Produto alemão, capital estrangeiro
17 de janeiro de 2005Não faz muito tempo, os grandes acionistas das empresas alemãs eram, por exemplo, a família Flick ou o Deutsche Bank. Hoje, os proprietários dos conglomerados alemães têm freqüentemente nomes como Blackstone, KKR ou Permira.
O sistema às vezes denominado de "Alemanha S. A." – uma rede do capital alemão no pós-guerra, composta pelas grandes famílias, bancos e indústrias – dissolveu-se pouco a pouco em decorrência da globalização, abrindo lugar para investimentos financeiros dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha. O dinheiro dos investidores estrangeiros adquire firmas alemãs tradicionais.
Transformação econômica
Esta evolução é característica para a radical transformação do setor econômico da Alemanha. Os bancos e seguradoras retiram-se da participação no setor industrial. Último exemplo disso foi a venda da participação de 25% na fábrica de veículos utilitários e máquinas MAN, por parte do Commerzbank e das seguradoras Allianz e Münchener Rück.
Mas também os conglomerados mistos de antigamente passaram a concentrar-se nos seus ramos principais, vendendo todas as firmas de atividades paralelas. As empresas de médio porte, desvinculadas dos conglomerados, raramente conseguem despertar o interesse da nova geração de investidores do país.
Uma alternativa seria oferecer ações no mercado de capitais, diversificando a participação do capital alemão. Mas o lançamento de ações na Bolsa de Valores continua sendo um empreendimento melindroso.
Com isso, a lacuna está sendo preenchida pelos investidores financeiros do exterior. Eles buscam no mercado alemão as empresas de melhores perspectivas para a sua aplicação de capital. Uma demonstração de que a globalização tornou-se real quanto ao livre trânsito de capitais.
Casos recentes
Segundo um estudo da empresa de consultoria Ernst & Young, as aquisições de empresas alemãs por capital estrangeiro representaram 84% dos investimentos financeiros no país em 2004. O volume do capital externo que fluiu assim para a Alemanha teve um aumento de mais de 60% em relação ao ano anterior, perfazendo cerca de 22,5 bilhões de euros.
Alguns exemplos: a Blackstone comprou a Celanese, que antes pertencia à Hoechst, por 3,1 bilhões de euros. Sua concorrente, a KKR, adquiriu a maior parte da empresa química Dynamit Nobel por 2,3 bilhões de euros.
"Esperamos para 2005 um volume igualmente alto de aquisições estrangeiras, pois nada mudou na situação do mercado", afirma Wolfgang Taudte, um perito da Ernst & Young. O processo chegou mesmo a tornar-se mais amplo: os investidores estrangeiros descobriram agora o mercado imobiliário alemão. Uma primeira empresa do setor, a Gagfah, já foi vendida ao grupo Fortress por 2,1 bilhões de euros.
Médio prazo
"Os investidores financeiros estão interessados em acompanhar uma empresa a médio prazo", explica Mark Bradshaw, diretor da corretora de investimentos 3i, de Frankfurt. Tal aliança é temporária. Depois de algum tempo ocorre a venda da participação, para a realização dos lucros.
Os investidores financeiros trabalham geralmente com o capital de grandes fundos de pensão. Estes têm, por sua vez, o objetivo de garantir rendimento de aposentadoria aos seus integrantes. Por isso, esperam lucros elevados nas suas aplicações.
Na Alemanha, os fundos de pensão não tinham até agora grande significado no mercado de capitais, em decorrência do sistema de aposentadoria do país. Daí o fato de a maior parte dos novos investidores ser proveniente dos países anglo-saxões.
Segundo investidor
De maneira geral, os novos investidores mantêm sua participação nas empresas durante alguns anos. Havendo, nesse período, um aumento do valor da firma adquirida, eles tentam vendê-la através da Bolsa de Valores. Não sendo possível, ela é passada freqüentemente às mãos de uma concorrente.
Isso aconteceu em 2004, por exemplo, com a rede de oficinas mecânicas Auto Teile Unger. O segundo investidor não tem outra alternativa se não a de exigir um aumento constante dos lucros. O preço é, em geral, a adoção de medidas radicais de racionalização e corte de custos. Ou seja, uma contribuição substancial para o desemprego no país.