Promotores pedem prisão de ex-guarda nazista de 101 anos
18 de maio de 2022Promotores do estado alemão de Brandemburgo pedem que um homem de 101 anos, que atuou como guarda de um campo de concentração durante o regime nazista, seja condenado a cinco anos de prisão.
O homem, identificado como Josef S., se declarou inocente. Ele é a pessoa mais velha a ser acusada de cumplicidade em crimes de guerra durante o Holocausto.
A acusação envolve especificamente cumplicidade no assassinato de 3.518 pessoas no campo de concentração de Sachsenhausen, no subúrbio de Oranienburg, perto de Berlim, entre 1942 e 1945.
A promotoria aponta que Josef S. atuou em Sachsenhausen do final de 1941 até fevereiro de 1945. Ele tinha 21 anos quando se juntou à SS.
Em interrogatório, o homem de 101 anos disse que não fez "absolutamente nada" no campo de concentração e negou conhecimento dos vastos crimes que ocorreram no local.
Os promotores, porém, afirmam que ele "conscientemente e voluntariamente" participou de assassinatos enquanto trabalhava como guarda em Sachsenhausen.
Uma porta-voz do tribunal disse à agência de notícias AFP que a promotoria também acredita que "as provas apresentadas pela acusação foram totalmente confirmadas".
"Você aceitou a desumanização das vítimas e aguentou isso. Não acredito nessa história de 'não sabíamos de nada'", disse o promotor Cyrill Klement ao acusado nesta terça-feira (18/05), no tribunal.
As alegações contra o idoso incluem a participação na "execução por fuzilamento de prisioneiros de guerra soviéticos em 1942" e a implantação do "gás venenoso Zyklon B" nas câmaras de gás de Sachsenhausen.
O homem está sendo julgado desde outubro do ano passado no tribunal de Neuruppin. As audiências do caso estão sendo realizadas na cidade vizinha de Brandemburgo.
O idoso permaneceu livre durante o seu julgamento. Se condenado, é improvável que ele seja preso, dada sua idade. Um veredicto é esperado para o início do próximo mês.
O que foi Sachsenhausen?
Mais de 200 mil pessoas, principalmente judeus, mas também ciganos, opositores ao governo e homossexuais, entre outras minorias, foram presas em Sachsenhausen entre 1936 e 1945 apenas por sua identidade religiosa e étnica, orientação sexual ou crenças políticas.
Além dos assassinatos em massa cometidos no local, dezenas de milhares de pessoas morreram devido a trabalhos forçados ou como resultado de experimentos médicos antiéticos, fome e doenças. Estima-se que, durante o Holocausto, seis milhões de judeus tenham sido mortos pelos nazistas. Em 1945, Sachsenhausen foi libertado por tropas soviéticas.
Aumento nos processos desde 2011
Mais de 75 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, os promotores estão levando a julgamento os últimos casos possíveis contra perpetradores nazistas e criminosos de guerra ainda vivos.
A maior parte dos casos recentes é resultado de precedente aberto em 2011 contra o ex-guarda ucraniano John Demjanjuk, então com 91 anos.
Ao contrário do que ocorria nas últimas décadas, a partir de então, passou a não ser mais necessário que os promotores tenham de provar o envolvimento direto em assassinatos individuais de forma a obter a condenação por crimes de guerra nazistas. As acusações passaram também a ser feitas contra pessoas consideradas cúmplices de participar do maquinário nazista do Holocausto.
Além do caso de 2011 contra John Demjanjuk, os promotores alemães também levaram a julgamento Oskar Gröning, o "contador em Auschwitz", e Reinhold Hanning, guarda da SS em Auschwitz. Gröning e Hanning tinham mais de 89 anos quando condenados, mas morreram sem cumprirem suas penas.
Em 2020, Bruno Dey foi considerado culpado aos 93 anos e recebeu uma pena suspensa de dois anos.
le (AFP, AP, dpa)