Putin visita Pequim para fortalecer parceria russo-chinesa
6 de junho de 2012Vladimir Putin deixa Barack Obama à espera. O novo (e antigo) presidente russo prioriza outros países em suas viagens iniciais no cargo. À cúpula do G8, em Camp David, ele tampouco compareceu. Nas últimas semanas, Putin viajou a Belarus, Alemanha e França. Na terça-feira (05/06), embarcou para uma visita de três dias à China. A cronologia das viagens e a duração da permanência nos respectivos países dá mostras de que a importância da China cresce para a política externa russa.
Durante o encontro em Pequim, Putin e seu homólogo chinês, Hu Jintao, pretendem fortalecer as parcerias estratégicas entre seus países. "Essa relação baseia-se em muitos pontos em comum, principalmente no âmbito econômico e comercial, mas também em posições partilhadas a respeito da ordem internacional, como por exemplo a rejeição de intervenções por razões humanitárias", explica Margarete Klein, especialista em questões ligadas à Rússia do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), sediado em Berlim.
Contra a hegemonia norte-americana
A Rússia e a China querem se posicionar perante o Ocidente, especialmente em relação aos EUA. Os dois países rejeitam a hegemonia norte-americana na política internacional, favorecendo um sistema internacional multipolar, no qual Moscou e Pequim exerçam o papel de pólos de poder. A Rússia teme a ampliação da Otan rumo ao Leste e se opõe ao planejado escudo antimísseis da aliança. Sendo assim, a parceria estratégica com a China vem a calhar. E o interesse de Pequim nesta parceria também é grande, acredita Willy Lam, jornalista de Hong Kong.
"A China encontra-se sob forte pressão, sendo obrigada a ouvir muitas críticas dos países ocidentais. Por isso, Pequim está tão interessada no apoio da Rússia contra o Ocidente", diz Lam. O jornalista acredita que especialmente em questões que dizem respeito aos direitos humanos e à política para o Mar da China Meridional, Pequim aposta no apoio russo.
O país asiático reivindica o controle de grandes territórios no Mar da China Meridional. Há anos acontecem lutas entre chineses e diversos países vizinhos da região. Nos últimos meses, os conflitos aumentaram, sobretudo com as Filipinas – chegando até mesmo a ataques militares. O governo norte-americano se posicionou do lado das Filipinas.
Posições comuns no Conselho de Segurança
No Conselho de Segurança da ONU, tanto a Rússia quanto a China rejeitam a aplicação de sanções mais rígidas contra o Irã e contra a Síria. Depois do massacre de Hula, na Síria, em meados de maio último, aumentou a pressão sobre a China e a Rússia, para que ambos deixem de vetar as resoluções da ONU contra o regime de Bashar al Assad.
Willy Lam acredita que, durante a visita à China, Putin combinará estreitamente com os governantes em Pequim sua futura conduta no Conselho de Segurança. Observadores avaliam que os dois países continuarão tentando evitar sanções mais sérias contra o regime Assad.
Fortalecimento da Organização de Xangai para Cooperação
Nesta quinta-feira, Putin participa do encontro de cúpula da Organização de Xangai para Cooperação (OXC). No início de maio último, os ministros do Exterior da Rússia e da China anunciaram o desejo dos dois países de fortalecer a organização.
A OXC foi fundada há 11 anos pela China e pela Rússia, em cooperação com países como Cazaquistão, Tadjiquistão, Quirguistão e Uzbequistão. O objetivo da organização é estreitar a cooperação entre seus Estados-membros na área de política de segurança e econômica. E é exatamente nesse setor onde há uma série de problemas entre a China e a Rússia: "Os dois países discutem há anos a cooperação em questões de energia. Trata-se do comércio de petróleo e gás da Rússia para a China", analisa Lam.
É improvável que os dois países entrem num acordo a respeito do preço do combustível. Ao mesmo tempo, observa o jornalista, há um recuo das relações tecnológico-militares entre Pequim e Moscou. "O Exército chinês compra cada vez menos armas da Rússia." E uma possível ampliação da OXC é também motivo de desavenças. A Índia, que pertence hoje ao grupo de países observadores, é uma concorrente tradicional da China. A Rússia defende a entrada da Índia no grêmio. A China rejeita esse ingresso.
Autor: Christoph Ricking (sv)
Revisão: Augusto Valente