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'Clima não é luxo'

Friedrich Schmidt (rr)8 de dezembro de 2008

Cem Özdemir, recém-eleito presidente do Partido Verde alemão, fala à Deutsche Welle sobre as alternativas de seu partido no combate à crise financeira e a necessidade de não se deixar de lado a crise ambiental.

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Cem Özdemir: temos 'duas crises'

DW-WORLD.DE: Sr. Özdemir, o senhor disse que a timidez perante a mídia não consta das tarefas do presidente do Partido Verde. Especialmente nesta época de crise financeira, muitos membros esperam do senhor que dê respostas e sugestões em vez de apenas criticar o governo. O que é importante e correto do ponto de vista verde? O que deve ser feito nesta época de crise?

Cem Özdemir: Fazemos uma oposição responsável. Quando o governo faz algo de certo, nós o reconhecemos. Mas, quando faz algo de errado ou insuficiente, também o dizemos. É assim que entendemos a função de um partido de oposição. Achamos correto que a premiê e o governo federal tenham definido metas de proteção ao clima que prevêem 40% menos emissões de CO2 até 2020. Mas vemos que o governo não faz nada para alcançar tal meta.

Tome como exemplo as decisões recentes quanto a veículos automotivos. O acordo inicial – definido no tempo em que Merkel era ministra do Meio Ambiente – previa que as emissões de CO2 seriam reduzidas em 120g até 2012.

Mas foram feitas tantas exceções que acabou-se congelando os níveis atuais até 2012 [quando serão introduzidos limites de emissões de forma escalonada]. Progresso tem outra cara e proteção ao clima, também. Quando os lobistas aumentam a pressão, o governo e a chanceler federal cedem. Assim não alcançaremos meta alguma.

Mas não seria necessário reduzir a proteção ao clima diante de uma situação desconhecida até então?

Temos duas crises: a crise do mercado financeiro, que cada vez mais se torna uma crise econômica, e a outra crise, que já existia antes e continuará existindo, que é a crise ambiental. A única solução é pensarmos as duas em conjunto, o que o governo alemão infelizmente não faz. Para a Alemanha e a Europa, tornar-se o pólo número 1 de inovação ecológica é a única chance de sairmos dessa crise a longo prazo.

De forma alguma podemos dizer que a proteção ao meio ambiente é um luxo, como o fez o ministro alemão da Economia. Especialmente em época de crise é preciso efetuar certas manobras importantes. Temos, por exemplo, um investimento insuficiente no setor educacional. Investir na educação é investir no futuro, nas mentes brilhantes que criarão produtos que amanhã garantirão os empregos neste país.

Por outro lado, também precisamos investir na infra-estrutura de transportes e também nos três Es: energias renováveis, economia de energia e eficiência energética. Aí é que está o futuro da Alemanha como pólo econômico. Tenho a impressão de que passamos a liderança nesse setor a Barack Obama, que nem assumiu o poder e já parece que os americanos fazem mais que os europeus. Isso me irrita muito, pois já fomos líderes na Europa.

O senhor disse uma vez que não exclui uma coalizão com democratas-cristãos no âmbito federal. Mas há limites?

Quando o assunto é coalizão, não se trata de maiorias aritméticas, mas de conteúdos. Os dois ou três partidos envolvidos precisam cooperar entre si de forma séria durante quatro anos e depois poder reconhecer a si próprios no resultado.

E quanto a usinas nucleares? Democratas-cristãos e liberais são a favor do retorno à energia nuclear.

Se eles têm dúvidas quanto a isso, então nem precisamos negociar. Mas o problema não é só a energia nuclear. Trata-se de uma mudança geral de paradigma. Por exemplo, a CDU pretende construir novas usinas a carvão? Ou pretende mudar de paradigma e transformar a Alemanha em um pólo econômico baseado em energias renováveis, que é onde o futuro está?

É possível abrir mão da energia nuclear e de usinas termelétricas a carvão ao mesmo tempo?

Não é isso que propomos. Não queremos novas usinas nucleares, mas infelizmente teremos que usar as usinas existentes e as que se encontram em construção por um período de transição. No entanto, para alcançar a ousada meta de reduzir as emissões de CO2 em 40% até 2020, não podemos ter novas usinas a carvão, pois com cada nova usina nos afastamos desta meta.

O senhor é o primeiro alemão de origem estrangeira a chegar à liderança de um partido político alemão. O senhor se vê como um pioneiro em integração e ascenção social?

Não fui ver os registros de outros políticos para saber até que ponto suas raízes vêm dos antigos germanos. Mas o fato de conversarmos a respeito mostra o quão longe estamos de viver em uma sociedade na qual a origem é irrelevante. Na qual o lugar de onde meus pais vêm é menos importante que aquilo que pretendo fazer, aquilo que digo, minhas metas. Essa é a sociedade que eu quero. Espero que minha eleição contribua um pouco para que um dia não importe se alguém se chama Hans, Eberhard, Gertrud ou Cem Özdemir.