Problemas atrasam partida do metrô alemão no Caribe
24 de fevereiro de 2004Um metrô parecia a solução ideal para San Juan, a capital de Porto Rico, Estado livre associado aos EUA. Os congestionamentos são diários na cidade caribenha de 1,5 milhão de habitantes, onde se perde muito mais tempo do que em Berlim ou Munique na hora do rush.
O alívio foi grande, quando as autoridades decidiram construir o metrô e contrataram os serviços da Siemens Transit Team (STT), em 1996. A encomenda, no montante de 1,8 bilhão de marcos (920 milhões de euros), foi a maior que a unidade da Siemens de Técnica de Transportes recebera até então dos Estados Unidos.
Acusações mútuas
Oito anos depois, o projeto ainda não está pronto e ninguém mais se refere, com orgulho, ao San Juan's world-class metro. Os trens circulam apenas em fase de teste e há meses a Siemens está envolvida numa disputa com as autoridades.
A inauguração já foi adiada várias vezes - a última estava marcada para o final de 2003 -, e cada parte culpa a outra pelo atraso. A Secretaria de Transportes em San Juan responsabiliza os alemães e exige o pagamento de uma multa contratual de 9 milhões de dólares.
A Siemens, por sua vez, considera que cumpriu a sua parte. Os atrasos e o desleixo ficariam por conta das empreiteiras contratadas pela Puerto Rico Highways and Transportation Authority, a quem caberia construir boa parte da obra e a maior parte das estações. A divisão de transportes (STT) teria entrado com queixa perante a Justiça, devido aos prejuízos acarretados pelo atraso.
A empresa calcula que o tren urbano - como o metrô ali é chamado pela população de língua espanhola - poderia entrar em funcionamento "entre maio e outubro, dependendo do que decidir o nosso cliente", apurou a agência alemã de notícias DPA junto à Siemens em San Juan.
Vítima do clientelismo?
Parte da imprensa local dá apoio moral à empresa alemã, ressaltando o clientelismo e os desmazelos na administração pública. Isso teria levado a falhas e trabalhos mal feitos nos setores que não são de competência da Siemens.
Algumas obras foram executadas antes de a empresa alemã assinar o contrato, como é o caso de 30 grossos pilares. Nem bem construídos, eles já apresentavam sinais de desgaste de material. A administração de Porto Rico não tem fama de eficácia no planejamento de obras de infra-estrutura.
As 16 estações também não estão totalmente concluídas. Somente duas delas são da alçada da STT. A Siemens, por sua vez, foi responsabilizada por problemas elétricos. Algumas curvas seriam muito fechadas, só permitindo que os trens circulem a 35 quilômetros por hora.
E o metrô não parte
A primeira linha de 17 quilômetros se estende de Bayamón, no sudoeste, a Sancturce, no centro. Os futuros usuários, porém, só podem observar os guichês de venda de passagens, as borboletas e escadas rolantes através das grades que protegem as estações, enquanto a imprensa se refere ao metrô como el tren que no parte.
"A Siemens é uma boa empresa, construiu trens e metrôs em todo o mundo, mas infelizmente percebeu muito tarde que no Caribe os relógios funcionam de outra maneira", comenta um engenheiro que trabalhou no projeto.
Na Alemanha, a notícia reforça a impressão de que há algo de errado com a tecnologia alemã, o que pode afetar seriamente a reputação do país. A lista de panes, adiamentos e idéias que não deram certo é longa.
Há algo de errado com a tecnologia alemã?
O trem de suspensão magnética Transrapid, também um projeto da Siemens, é o mais antigo. Caro, ele perdeu muitas licitações e até hoje só transita em trajetos experimentais na Alemanha e na China.
A última pane estrondosa ficou por conta de um sistema inovador de cobrança de pedágio para caminhões via satélite na Alemanha. O grupo que iria construí-lo - do qual participam a DaimlerChrysler e a Deutsche Telekom - não conseguiu resolver os problemas técnicos a tempo para que ele entrasse em funcionamento no início do ano. Com o atraso, o fisco deixará de arrecadar bilhões de euros.
Segundo Siegfried Brandt, presidente da Federação Alemã de Engenheiros, as falhas técnicas e de planejmento dão às pessoas a falsa impressão de que a indústria alemã não é capaz de realizar certas tarefas a contento.
"Mas esse não é o caso", disse o engenheiro à DW-WORLD. A tecnologia alemã em si não é problema, e sim "o gerenciamento ou o financiamento de grandes projetos". Se não houver melhoria nesse sentido, a tecnologia de ponta alemã perderá chances de ser exportada a outros países.