Cinema
1 de dezembro de 2008No documentário Von einem der auszog. Wim Wenders' frühe Jahre, dirigido por Marcel Wehn, sobre o início da carreira do cineasta alemão Wim Wenders, o montador Peter Przygodda, um dos entrevistados, lembra seu primeiro trabalho com o então jovem Wenders, ainda estudante da Escola de Cinema de Munique e preparando seu filme de conclusão de curso, Summer in the City: "Ele chegou com tomadas eternamente longas, muito longas mesmo. Eu disse: tomadas longas sim, mas o melhor é cortar exatamente para parecer longo".
Seguindo o lema dramatúrgico "ser curto para parecer longo" Przygodda editou, a partir de então, praticamente todos os filmes dirigidos por Wenders nas décadas seguintes. E é desta premissa narrativa que vem o título a ele concedido de "mestre na economia dramatúrgica", que acompanha as homenagens que o editor recebe nesta segunda-feira (1°/12) da Associação dos Montadores Alemães, numa série de cerimônias que conta, entre outros, com uma saudação de Volker Schlöndorff, diretor do clássico A honra perdida de Katharina Blum, também montado por Przygodda.
Ao longo de seus 40 anos de carreira, Peter Przygodda editou quase 100 filmes, que vão de vários clássicos do cinema alemão – dirigidos, entre outros, por Wim Wenders, Volker Schlöndorff e Romuald Karmarkar – a uma série de documentários e também filmes de entretenimento para a TV. A justificativa para as homenagens que recebe estão, segundo os organizadores, "em sua precisão ao saber destilar do material o cerne emocional de uma história".
Ligações com o Brasil
Nascido em Berlim no ano de 1941, Przygodda foi um dos co-fundadores de um pequeno teatro alternativo nos anos 1960, no bairro Kreuzberg. A partir de 1967, passou a trabalhar como assistente de montagem nos estúdios de Artur Brauner. Em 1970, conheceu em Munique o então jovem Wim Wenders, com quem editaria nos anos seguintes, entre muitos outros, os inesquecíveis Alice nas cidades, Paris, Texas, Asas do desejo e o último longa do diretor, que estreou há pouco nos cinemas do país: Palermo shooting.
Przygodda, que é casado com uma socióloga baiana, atuou também como diretor de vários filmes, entre eles …als Diesel geboren (Nascido Diesel, 1978) e Alle Geister kreisen (Todos os espíritos circulam, 1985), ambos ambientados no Brasil.
Enquanto o primeiro é dedicado ao cotidiano dos motoristas de caminhão no país, o segundo – uma reflexão sobre o fazer cinematográfico – narra a viagem de uma cineasta pelo interior do Brasil, onde pretende rodar um documentário sobre a ligação entre carnaval, religião e o dia-a-dia da população.
Irmão gêmeo
Mantendo um certo saudosismo dos tempos da moviola anteriores à edição digital, Przygodda acentua, em depoimento a Gabriele Voss no documentário Schnitte im Raum und Zeit (Cortes no Espaço e no Tempo), as vantagens daqueles que "antes trabalhavam de forma convencional", ou seja, dos que não são filhos da era digital. Nos velhos tempos, lembra ele, não havia a "superfície niveladora" do computador.
"Para mim, isso não tem nada a ver com nostalgia, mas com a necessidade de se trabalhar (intelectualmente) de forma convencional, não importa usando que aparato técnico. Não é uma questão de consciência, mas de subconsciência", diz Przygodda, que até hoje acha "um pouco suspeitas" as imagens somente virtuais. Ao contrário da forma tradicional de montar um filme, onde havia maior cautela em relação ao material. "Você não quer destruir nada, tem a cópia real, é material. Você então mergulha naquilo. Essa é a diferença fundamental entre as duas formas", teoriza o montador.
Peter Przygodda já foi diversas vezes homenageado por seu trabalho, entre outros com o Prêmio do Cinema Alemão por Movimento em falso e O amigo americano, ambos dirigidos por Wim Wenders. E é de Wenders também a seguinte frase, incluída no documentário de Marcel Wehn sobre os anos iniciais de sua carreira: "Se é que hei de ter, de alguma forma, um irmão gêmeo na vida, este é Peter Przygodda". (sv)