Putin reconhece repúblicas separatistas no leste da Ucrânia
22 de fevereiro de 2022O presidente da Rússia, Vladimir Putin, reconheceu formalmente nesta segunda-feira (21/02) a independência de duas regiões no leste da Ucrânia, controladas por separatistas pró-Rússia. A decisão praticamente enterra os esforços diplomáticos das últimas semanas e ameaça descarrilar as negociações de paz em torno do Acordo de Minsk.
Em pronunciamento ao vivo, o líder russo disse que a situação na região de Donbass é extremamente crítica: "Mais uma vez, enfatizo que a Ucrânia não é somente um país vizinho, mas uma parte de integral nossa herança cultural", afirmou, referindo-se ao território ucraniano como "as antigas terras russas”. Putin buscou dar um contexto histórico para explicar a ligação entre os povos da Ucrânia e da Rússia desde antes da era soviética até a queda do regime, afirmando que estariam "conectados diretamente pelo sangue".
Segundo Putin, o primeiro líder soviético Vladimir Lenin, deixou a Rússia em desvantagem histórica, e a Ucrânia moderna foi criada pela União Soviética. O país, disse, "jamais teve uma tradição genuína como Estado independente". Uma vez que o Estado ucraniano não conseguiu se consolidar, o país teria se voltado para as potências do Ocidente, principalmente, os Estados Unidos.
"Regime fantoche" do Ocidente
Putin se queixou de como a Ucrânia tratou a Rússia após a era soviética. Os protestos de 2015, que resultaram na derrubada do governo pró-Rússia, teriam resultado num golpe de Estado patrocinado pelo Ocidente, principalmente pelos EUA, com milhões de dólares. Essa intervenção, segundo afirmou, ao invés de gerar democracia, cimentou a divisão do país, e as "promessas vazias" do Ocidente vieram acompanhadas pelo aumento da corrupção, pobreza e deixaram a indústria à beira da falência.
Assim, prosseguiu o chefe do Kremlin, a Ucrânia se tornou um "regime fantoche" manipulado pelos EUA. Ele acusou Kiev de planejar produzir suas próprias armas nucleares, além de desenvolver outros armamentos com apoio estrangeiro. o que seria "inaceitável". A adesão da Ucrânia à Otan seria uma ameaça direta à Rússia. "Tentaram, vez após vez, nos dizer que a Otan é uma organização para paz, mas sabemos a verdade por trás disso", comentou.
O anúncio de Putin significa uma nova e severa escalada nas tensões entre o Ocidente e a Rússia devido à crise próxima às fronteiras com a Ucrânia. Líderes ocidentais observaram com consternação o anúncio de Putin, e disseram que preparam uma série de sanções imediatas contra a Rússia.
Em referência a essas ameaças de medidas punitivas, Putin assegurou: "Eles imporão sanções de qualquer maneira. Motivos fabricados para as sanções sempre existirão. A Rússia tem o direito de tomar medidas para sua segurança, e é isso que vamos fazer." E justificou: "Por tudo isso, decidi reconhecer a soberania das repúblicas de Donetsk e Lugansk."
Milícias separatistas apoiadas pela Rússia realizam desde 2014 uma insurgência no Leste da Ucrânia e exercem o controle sobre grande parte das províncias de Lugansk e Donetsk, já declaradas repúblicas populares autônomas pelas milícias pró-Moscou. Segundo estimativas da ONU, o conflito já matou mais de 14 mil pessoas, a maioria nas regiões sob domínio dos separatistas.
Insurgência já dura sete anos
A resolução, aprovada na semana passada pelo Parlamento russo, a Duma, estabelece que as regiões de Donetsk e Lugansk devem ser reconhecidas como “repúblicas populares” e serem tratadas como Estados independentes.
Antes da fala de Putin, o Kremlin divulgou uma nota afirmando que Putin iria, de fato, assinar a resolução. Segundo o texto, o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o presidente da França, Emmanuel Macron, lamentaram a decisão, após ambos conversarem com o líder russo por telefone.
“Ao mesmo tempo, eles indicaram sua prontidão para continuar os contatos”, disse a nota. A França e a Alemanha vêm atuando como mediadores no conflito entre Kiev e Moscou.
Segundo o Kremlin, as lideranças dos grupos separatistas em Donestk e Lugansk apelaram a Putin para que ele endossasse resolução. O apelo foi feito em razão de “agressões militares por parte das autoridades ucranianas, com bombardeios em massa do território de Donbass, que gerou sofrimento à população civil”.
rc/av (AFP,DPA,ots)