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Prisão de banqueiro expõe canal de vazamentos na Lava Jato

Jean-Philip Struck27 de novembro de 2015

Polícia Federal instaura inquérito para apurar falhas no sigilo da operação anticorrupção. Advogado detido sugere que agente forneceu documentos para banqueiro e imprensa.

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Andre Esteves
Foto: picture-alliance/dpa/J.-Ch. Bott

A prisão esta semana do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, expôs uma fenda na marulha de sigilo que cerca a Operação Lava Jato. Segundo as investigações que embasaram o pedido de prisão, Esteves estava de posse de uma cópia da minuta do acordo de delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. O documento incluía até anotações feitas pelo ex-funcionário da companhia. A Polícia Federal instaurou um inquérito na noite desta quinta-feira (26/11) para tentar apurar como teria ocorrido o vazamento.

A revelação de que o banqueiro obteve o documento por meio de um canal ilegal deixou o Ministério Público Federal desconcertado. "Essa informação revela a existência de um perigoso canal de vazamento, cuja amplitude não se conhece: constitui genuíno mistério que um documento que estava guardado em ambiente prisional em Curitiba, com incidência de sigilo, tenha chegado às mãos de um banqueiro privado em São Paulo", afirmou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no pedido de prisão de Esteves e do senador Delcídio do Amaral.

Este último é acusado de oferecer um acordo para que Cerveró não citasse o seu nome e o de Esteves nas delações. Em troca, o ex-diretor receberia 4 milhões de reais, uma mesada de 50 mil, além de ajuda para fugir do país.

Sem constrangimento

A suspeita de que Esteves estava com o documento apareceu numa das gravações feitas pelo filho de Cerveró, Bernardo, durante conversas com Delcídio e o ex-advogado de Cerveró, Edson Ribeiro – que também foi preso. Na conversa, Bernardo demonstra surpresa com o fato de o banqueiro estar em posse do documento, que só poderia ser acessado por procuradores, agentes e o advogado de Cerveró.

Esteves, um dos homens mais ricos do Brasil, teve seu nome inicialmente envolvido com o escândalo da Petrobras após a revelação de que a empresa Sete Brasil, que tem participação do BTG Pactual, forneceu sondas de exploração de petróleo superfaturadas para a Petrobras. O MPF agora também suspeita de que Esteves ficaria responsável por fazer os pagamentos a Cerveró caso o plano que incluía a compra do silêncio e a fuga do ex-diretor tivesse prosperado.

"Fica claro, em verdade, pelo relato do congressista [Delcídio], que André Esteves exibiu o documento sem se constranger de havê-lo obtido de forma indevida, o que corrobora a tese de que ele está disposto a obter informações por meios ilícitos para evitar que a Operação Lava Jato tangencie o Banco BTG Pactual", afirmou Janot no pedido de prisão.

Suspeita recai sobre agente

Delcídio não indicou na conversa como o banqueiro teria obtido o documento, apenas afirmou que ficou impressionado com o fato. Os outros participantes, no entanto, sugeriram possíveis canais do vazamento. Entre eles estão agentes da Polícia Federal. Num dos trechos, Ribeiro sugere que um agente teria sido responsável por passar o documento. No áudio, ele cita especificamente Newton Ishii, um agente que apareceu em várias fotografias ao longo da Lava Jato escoltando para a prisão alguns dos personagens mais célebres da operação.

"É o japonês", afirma. O chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira, que participou da conversa, também sugere Ishii como o responsável. "É o japonês bonzinho". E, para completar, Ribeiro afirma que o agente "vende informações para revistas", o que também parece sugerir um dos possíveis canais pelos quais veículos de imprensa do país obtiveram informações da Lava Jato ao longo do ano.

Ribeiro também especula que as fontes do vazamento possam ser outras, e cita o advogado de Fernando Baiano – operador do PMDB no Petrolão –, Sérgio Riera, e o doleiro Alberto Youssef.

Cortina de fumaça

Ribeiro já havia perdido a confiança da família Cerveró. No pedido de prisão, o MPF afirma que ele fazia um "jogo duplo" e que, na verdade, estava atuando para defender Amaral às custas de Cerveró, aconselhando seu cliente oficial a não assinar o acordo com o MPF. Por causa disso, a família vinha evitando conceder ao advogado acesso à delação.

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a PF suspeita que o próprio Ribeiro tenha negociado com agentes federais a obtenção do documento que acabou nas mãos de Esteves. Não se sabe se Ribeiro mencionou os outros personagens apenas para tirar o foco do seu papel nas negociações.

Segundo a PF, a corporação havia planejado ouvir tanto Cerveró quanto Ishii nesta sexta-feira, mas os depoimentos foram transferidos para a semana que vem. O agente está na PF desde 1976. Segundo uma reportagem da revista Época publicada em julho, Ishii chegou a ser expulso da corporação em 2003, após ser preso por suspeita de pertencer a uma quadrilha de contrabandistas. Ele recorreu judicialmente da expulsão e foi reintegrado. Segundo a Folha de S. Paulo, o agente afirmou a colegas que as acusações nos áudios não passam de "uma cortina de fumaça" para manchar a imagem da operação.

Ainda que não esteja claro como ocorreu o vazamento, a PGR já manifestou preocupação de que a "existência de canal de vazamento na Operação Lava Jato (...) municia pessoas em posição de poder com informações do complexo investigatório".