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Que papel cabe a Seul na crise da Coreia do Norte?

Esther Felden av
12 de abril de 2017

Enquanto Trump e Xi Jinping conversam sobre a Coreia do Norte, os EUA enviam um porta-aviões à região e Pyongyang ameaça Washington com sanções, Coreia do Sul se mantém reservada sobre país vizinho.

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TV da Coreia do Sul noticia sobre testes de mísseis na vizinha do Norte
TV da Coreia do Sul noticia sobre testes de mísseis na vizinha do NorteFoto: picture-alliance/AP Photo/L. Jin-man

"Está prestes a eclodir uma segunda Guerra da Coreia?", questiona o jornal sul-coreano The Korea Herald em sua página na internet. Uma fotomontagem mostra, à esquerda, o ditador Kim Jong-un e o lançamento de um míssil; à direita, um avião de combate americano e o presidente Donald Trump.

A tensão na península é o tema dominante na mídia da Coreia do Sul. Como evoluirá a crise? Quão sério é o perigo de que a Coreia do Norte realize um sexto teste nuclear em breve? E que papel cabe a Seul?

Até agora, o governo sul-coreano tem se mantido excepcionalmente reservado. "É possível que a Coreia do Norte faça provocações maiores, como, por exemplo, um teste atômico", declarou nesta terça-feira (11/04) o presidente interino do país, Hwang Kyo Ahn, em resposta às mais recentes ameaças verbais do Norte.

Hwang ordenou às Forças Armadas que observem de perto todas as atividades de Pyongyang e que assegurem a comunicação estreita com os aliados americanos.

Hora de esforços extremos

Choi Sung Jin, do jornal The Korea Times, caracteriza o "governo sem liderança" como "dolorosamente omisso" em todos os acontecimentos atuais. "Onde está a Coreia do Sul?", pergunta o comentarista, em cuja opinião os próximos 30 dias serão "de significado decisivo para 80 milhões de coreanos".

O autor alude assim a duas datas próximas: o 105º aniversário do fundador do Estado, Kim Il-sung, e o 85º da criação do Exército norte-coreano. Tradicionalmente, os líderes do país costumam aproveitar tais jubileus para demonstrações de poder bélico.

Donald Trump (esq.) e Xi Jinping nos EUA
Pyongyang foi tema de conversas entre Donald Trump (esq.) e presidente chinês em visita aos EUAFoto: picture alliance/AP Images/A. Brandon

"Caso Pyongyang realize um sexto teste atômico nos próximos dias, as tensões entre os dois países atingirão um nível incontrolável. Cada mínimo erro de interpretação das intenções do lado oposto poderia levar a uma guerra aberta e custar centenas de milhares de vidas."

Por isso, insta Choi, a Coreia do Sul deve seguir se empenhando por todos os meios diplomáticos, sejam oficiais ou secretos, para tentar evitar qualquer eventualidade de um desastre dessa ordem.

O artigo de opinião coloca grande expectativa sobre o futuro líder sul-coreano. "O próximo presidente deveria ser aquele a tomar a iniciativa de dar fim à crise nuclear e ao impasse nas relações internas coreanas, que já dura décadas. Ele deveria ser quem trará Pyongyang de volta à mesa de negociações, ao mesmo tempo conseguindo preservar a estreita aliança com os EUA – e isso, sem melindrar a China."

Papel dos EUA

Também o comentarista do periódico conservador The Dong-a Ilbo deplora a passividade excessiva de seu governo. "Tanto um ataque preventivo quanto um diálogo inesperado entre Washington e Pyongyang significariam uma crise para a Coreia do Sul."

Em ambos os casos, os EUA são de importância vital para os sul-coreanos, motivo por que é essencial uma colaboração estreita com o país. Em vez disso, no entanto, Seul se esquiva de tomar uma posição aberta. "O governo sul-coreano ainda não se decidiu por nenhum posicionamento no tocante a temas sensíveis, como ofensiva preventiva, estacionamento tático de armas nucleares ou o diálogo entre EUA e Coreia do Norte."

The Chosun Ilbo, igualmente de orientação conservadora, alerta para que se pare de irresponsavelmente instigar os temores de um ataque iminente. E ressalva que "é também muito mais provável que se repita o padrão, que se desenrola há 20 anos, em que tensões na Península Coreana são seguidas de diálogo".

Líder norte-coreano Kim Jong-un observa teste militar
Líder norte-coreano Kim Jong-un observa teste militarFoto: Reuters/KCNA

No entanto, prossegue, os EUA devem continuar endurecendo suas sanções, com a China se comprometendo explicitamente a arcar em conjunto com as medidas. "Thae Yong Ho, ex-vice-embaixador da Coreia do Norte em Londres, que se estabeleceu na Coreia do Sul no ano passado, afirma que o governo norte-coreano se encontra sob imensa pressão. Agora é hora de paciência, implementação rigorosa das sanções e pressão continuada sobre o Norte."

Temas delicados

Após o encontro de cúpula entre Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, nos EUA, o comentarista do diário liberal The Hankyoreh abordou as apreensões de uma escalada militar na Coreia. Ele vê a franca possibilidade de que o governo americano coloque a Península à beira desse perigo.

"Parece que os candidatos mais promissores nas próximas eleições presidenciais da Coreia do Sul evitam abordar os temas Coreia do Norte, ameaça nuclear, diplomacia e questões de segurança – exceto quando veem oportunidade de conquistar votos com isso", diz a crítica.

"Chegou a hora de os candidatos que aspirem ao cargo de próximo chefe de Estado encararem o problema Coreia do Norte e tomarem a palavra de forma responsável. Isso implica também dirigir reivindicações aos EUA e à China", prossegue o texto.

"Precisamos dialogar com Kim"

No dia seguinte ao artig do The Hankyoreh, Moon Jae In, candidato liberal com boas chances de vir a ocupar a presidência sul-coreana, abordou a questão, em entrevista ao Korea Herald. Ele mostrou ter opinião formada sobre como seu país deve se comportar na crise, propondo que Seul tome a iniciativa para conversações diretas com o inimigo vizinho.

"Precisamos reconhecer Kim Jong-un como líder norte-coreano, e se queremos encontrar uma solução para o conflito atômico, também temos que negociar com ele." Moon igualmente condena a passividade de seu país nessa conjuntura tensa, que já se estende há meses.

"A situação na Península Coreana é nosso problema, somos afetados diretamente pelo conflito em torno das armas atômicas", prossegue. Por esse motivo, Seul deveria assumir um papel de liderança na solução do conflito, só que atualmente está longe disso, diz. "No momento somos meros observadores, que torcem para que as conversas entre os EUA e a China corram bem."