Projeto de vocalista do Rammstein tem peso, polêmica e humor
23 de junho de 2015Porcos, sangue, muco e imagens que parecem tiradas de um quadro de Hieronymus Bosch e que se alternam entre uma névoa de sujeira e um palco de branca inocência. O fundo sonoro é de guitarras distorcidas e coros sombrios, conduzidos por batidas de bateria. A letra carregada de raiva diz mais ou menos assim: "Eu odeio minha vida e você e tudo o mais e acho aborto legal".
Isto o vocalista do Rammstein faz bem: criar textos sórdidos, que escondem uma mensagem atrás da sua brutalidade. Quem não conhece pode virar o rosto com nojo e se perguntar qual cabeça doentia criaria letras assim. Coração, dor, sangue, carne, morte e lágrimas; necrofilia, estupro e outros extremos da existência humana – essas são coisas que interessam a Till Lindemann. Em seus textos, ele entra na cabeça dos loucos que povoam nosso mundo e capricha nas provocações. "Quanto mais indignadas as pessoas ficam, mais estimulado eu fico para escrever coisas ainda piores", afirmou em entrevista ao jornal Die Welt.
O primeiro álbum solo de Lindemann não seria diferente. Dele se pode esperar as mesmas letras perturbadoras, satíricas e irônicas, por exemplo sobre travestis tailandeses, consumo diário de comprimidos ou como lidar com um aborto.
Pet Shop Boys do rock
Na verdade, o projeto solo do vocalista do Rammstein não é bem um projeto solo. Como os demais integrantes, Lindemann também aproveitou o recesso criativo da banda para finalmente firmar uma parceria planejada há muito tempo. Há 14 anos, ele conheceu o produtor sueco Peter Tägtgren, que ganhou o status de ícone da cena com as bandas Hypocrisy e Pain, das vertentes death e black do heavy metal, respectivamente. Tägtgren é um gênio da música, que toca uma série de instrumentos, compõe e produz. Ele e Lindemann sempre quiseram fazer algo juntos.
A ocasião surgiu quando Lindemann ponderava o que fazer durante os dois anos de recesso do Rammstein e Tägtgren trabalhava num novo álbum do Pain. Os dois se reuniram no lendário estúdio Abyss, de Tägtgren, em Estocolmo, misturaram suas raízes musicais e assim nasceu Skills in pills, uma mistura de vocais do Rammstein com o metal do Pain. Os músicos gostam de relembrar esse período: "A produção do álbum teve um caráter de férias", conta Lindemann. "O estúdio do Peter fica na beira de um lago. Eu podia arremessar meu anzol pela janela e, enquanto trabalhávamos, volta e meia sentia a fisgada de um peixe."
Com exceção dos arranjos orquestrais, os dois fizeram tudo sozinhos. "Somos uma banda de dois integrantes", diz Lindemann, "uma espécie de Pet Shop Boys do rock'n'roll". A questão do nome foi rapidamente resolvida: o projeto tem um nome curto, conciso e fácil de pronunciar em todas as línguas: Lindemann.
Para o inferno, com certeza
Skills in pills foi lançado em 19 de junho. O disco tem um pouco de tudo e deve agradar de roqueiros a metaleiros, com ritmos pesados e também dançantes. Lindemann canta com a famosa voz do Rammstein, mas em inglês. E com um forte sotaque alemão, o que não é por acaso. Lindemann tentou eliminar o sotaque, mas Tägtgren o achou charmoso e insistiu precisamente neste "fucking inglês germânico". Já as letras continuam chocantes. "Por esse álbum vamos definitivamente para o inferno", diz Tägtgren. Os dois esperam que o público consiga entender o humor que está nas entrelinhas.
A novidade já está disponível no Youtube: o vídeo Praise abortion está há três semanas na rede e já soma cerca de 2,5 milhões de visualizações.
Os músicos acreditam que a parceria não vai se encerrar com esse primeiro projeto. Eles se divertiram demais para isso, como declararam à revista Metal Hammer. Além disso, Lindemann e Tägtgren planejam alguns shows se o álbum for bem-sucedido.
Para o segundo semestre do ano, aliás, espera-se também novidades do Rammstein.