Quando violência conjugal é problema cultural
30 de março de 2005Weisser Ring (Anel Branco) chama-se a ONG alemã de ajuda às vítimas de violência e suas famílias. Grande parte de seu trabalho concentra-se no apoio aos maus-tratos domésticos. Embora seja muito comum no país a violência em famílias que imigraram para a Alemanha − especialmente entre as de origem turca −, as mulheres atingidas raramente procuram alguma assistência.
Um dos motivos para isso é a falta de conhecimentos do idioma, pois elas temem não serem compreendidas pelas funcionárias dos centros de atendimento. Derya Karaüzüm, de 29 anos, que atende na central do Weisser Ring em Duisburg, no oeste da Alemanha, é a única funcionária turca da associação no Estado da Renânia do Norte-Vestfália. Sua agenda passou a estar cheia desde que começou a trabalhar ali, há dois anos. Para ela, o fato de falar o idioma aumentou a confiança das vítimas em buscar apoio.
Problemas e soluções
Seu dia-a-dia é sem pausas. O trabalho consiste não só no aconselhamento às vítimas ou assessoria às mulheres que pretendem se separar dos maridos, mas também inclui a prevenção. Para isso, são distribuídos folhetos em centros sociais e pontos de encontro das mulheres estrangeiras.
As barreiras nem sempre são culturais: "Na primeira vez em que nos consultam, as vítimas recebem um vale para se aconselharem com um advogado de sua escolha. Além disso, em se tratando de um ato criminoso, tentamos prestar ajuda moral e espiritual", conta.
Derya Karaüzüm faz parte de uma equipe de 2500 voluntários da Weisser Ring. A associação existe desde 1976, com a finalidade de ajudar vítimas de criminalidade e violência. Além de roubos e delitos sexuais, os funcionários em geral são confrontados com a violência doméstica, provocada na maioria das vezes pelo alcoolismo, como conta Marianne Weich, que trabalha na Weisser Ring de Colônia.
Maus-tratos freqüentes em famílias estrangeiras
Marianne conta que a violência doméstica é bem mais freqüente entre famílias que vêm da Turquia do que entre as alemãs. Mesmo assim, no longo tempo que está no emprego, nunca teve uma cliente turca. Em Duisburg, entretanto, a situação é outra: desde 2003, quando Derya Karaüzüm começou a trabalhar, o número de vítimas turcas que busca auxílio quadruplicou. Isto, na sua opinião, não se deve apenas ao fato de falar o idioma, mas também por conhecer a problemática familiar e as tradições turcas.
"Muitas vezes a violência segue um esquema pré-definido: um dos cônjuges cresceu na Alemanha, mas tem nacionalidade turca. O outro vem da Turquia para casar-se na Alemanha. O conflito está programado", conta a funcionária. Darya conhece o medo destas mulheres e a dificuldade de se decidirem pela separação. Embora na Alemanha haja casas de amparo só para este tipo de vítima e seus filhos, além de elas terem garantido, por lei, que os maridos violentos não podem visitá-las, no final elas acabam voltando para casa por não aceitarem outra saída", lamenta.
Marianne Weich, de Colônia, explica que as mulheres alemãs enfrentam a mesma situação. O que a decepciona é a falta de coragem em manter a acusação contra os maridos: "Ela apanha, chama a polícia, presta queixa e geralmente na mesma noite aceita o marido de volta em casa. Ele pede desculpas, jura que nunca mais baterá nela e ela retira a queixa".
Marianne e Darya se conformam: seu trabalho é ajudar, mas as decisões têm de ser tomadas pelas próprias vítimas .