Programa de governo sob fogo cruzado
18 de outubro de 2002As metas do governo para os próximos quatro anos foram anunciadas, em Berlim, juntamente com o gabinete renovado, na quarta-feira (16), três semanas após a vitória eleitoral de 22 de setembro e de duas semanas de negociações difíceis, marcadas por divergências entre os parceiros da coalizão social-democrata (SPD) e verde.
O líder patronal Hundt profetizou um agravamento da crise econômico-social em conseqüência dos planejados aumentos de impostos e dos custos sociais para empregados e empregadores, que vão encarecer ainda mais a mão-de-obra. A organização de cúpula do comércio varejista também não vê no programa impulsos para crescimento econômico, geração de emprego e consumo.
O Conselho Federal de Medicina, por sua vez, teme uma americanização do sistema de saúde, através de mais padronização, burocratização e intervenção estatal. A federação dos policiais alemães também bateu duro em suas críticas ao programa do governo recém-reeleito. “É uma decepção e um retrocesso para a ação repressiva.” Em compensação, as organizações ativistas dos direitos humanos não se pronunciaram.
Ambientalistas decepcionados - As organizações ambientalistas se mostraram decepcionadas, principalmente com o planejado adiamento de dois anos para a desativação da usina atômica mais antiga da Alemanha, a Obrigheim, em funcionamento desde 1969. A questão está causando barulho no próprio Partido Verde e promete esquentar a sua convenção no próximo fim de semana. Seis diretórios regionais já protestaram contra a prorrogação do prazo para o início de fato da renúncia à energia nuclear. No seu primeiro governo, a coalizão social-democrata e verde negociou um acordo, a duras penas, com o setor energético para desativar, paulatinamente, todas as 19 usinas nucleares do país.
Elogios parcos – Uma das poucas declarações favoráveis ao programa do segundo gabinete social-democrata (SPD) e verde do chanceler federal partiu do presidente da Federação dos Sindicatos Alemães (DGB), Michael Sommer, que pode ser resumido assim: o rumo é de modernização socialmente justa e merece ser apoiado pelos sindicatos. Um elogio comedido demais, considerando que os sindicatos são tradicionais aliados do partido presidido pelo chefe de governo Gerhard Schröder (SPD).
Lei antidiscriminação – A Federação dos Homossexuais vê no acordo de coalizão uma chance de fortalecer os direitos de gays e lésbicas na Alemanha, em função das promessas de uma lei de proteção das minorias e de um memorial em Berlim para lembrar as vítimas homossexuais do nazismo. A categoria mostrou-se, todavia, insatisfeita porque o programa de governo não menciona a discriminação de famílias de homossexuais com filhos. No seu primeiro governo, a maioria social-democrata e verde aprovou no Parlamento a lei que permite o casamento de pares de mesmo sexo.