Poluição da água
17 de outubro de 2010Presentes em pesticidas, solventes ou medicamentos, as substâncias tóxicas causam danos imprevisíveis ao meio ambiente. Esses xenobióticos representam uma ameaça ao ser humano e aos outros animais, afetando seu sistema hormonal. Isso foi comprovado por inúmeros estudos com peixes, águias-marinhas e até ursos polares.
A hidróloga sueca Malin Falkenmark se refere a uma bomba-relógio. Essas substâncias representam um problema sério para as gerações futuras, já que afetam a reprodução. "Se um tóxico for diluído na água, vai se espalhar pelo mundo todo, pois a água está em toda parte", alerta.
Pílulas anticoncepcionais também poluem
Um exemplo disso é o estrogênio. O corpo elimina através dos excrementos tanto os hormônios naturais como os artificiais, a exemplo do estrogênio contido nas pílulas anticoncepcionais e liberado.
Produtos químicos industriais também contêm substâncias que desencadeiam um efeito hormonal. Na água, elas se mantêm ativas durante muito tempo, pois dificilmente se decompõem biologicamente, explica a cientista Patricia Holm, da Universidade da Basileia.
"Uma vez que essas substâncias têm efeito análogo ao de um hormônio, no fim das contas basta uma única molécula para entrar em interação com um receptor", descreve a especialista. Concentrações mínimas podem se tornar ativas no corpo humano e em outras espécies, como peixes, anfíbios e outros vertebrados que vivem na água.
Número de estudos aumenta
As investigações sobre o efeito dessas substâncias tóxicas sobre os seres vivos ainda são incipientes. Só recentemente se descobriu, por exemplo, que os microorganismos presentes nas estações de tratamento de água podem reverter produtos metabolizantes à sua forma ativa.
A mistura de produtos tóxicos em rios e oceanos pode intensificar ainda mais esse efeito. O alcance do fenômeno continua sendo investigado, pois o efeito dessas substâncias xenobióticas sobre o organismo humano ainda é bastante controverso.
As observações empíricas dos epidemiologistas são alarmantes. "Podemos constatar que, nos últimos 50 anos, a contagem de espermatozóides diminuiu drasticamente em diversos países, até pela metade", informa a bióloga Patricia Holm. "Quando ao sistema reprodutor feminino, sabemos que a taxa de câncer de mama está aumentando", complementa.
Água não é lugar para remédios
Patricia Holm consideram importante um debate social que envolva biólogos, químicos, juristas e políticos. Os consumidores também teriam que se perguntar quais substâncias são realmente necessárias e relevantes, e quais são usadas por uma mera questão de conforto.
Cerca de 30 mil remédios constam da listagem da União Europeia; a cada dia, esse número aumenta. Aproximadamente um terço dos medicamentos comprados são jogados no vaso sanitário, sem que os consumidores atentem para os danos resultantes. Não seria difícil conscientizar as pessoas desse problema, opina Claudia Castell-Exner, da Associação Técnica e Científica Alemã para Gás e Água (DVGW).
"Nos anos 70, havia a clareza de que remédios não consumidos não podem ser jogados no vaso sanitário. As farmácias de toda a Alemanha aceitavam a devolução de medicamentos não usados. Esse sistema foi abolido no ano passado, sob o argumento de que o comércio de remédios por internet também não recebe de volta os produtos", afirma Castell-Exner.
Os métodos modernos de análise química conseguem identificar a maioria dos produtos tóxicos. No entanto, seria melhor nem permitir que eles se espalhassem, advertem os especialistas. Afinal, uma vez chegados ao ciclo aquático, mais cedo ou mais tarde eles retornarão aos seres vivos, seja através da água potável, seja da cadeia alimentar.
Autora: Agnes Bührig (sl)
Revisão: Augusto Valente