Carta fora
16 de maio de 2011A prisão do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, acusado de agressão sexual nos Estados Unidos, tumultuou o cenário político na França, que se prepara para eleições presidenciais em 2012.
As imagens do político socialista – apontado como um dos favoritos para bater o presidente Nicolas Sarkozy – deixando algemado uma delegacia de Nova York, enquanto seguia para fazer exames de DNA que atestassem as acusações, chocaram os franceses. E podem ter acabado com as chances de DSK, como Strauss-Kahn é popularmente conhecido, de chegar à Presidência do país.
Strauss-Kahn, 62 anos, é protagonista de um dos maiores escândalos sexuais da França. Ele foi detido neste sábado (14/05) em Nova York, pouco antes de tentar embarcar para Paris. Uma camareira de 32 anos, que trabalha no hotel onde o francês estava hospedado, o acusa de tê-la atacado e de ter tentado estuprá-la.
Segundo a imprensa, uma escritora francesa também deve registrar uma acusação formal de abuso sexual contra Strauss-Kahn. O fato teria ocorrido em 2002.
Enquanto os advogados do executivo alegam a inocência do cliente, a imprensa francesa já dá como certa a saída de Strauss-Kahn da corrida presidencial. "No espaço de apenas 15 dias o novo ídolo da esquerda francesa explodiu. Uma desintegração tão rápida foi raramente observada", escreveu o conservador Le Figaro em seu editorial. "Uma coisa é certa: Dominique Strauss-Kahn não será o novo presidente da República Francesa", afirmou o diário.
Cautelosos, políticos de vários partidos têm afirmado que, até que se prove o contrário, Strauss-Kahn deve ser considerado inocente. Inegável, no entanto, o forte abalo que o fato provocou na imagem do diretor-gerente do FMI.
Oposição desnorteada
A oposição agora terá que reavaliar as cartas que têm na mão e refazer o jogo, pensando na disputa de 2012. E precisa fazer isso rápido. As primárias do Partido Socialista acontecem em julho. Nesta terça-feira, líderes da legenda devem se reunir para discutir a crise interna.
Strauss-Kahn vinha crescendo nas pesquisas e surgia como uma real possibilidade de o partido chegar à Presidência após 24 anos na oposição. A presidente da legenda, Martine Aubry, afirmou que a notícia da prisão do correligionário caiu como um raio no partido.
Um possível nome para substituir DSK seria o do ex-presidente do partido François Hollande – até agora o único que tinha se apresentado como pré-candidato à Presidência. Nada impede, no entanto, que com a derrocada de Strauss-Kahn outros nomes comecem a surgir, como o do ex-primeiro-ministro e ex-ministro das Finanças Laurent Fabius. Para o comentarista Michael Darmon, afirmações de Fabius neste fim de semana, de que os socialistas estão perdendo contato com a classe trabalhadora, podem ser um ensaio para uma entrada na disputa pela indicação.
Alguns líderes da UMP, partido de Sarkozy, acreditam que a queda de Strauss-Kahn pode dar novo impulso à campanha do atual presidente, apesar da sua baixa popularidade. Alguns, no entanto, calculam que a imagem limpa de Hollande pode trazer uma ameaça ainda maior do que Strauss-Kahn representava. "Strauss-Kahn era o adversário mais fácil, ele compensava as falhas de Sarkozy", disse um assessor próximo do presidente francês ao periódico Les Echos.
Comportamento controverso
Antes mesmo de sua prisão, Strauss-Kahn já era uma figura bastante criticada pela imprensa francesa por conta de seu estilo de vida. Críticos afirmavam que suas aventuras com mulheres, seu desapego ao dinheiro e seu estilo de vida luxuoso não condiziam com o comportamento de um socialista.
No fim de abril, o diretor do FMI chegou a declarar que as três principais questões que dificultariam sua candidatura à presidência seriam dinheiro, mulheres e a sua origem judaica. "Sim, eu gosto de mulheres. E daí? Há anos se fala de supostas fotos minhas em grandes orgias, mas nada nunca veio à tona", afirmara DSK segundo o jornal Liberation, de orientação esquerdista.
MS/rts/afp
Revisão: Alexandre Schossler