Quatro décadas a serviço do consumidor
4 de dezembro de 2004"Muito bom", "bom", "satisfatório", "suficiente", "deficiente": mês por mês, a Stiftung Warentest (Fundação Teste de Produtos) divulga os predicados – correspondentes às notas escolares na Alemanha – atribuídos aos produtos e serviços que passaram pelo crivo de sua avaliação.
Escovas de dente, cremes para o rosto, máquinas de lavar roupas, faquinhas para descascar legumes, seguros de vida, brinquedos infantis, antenas parabólicas: nos 40 anos de sua existência, a entidade independente já submeteu a um teste de qualidade quase tudo o que pode ser comprado na Alemanha.
Atuação de amplo alcance
Divulgados em suas duas revistas, Test e Finanztest – que têm juntas uma tiragem de mais de 900 mil exemplares – e amplamente reproduzidos pelos meios de comunicação e mesmo por agências de publicidade, os resultados alcançam um grande público. Noventa e seis por cento de todos os adultos do país conhecem a Fundação; um terço dos alemães se orienta pelos resultados dos testes antes de se decidir por uma marca ou modelo, ao comprar um produto.
As notas atribuídas pelos inspetores – que compram os produtos a ser testados em lojas e supermercados, como se fossem meros consumidores – podem decidir sobre o sucesso ou o fracasso de uma mercadoria no mercado. Os fabricantes gostam de utilizar um predicado positivo da Warentest como propaganda adicional para seu produto, imprimindo o resultado em letras gigantescas nas embalagens.
E não são poucos os exemplos de produtos que foram aperfeiçoados para corrigir erros apontados nos testes da Fundação, ou mesmo retirados definitivamente das prateleiras em conseqüência de uma avaliação negativa.
Sempre houve contestações
Nem sempre os fabricantes se conformam com os defeitos que os inspetores apontam em seus produtos. "Todos os anos somos processados pelo menos dez vezes por causa de avaliações polêmicas", relata Werner Brinkmann, diretor da instituição. Até hoje, a Warentest ganhou a maioria dos processos judiciais, em alguns poucos casos chegou-se a um acordo. "Mas nunca fomos condenados a pagar indenização", afirma Brinkmann.
Contestações marcaram também o início da existência da instituição, que o parlamento alemão criou no dia 4 de dezembro de 1964, orientando-se por modelos existentes nos Estados Unidos desde os anos 1920. A Confederação da Indústria Alemã (BDI), por exemplo, não se mostrou nem um pouco entusiasmada com a idéia, afinal a propaganda já serviria para informar suficientemente o consumidor.
Independência pela recusa de anúncios
A Stiftung Warentest, que tem 270 funcionários, já testou e avaliou cerca de 73 mil produtos e serviços nesses 40 anos. Dos cofres públicos, o instituto recebe 6,5 milhões de euros por ano. Quase 90% de seu orçamento de 51 milhões de euros é composto, portanto, de receita próprias, resultantes em parte das vendas das duas revistas.
As publicações são, aliás, desprovidas de anúncios, conforme rezam os estatutos, para evitar influência da indústria. "Estou convencido de que esta é a única maneira de mantermos nossa independência", diz Brinkmann.