Quem é Alexei Navalny, o principal rival de Putin
29 de janeiro de 2018Milhares de pessoas protestaram no domingo (28/01), em toda a Rússia, contra a eleição de março, na qual o atual presidente, Vladimir Putin, deverá ser eleito pela quarta vez. Houve centenas de detenções porque algumas manifestações, por exemplo no centro de Moscou, não haviam sido autorizadas.
A "greve de eleitores" fora convocada por um homem que, por causa de uma condenação, está proibido de se candidatar na eleição: Alexei Navalny. Este político de 41 anos é considerado o mais influente da oposição. Como nenhum outro, ele consegue mobilizar a população em todo o país. O protesto mais recente em Moscou não atraiu tantas pessoas como o de março de 2017, quando cerca de 20 mil foram às ruas para se manifestar contra a corrupção e o atual governo.
Navalny foi o primeiro a anunciar sua candidatura presidencial, em 2016, para em seguida criar uma rede de comitês eleitorais, de Kaliningrado até Vladivostok. Ele provavelmente já sabia que não seria autorizado a participar da eleição e, em dezembro de 2017, sua candidatura foi oficialmente rejeitada pelo comitê eleitoral. O motivo: uma condenação por crimes econômicos.
Duas condenações
Navalny foi alvo de vários inquéritos. Ele foi condenado em dois casos a penas médias, que pode cumprir em liberdade condicional. No primeiro caso, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos determinou, em 2016, que o processo contra suposto peculato na empresa madeireira estatal Kirovles foi conduzido de forma arbitrária. Porém, os juízes em Estrasburgo não viram qualquer motivação política no caso.
O processo foi retomado, e Navalny e seu sócio foram novamente condenados, em fevereiro de 2017. Porém, em setembro, o comitê de ministros do Conselho da Europa concluiu que a decisão da corte europeia não foi implementada na íntegra e apelou à Rússia para que liberasse a candidatura de Navalny. Moscou viu nesse pedido uma intromissão em questões internas.
Situação semelhante ocorreu no segundo caso: Navalny e seu irmão Oleg foram acusados de fraudar a subsidiária russa da empresa francesa de cosméticos Yves Roche em 26 milhões de rublos (cerca de 1,46 milhão de reais). Em 17 de outubro, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos tornou pública seu veredicto de que o processo contra Navalny e seu irmão foi injusto, e que a decisão dos juízes russos foi arbitrária. Mas não foi identificada uma motivação política na condenação.
De blogueiro a líder da oposição
Navalny nasceu em 1976 em Moscou e estudou Direito. Ele iniciou sua carreira política no tradicional partido liberal Jabloko, mas acabou sendo excluído. O líder do partido afirmou que o motivo foram as posições nacionalistas de Navalny. Ele engajou-se então na Marcha Russa, um movimento que reúne forças extremistas de direita, nacionalistas e xenófobas. Mais tarde afastou-se em parte do movimento.
Navalny deve sua popularidade sobretudo à internet, pois, na televisão russa, ele é apresentado como uma mera marionete do Ocidente. Inicialmente, ele chamou a atenção como blogueiro e combatente contra a corrupção, atraindo muitos seguidores nas redes sociais. Só no YouTube ele tem cerca de 1,6 milhão de assinantes.
Sua marca registrada, uma mistura de deboche e ironia, parece agradar o público. Durante os protestos contra a eleição parlamentar de 2011, Navalny chamou o partido governista Rússia Unida de "partido dos pilantras e ladrões". A expressão parece ter atingido um nervo exposto na sociedade. O blogueiro foi um dos líderes da oposição durante os protestos.
Agora ele reclama esse papel apenas para si, e vem sendo criticado por isso. Já faz um ano que Navalny chama a atenção com vídeos bem produzidos sobre a corrupção na elite russa, atacando desde a promotoria pública até o primeiro-ministro.
Sem alcance na população em geral
Navalny se apresenta como um político liberal e como o principal adversário de Putin. Em seu programa eleitoral, ele promete uma "revolução contra a corrupção", a elevação do salário mínimo e a construção de estradas e hospitais.
Na política externa promete acabar com as guerras conduzidas pela Rússia no exterior, tanto na Ucrânia como na Síria. A Rússia nega apoiar militarmente os separatistas no Leste da Ucrânia. Em relação à Crimeia, que foi anexada, ele soa vago e promete uma "solução legítima em prol da população local".
Até agora, o maior feito político de Navalny foi a participação na eleição para o governo de Moscou, em 2013, na qual ficou em segundo lugar, com cerca de 27% dos votos. Desde então, ele se tornou mais conhecido em toda a Rússia, mas sua popularidade continua na marca de um dígito.
Mais do que qualquer outro político russo, Navalny tem as novas gerações do seu lado. Especialmente estudantes atenderam à sua convocação para os protestos de 2017. Muitos analistas veem aí, porém, o principal ponto fraco de Navalny, já que ele não conseguiu, ao menos até agora, alcançar segmentos mais amplos da população. Além disso, Navalny não tem o apoio de nenhum grande partido. O que ele mesmo criou, em 2012, não teve o registro reconhecido pelas autoridades.