Projeto exibe acervo do último governo da RDA
10 de abril de 2015"Nós éramos atores amadores, mas éramos bons atores amadores", diz Herbert Schirmer. Maquinista por formação, livreiro e jornalista, ela era um nome conhecido na cena cultural da Alemanha Oriental. Mas se tornou famoso por outro emprego: ministro da cultura nos últimos meses de existência do país.
Vinte e cinco anos depois da formação do último governo da Alemanha Oriental, ele se encontrou pela primeira vez com seus ex-colegas. São membros do gabinete de Lothar de Maizière, nas instalações da Fundação Federal para Avaliação da Ditadura do SED (Partido Socialista Unitário da Alemanha Oriental), a convite de Anna Kaminsky, diretora da instituição, e da atual ministra alemã da Cultura, Monika Grütters.
A reunião ocorreu durante a apresentação do projeto multimídia Aufbruch und Einheit – Die letzte DDR-Regierung ("despertar e união, o último governo da RDA", em tradução livre), sobre o primeiro – e último – governo da Alemanha Oriental eleito democraticamente.
O projeto permite, pela primeira vez, o acesso ao público a cem documentos originais, 200 fotos e 50 vídeos, além de entrevistas de testemunhas da época, através da internet. Kaminsky afirma que o site deve não só documentar o trabalho dos 23 ministérios, que permaneceram menos de seis meses no poder, mas, especialmente, também servir como uma homenagem.
Reunificação na perspectiva oriental
"Um ponto sensível para os ex-ministros e secretários de Estado é que a pesquisa histórica da Reunificação ainda é baseada num mito", argumenta Markus Meckel, ministro do Exterior da Alemanha Oriental entre abril a agosto de 1990. "O mito é que o Muro caiu e, então, Helmut Kohl veio e fez a unidade", afirma.
Meckel diz que até hoje sente falta de uma narrativa histórica sobre o último governo da Alemanha Oriental e sua relação com a unidade alemã. "Nele, não somente ocorreu um processo de unificação, mas também começou uma transformação."
Ele destaca que a tarefa daquele governo era modelar e construir uma democracia, do zero, a partir de uma ditadura. "Através dessa documentação, pela primeira vez, o foco sobre a negociação da Reunificação é colocado na política do lado oriental desse processo. E, assim, nos torna cientes de que houve um processo de negociação."
A visão do lado oriental das negociações não era, entretanto, uniforme. A coalizão eleitoral que surpreendeu ao vencer as eleições, a "Aliança para a Alemanha", reunia, ela própria, diversas correntes políticas.
E, para formar um governo, ela ainda teve que se unir em coalizão ao Partido Social-Democrata da Alemanha Oriental e aos liberais. Em 12 de abril de 1990, era confirmado, oficialmente, o novo governo da Alemanha Oriental, com Lothar de Maizière como primeiro-ministro. O governo de transição era uma reunião de diversas forças políticas, com uma tarefa política específica, e não chegava a ser um círculo de amigos.
A solidariedade suprapartidária não durou muito tempo. Todos sabiam o que não queriam, mas as divergências começaram a surgir quando a tarefa era definir o que se queria realizar.
Um problema no último governo da Alemanha Oriental não era apenas sua fragmentação interna. Muitos ministros não tinham experiência alguma de governo e administração. E eles tinham tarefas árduas, como estabelecer eleições locais, elaborar novas diretrizes públicas, segundo princípios democráticos.
"E, de repente, vem um homem e diz: 'Meu Deus, estes atores amadores. Não poderíamos substituí-los, de alguma forma?'", lembra Schirmer, citando o então governador do estado alemão-ocidental da Baviera, Max Streibel. O comentário tocava no sentimento de inferioridade nutrido pelos alemães orientais. "Aquilo soou meio estranho", destacao ex-ministro.
Hoje, Schirmer vê a coisa se forma mais descontraída. "O homem tinha razão. Afinal, éramos, sim, atores amadores." Mas o que o persegue até hoje é a ideia de que a autoconfiança alemã-oriental foi crescendo em algum momento.