiglobalização Attac na Alemanha, está curioso para conhecer a opinião da Ásia sobre a globalização. "Nosso tema aqui na Europa é o desmonte do Estado social", disse o economista, acrescentando que "a globalização na Ásia, ao contrário, implica também um fenômeno cultural e uma ocidentalização forçada, que vai desde a destruição de tradições nacionais até novas formas de escravidão nos setores de mão-de-obra barata, que fornecem material de consumo para o Ocidente".

Sistema de castas

- O sistema de castas no país anfitrião será também um dos grandes temas do encontro. A discriminação de membros de castas inferiores na Índia é proibida há décadas, mas a organização ativista dos direitos humanos Human Rights Watch conta mais de 100 mil casos de agressão contra membros da casta mais baixa dos dalit (intocáveis), que vão de violação sexual até assassinato.

Os intocáveis somam 138 milhões de pessoas. O fim da discriminação das castas mais baixas foi decretado um ano depois do assassinato do grande combatente pela igualdade de direitos e pela independência da Índia, Mahatma Ghandi, em 1948.

Globalização justa

?- Na véspera da abertura do Fórum Social Mundial, o governo da Alemanha voltou a exigir um papel mais forte das Nações Unidas e defendeu um comércio mundial justo. Este seria "o principal desafio para a comunidade internacional, porque só com comércio mundial justo se pode combater a pobreza efetivamente e solucionar os conflitos por meios pacíficos", disse a secretária-adjunta do Ministério das Relações Exteriores, Kerstin Müller. Ela é a única representante do gabinete do social-democrata Gerhard Schröder no encontro mundial.

Müller, do Partido Verde, não vai engrossar o coro dos inimigos da globalização em Mumbai, até porque acha que a globalização é um fato irreversível. "O que tem de ser feito", na opinião de Müller, "é dar uma feição socialmente justa à globalização, pois tanto nós, como membros da comunidade internacional, quanto os países em desenvolvimento e também os mais pobres do mundo podem lucrar com a globalização".