NYT: Promessa de Temer sobre apoio à Lava Jato "soa falsa"
7 de junho de 2016O jornal americano The New York Times voltou a dedicar suas páginas à crise política brasileira. O editorial, publicado na edição desta segunda-feira (06/06), aborda as primeiras semanas da gestão do presidente interino Michel Temer, em texto intitulado "A medalha de ouro do Brasil em corrupção".
O veículo diz que Temer, já em seu primeiro dia como presidente interino, no mês passado, "demonstrou pouco juízo ao nomear um ministério inteiramente branco e masculino". "Isso compreensivelmente irritou muitas pessoas num Brasil racialmente diversificado", acrescenta.
O texto cita ainda que sete dos novos ministros "estavam manchados por um escândalo de corrupção que abalou a política brasileira", referindo-se ao esquema investigado pela Operação Lava Jato. Segundo o NYT, as nomeações levantaram suspeitas de que o afastamento temporário da presidente Dilma Rousseff "teve um motivo oculto: acabar com a investigação".
O jornal americano lembra que, duas semanas depois da formação do novo governo, o então ministro do Planejamento, Romero Jucá, licenciou-se do cargo após o vazamento de uma conversa telefônica em que teria sugerido um pacto para paralisar as investigações.
O artigo também menciona a queda de Fabiano Silveira do Ministério da Transparência, antiga Controladoria-Geral da União, após a divulgação de áudios em que o político criticava as investigações da Lava Jato acerca da corrupção na Petrobras.
Tais escândalos teriam forçado o presidente interino "a prometer, na semana passada, que o Poder Executivo não interferiria nas investigações envolvendo a Petrobras", diz o texto. Para o NYT, porém, "levando em conta os homens com que Temer se cercou, a fala soa falsa".
"Se o presidente interino quer ganhar a confiança dos brasileiros, muitos dos quais têm classificado o afastamento de Dilma como um golpe, ele e seu gabinete devem tomar medidas significativas contra a corrupção", alerta o veículo.
O editorial opina ainda sobre o foro privilegiado concedido a altos funcionários do governo, como ministros e parlamentares. "Essa proteção irracional tem claramente permitido uma cultura de corrupção e impunidade institucionalizada", destaca.
"Não está claro ate que ponto Temer irá para eliminar a corrupção. Se ele é um homem sério, e quer acabar com as suspeitas sobre os motivos para a remoção de Dilma, seria sábio se ele pedisse uma lei dando fim à imunidade para parlamentares e ministros em casos de corrupção", conclui o NYT.
EK/nyt