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Quanto tempo dura a imunidade ao novo coronavírus?

Joscha Weber
28 de outubro de 2020

Um estudo com 365 mil pacientes na Inglaterra indica que os anticorpos que protegem contra a reincidência da covid-19 permanecem no sangue menos que se pensava, sobretudo entre os mais idosos. DW confere os fatos.

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Homem e mulher jovens de máscara protetora
Foto: Christoph Hardt/Geisler-Fotopres/picture-alliance

"Estou imune", afirmou Donald Trump em seu retorno à campanha eleitoral após se recuperar da covid-19, acrescentando que, se pudesse, beijaria seu público ali. No fim, o mais famoso paciente do mundo acabou não o fazendo – e, ao que tudo indica, foi melhor assim. Pois, segundo o estado atual das pesquisas, não é garantido que o presidente dos Estados Unidos esteja realmente imune.

A questão da imunidade acompanha a pandemia desde o primeiro momento, e, diante do aumento vertiginoso do número de casos na Europa e América do Sul e do Norte, é mais urgente do que nunca.

Um novo estudo vem abalar as esperanças de uma imunidade natural sem vacinação: após examinar amostras de 365 mil pacientes recuperados da Inglaterra, pesquisadores do Imperial College London encontraram indícios de que a imunidade decai com o tempo. A DW apresenta os fatos.

Por quanto tempo se está imune, após uma infecção com o coronavírus?

Depende de vários fatores. Por exemplo, da idade: os testes do Imperial College mostraram que, nos pacientes maiores de 75 anos, os anticorpos adquiridos diminuem bem mais rapidamente do que nos mais jovens. Além disso, a formação de imunoglobulinas varia segundo o grau de gravidade da moléstia.

O fato de o número de anticorpos baixar mais lentamente entre profissionais da saúde leva os cientistas a crerem que a exposição repetida ou mais intensa ao Sars-Cov-2 também possa ser um fator. Portanto, se a imunidade durará semanas ou meses, depende de quem se infecta.

Em outro estudo, da Harvard Medical School e da Universidade de Toronto, constatou-se que a maior quantidade de imunoglobulinas se forma de duas a quatro semanas após o contágio, reduzindo-se em seguida. A taxa permanece mais elevada por cerca de quatro meses, levando a crer que "se esteja muito provavelmente protegido durante esse período", explica a pesquisadora-chefe Richelle Charles.

Mas tampouco esse estudo é prova definitiva de uma proteção duradoura contra a doença respiratória. Portanto permanece em aberto a questão da duração da imunidade.

Por que circulam afirmativas divergentes quanto à imunidade?

Elas dependem dos locais dos exames e do prazo ou âmbito dos estudos. Assim, em Nova York, EUA, os cientistas detectaram imunoglobulinas em 20% da população; em Heinsberg, Alemanha, em 15%; e na estação de esqui Ischgl, Áustria, em 40%. Todos os três locais foram focos de covid-19 durante o primeiro surto.

Num estudo em pequena escala na China, onde o vírus foi inicialmente detectado, constatou-se entre cidadãos que atravessaram a infecção que, já após uma média de dois meses, eles não apresentavam mais anticorpos no sangue. Por sua vez, pesquisadores da Universidade do Arizona concluíram, após examinar 6 mil indíviduos, que a imunidade permanece estável por pelo menos cinco meses.

Agora, a pesquisa do Imperial College de Londres demonstrou que, entre junho e setembro, caiu de 6% para 4,4% a parcela da população com anticorpos comprovados, o que sugere que a imunização tem prazo breve.

Além disso, a identificação dos anticorpos no sangue é considerada difícil, o que tambérm contribui para resultados fundamentalmente diversos. Alguns dos estudos, como é o caso do de Londres, sequer foram ainda submetidos a verificação científica. Assim, entre grande parte da comunidade, o consenso é que a questão ainda não foi suficientemente pesquisada.

Após ter se recuperado da covid-19, não é mais preciso se ater às medidas de proteção em vigor?

Pelo contrário. Da perspectiva legal, não há diferença entre cidadãos que sofreram da doença ou não. As medidas de precaução, que variam de país para país – e na Alemanha, também de região para região –, valem para todos e estão em parte sujeitas a sanções drásticas.

Do ponto de vista médico, os convalescentes de covid-19 igualmente devem seguir as regras sanitárias. Pois, por um lado, a imunidade não está assegurada, e por outro já se registraram casos de reincidência. "Mesmo que um teste confirme a presença de anticorpos, a pessoa deve se ater à medidas nacionais de segurança, como manter distância, portar máscara, e se submeter a exame, no caso de sintomas", observa o diretor do Imperial College London, Paul Elliot.

Há quem não adquira imunidade após contrair covid-19?

Há indícios nessa direção. Num estudo com soldados da Marinha americana, 41% não dispunha de anticorpos neutralizadores no sangue; num outro da Universidade Fudan, em Xangai, China, essa percentagem era de 6%. Isso significa não haver garantia de que todos que se contagiam com o coronavírus desenvolvam imunidade.

Em seu relatório constantemente atualizado, o Instituto Robert Koch (RKI), agência governamental alemã para controle e prevenção de doenças infecciosas, conclui que, segundo o atual estado das pesquisas, é incerto "quão regular, robusta e duradouramente se desenvolve uma imunidade".