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Quais são as perspectivas para economia brasileira em 2020?

13 de janeiro de 2020

Consumo deve impulsionar crescimento, enquanto desemprego e indústria seguirão como desafios, preveem economistas. Setores como varejo e construção civil avançaram, mas retomada ainda deve enfrentar longo caminho.

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Contêineres no porto do Rio de Janeiro
Conflito comercial entre EUA e China pode ter impacto sobre exportações do Brasil, afirmam economistasFoto: picture-alliance/dpa/M. Say

Não é que a economia brasileira esteja pujante – ainda está longe de patamares pré-crise –, mas a previsão de economistas é de uma retomada mais acelerada em 2020. O crescimento deve ser pautado pelo consumo, e não pelo investimento, com desafios para a indústria e para a geração de empregos, afirmam.

Segundo o último relatório Focus do Banco Central, espera-se um crescimento do PIB de 2,3% em 2020, dentro do intervalo que o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou estimar, entre 2% e 2,5%. Para 2019, a estimativa é que tenha havido um crescimento do PIB de 1,17%

Após a lua-de-mel do mercado com o recém-empossado presidente Jair Bolsonaro, as projeções de crescimento foram sendo cortadas ao longo do ano passado, em meio a demonstrações de falta de articulação política por parte do Executivo e a um cenário exterior conturbado, principalmente pela disputa comercial entre Estados Unidos e China.

No entanto, economistas ouvidos pela DW Brasil destacam avanços no ano passado. Confira abaixo a avaliação deles sobre 2019 e suas perspectivas para 2020:

O que melhorou no último ano?

Do ponto de vista do que o governo entregou, os economistas ouvidos pela DW Brasil foram unânimes ao citar a reforma da Previdência, além da liberação do FGTS e da política de redução da taxa básica de juros Selic por parte do Banco Central (BC).

"A mudança mais importante acho que foi o corte da taxa de juros Selic, até porque a economia não respondia, e o governo soltou medidas de estímulo, como a liberação do FGTS", diz Paulo Gala, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e economista da Fator Administração de Recursos (FAR).

Com juros menores, o crédito se expandiu: de janeiro a novembro, segundo números do BC, a concessão de crédito livre cresceu 15% para pessoas físicas e 12% para pessoas jurídicas. E com mais crédito e liberação do FGTS, o varejo avançou de janeiro a outubro – último mês apurado pelo IBGE – 1,6% em relação ao mesmo período de 2018, além de ter havido seis meses seguidos de crescimento. 

Também beneficiada por uma Selic menor, a construção civil conseguiu sair do buraco. Em 2019, o PIB do setor deve ter uma expansão pela primeira vez após cinco anos consecutivos de queda. A estimativa é que o setor tenha crescido 2% em 2019, segundo dados divulgados em dezembro pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) em parceria com a FGV.

Comércio, serviços e construção são setores que, segundo os economistas entrevistados pela DW Brasil, devem seguir se expandindo em 2020.

O professor da Escola de Economia e Finanças da FGV Antônio Carlos Porto Gonçalves também aponta a redução do risco-país como uma conquista de 2019. O indicador, que mede a desconfiança de investidores, chegou em dezembro ao patamar mais baixo desde 2010, quando o Brasil ainda tinha grau de investimento, ou seja, carimbo de bom pagador.

O que ainda é desafio?

O desemprego permanece como um obstáculo: o Brasil ainda tem 12,5 milhões de pessoas desocupadas, conforme dados divulgados pelo IBGE. No terceiro trimestre de 2019, a taxa foi de 11,8% ante 11,9%, registrado no mesmo período em 2018, e 12,4% em 2017.

E o arrefecimento que se viu veio na esteira do aumento da informalidade, que bateu recorde. "Só dois setores geram bom emprego e em quantidade: industrial e serviços avançados, como tecnologia da informação (TI) e serviços financeiros. Esses dois setores crescem muito menos que o setor de serviços tradicional", diz Gala. "Enquanto esses setores não andarem, o bom emprego também não vai andar."

A indústria, observa o economista, segue com dificuldades. O setor acumula queda de 1,1% de janeiro a novembro, e ainda está em um nível de produção 17,1% abaixo do patamar recorde alcançado em maio de 2011, segundo o IBGE.

Mas o desafio vai além da situação econômica brasileira, na avaliação de Vieira. "A indústria tem problemas mais graves, porque ela tem uma parcela de problemas em relação à produtividade, e também por ser um setor, no Brasil, de assemblage, onde muito se monta e pouco se produz em termos reais", aponta.

Gala, por sua vez, defende que haja um esforço deliberado do governo de reindustrialização do país.

Crescer a partir do investimento, e não só puxado pelo consumo, é outra questão na qual talvez não se avance tanto ainda neste ano, segundo Vieira. "O investimento começa a vir com as concessões, mas concessão tem tempo de maturidade desse investimento. Ainda que o dinheiro entre, a conversão em investimento depende da maturidade do processo", diz.

O que está na pauta econômica em 2020?

O pacote de privatizações do governo, que avançou timidamente em 2019, deve ter mais ímpeto em 2020. Para Gala, há certa ingenuidade do governo na questão da venda de estatais.

"Em infraestrutura, a entrada do setor privado depende do setor público. Quando o governo faz grandes obras ou contrata grandes obras, aí a iniciativa privada entra para fazer as coisas, mas precisa da articulação do governo", diz o economista.

Já Vieira acredita que a pasta da Economia acaba propondo um número maior de companhias a serem vendidas para acabar aprovando um volume que gostaria de privatizar.

"Paulo Guedes coloca 200 empresas [no pacote de privatizações] para conseguir 100", diz. É com as concessões que se espera atrair investimento estrangeiro para o país. "Os estrangeiros têm muito interesse no setor sanitário, e boa parte dele não existe, eles vão ter que começar do zero", exemplifica.

Na pauta deste ano, ainda caminham as reformas administrativas e tributária, ambas com impacto para a economia. No exterior, o conflito entre as duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e China, também pode sobrar para o Brasil, já que gera incerteza e aversão ao risco por parte do investidor, além de possível impacto em exportações.

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