Problemas demográficos exigem pacote de medidas
3 de maio de 2004Relatos sobre o envelhecimento e a diminuição da população na Alemanha repetem-se nas matérias da imprensa do país com a regularidade de uma ladainha. A necessidade de adequar o sistema social à realidade demográfica foi um dos argumentos a que o governo mais recorreu nos prolongados debates sobre seu programa de reformas.
A questão, porém, nunca tinha sido analisada de modo tão abrangente como no recente estudo Alemanha 2020 - o futuro demográfico da nação, realizado pelo Instituto de Estudos sobre a População Mundial e o Desenvolvimento Global, de Berlim.
Os especialistas rastrearam o país de norte a sul, de leste a oeste, e submeteram 440 municípios em zonas urbanas e rurais a um crivo de 22 fatores demográficos, com o fim de avaliar suas perspectivas de desenvolvimento. Levantaram-se dados como o número de filhos por mulher, a taxa de habitantes com menos de 20 anos, facilidades para as famílias com filhos pequenos, além de fatores econômicos e culturais.
Desequilíbrio generalizado
Os resultados apontam para "um claro desnível entre o leste e o oeste, mas também entre o norte e o sul", segundo Reiner Klingholz, diretor do instituto. Tudo indicaria que o desenvolvimento será muito diferente de região para região, sendo que as fronteiras dos estados federados entre si não desempenham nenhum papel neste contexto.
Quase todas as cidades têm problema. "O Leste do país - o que não é de se admirar - tem grandes problemas, mas também no Oeste está se dando um desenvolvimento semelhante, que continuará nas próximas décadas", prognostica Klingholz.
No território da antiga Alemanha Ocidental, as zonas mais problemáticas encontram-se ao longo da antiga fronteira com a República Democrática Alemã, bem como em regiões tradicionalmente industriais que perderam seu significado, tais como o Sarre e o vale do Ruhr.
Melhores perspectivas no sul
A maioria dos municípios com notas ruins no estudo concentra-se nos chamados novos estados, ou seja, no território que constituía a antiga Alemanha Oriental: de 13, nove ficam naquela parte do país. Só a cidade de Hoyerswerda, na Saxônia, perdeu um terço de sua população após a reunificação, em 1990.
Os estados de Baden-Württemberg e da Baviera, ambos no sul, têm a maior parte dos municípios com boa avaliação: 19 de um total de 20. Lidera o ranking Eichstätt, cidade bávara situada às portas de Ingolstadt, onde está estabelecida a montadora Audi. Klingholz vê aí uma tendência típica de concentração de pessoas jovens e bem qualificadas numa região que oferece empregos bem remunerados.
Influência relativa da política para a família
Uma conclusão surpreendente do estudo é que não basta que o Estado tome providências de infra-estrutura que facilitem a vida das famílias com filhos pequenos. O maior índice de fertilidade (1,92 filho por mulher, enquanto a média nacional é de 1,37) é o de Cloppenburg, cidade da Baixa Saxônia que não consegue oferecer jardim-de-infância para todas as crianças em idade pré-escolar. Já Gera, no Leste, que tem vagas suficientes, apresenta um índice abaixo da média alemã.
Indiscutível é que há necessidade de medidas, ou melhor, todo um pacote delas: horário de trabalho que possa ser conciliado com a vida em família, adaptação das condições de trabalho à idade cada vez mais avançada da mão-de-obra, redução do tempo gasto com os estudos e a formação profissional são apenas algumas das recomendações dos especialistas.
Stuttgart - modelo a ser seguido
Grande importância neste contexto caberia às medidas de integração de imigrantes. Pois a verdade é que a Alemanha precisa de pessoas vindas de fora. Para manter uma população estável, seria preciso que cada mulher tivesse em média 2,1 filhos. Desde 1972 o número de nascimentos no país não consegue superar o de óbitos ao ano. As previsões partem de uma redução da população em 660 mil indivíduos até 2020.
Ines Possemeyer, da revista GEO, que participou do estudo, aponta a capital de Baden-Württemberg como exemplo positivo de como pode funcionar a integração de estrangeiros. Um em cada quatro habitantes de Stuttgart é proveniente de outro país. Ao todo 175 nações estão representadas na população. A prefeitura, que vê nessas pessoas um potencial positivo para a cidade, instituiu todo um programa que facilita aos que vêm de fora a integração no cotidiano da cidade.