Quem tem medo de reformas econômicas?
19 de setembro de 2005Reação da bolsa e do euro
A falta de um resultado claro nas urnas se fez sentir no mercado de ações no primeiro dia após as eleições. O DAX, o índice das 30 principais ações alemãs, caiu nesta segunda-feira (19/09) mais de 100 pontos em Frankfurt. Depois de baixar para 4872 pontos, ele recuperou-se lentamente, sendo cotado ao final do dia a 4926 pontos.
Com a possível vitória da coalizão CDU/CSU e Partido Liberal (FDP), o índice havia aumentado 15% desde o anúncio da antecipação das eleições. A impossibilidade da coalizão entre conservadores e liberais, desejada pelo empresariado, tornou sobretudo o futuro da energia atômica na Alemanha incerto. Ações de empresas de energia, como a RWE e a E.ON, forçaram a queda da bolsa depois do anúncio do resultado da votação.
O curso do euro também foi afetado pela indecisão do resultado, atingindo o seu nível mais baixo das últimas quatro semanas. Na manhã desta segunda-feira, ele foi cotado a US$ 1,2135, caindo por vezes abaixo da marca de US$ 1,20. Na sexta-feira, antes da eleições, ele estava cotado a US$ 1,2243.
Paira o perigo de estagnação
Na sua edição de hoje, o Wall Street Journal chama a Alemanha de "o homem doente da Europa que continua acamado". Com um resultando eleitoral que não permite a nenhum dos grandes partidos uma maioria parlamentar para impor as reformas necessárias de um Estado de bem-estar social, paira sobre a terceira maior economia do mundo, responsável por 30% da receita da União Européia, a ameaça de estagnação.
A mesma opinião compartilha o jornal pariense especializado em economia La Tribune. O diário considera que qualquer coalizão forçada para garantir a governabilidade do país irá restringir a capacidade de ação do chanceler federal na imposição de reformas necessárias para um país castigado com cinco milhões de desempregados e com empresas que diariamente trasladam sua produção para o estrangeiro.
O Financial Times alemão refere-se ao resultado da votação como um desastre para a economia alemã. O jornal cita vários dirigentes de federações, como o presidente da Federação da Indústria Automobilística, Bernd Gottschalk, para quem os partidos de coalizão devem chegar, o mais breve possível, a um consenso sobre as exigências que cada um “quer“ e aquelas que “pode“ impor.
A coalizão preferida
Em entrevista à DW-TV, o economista chefe do Deutsche Bank, Norbert Walter, explicou que os setores que dependem da produção e comercialização dentro da Alemanha terão grandes problemas e irão, com certeza, diminuir seus investimentos. O economista chamou a atenção também para a prematuridade de uma coalizão entre CDU/CSU, FDP e Partido Verde, porque nem FDP nem Partido Verde estariam preparados para um mergulho em uma aliança de reformas.
O que o economista chefe do Deutsche Bank mencionou de modo superficial parece ser uma tendência a ser seguida por um empresariado que estava apostando na vitória conservadora-liberal, como o representante da Federação Alemã da Indústria Metalúrgica, Martin Kannegiesser, que também mencionou superficialmente a possibilidade de uma coalizão entre essas três facções.
De uma forma geral, há um enorme descontentamento entre os representantes da classe industrial. Para o presidente da Confederação da Indústria Alemã (BDI), Jürgen Thumann, uma grande coalizão iria encontrar muito poucos denominadores comuns e, após as eleições, a Alemanha está ainda mais difícil de governar. Thumann explica que "pelo lado da indústria e da economia, nós estamos completamente decepcionados".
Poucos estão satisfeitos
Poucas foram as vozes que se apresentaram otimistas com o resultado das eleições. O diretor do Instituto da Economia Alemã (IW), Michael Hüther, acredita que o mundo não irá acabar devido a uma grande coalizão. O mesmo pensa o presidente da Confederação Alemã das Câmaras de Comércio e Indústria (DIHK), que não vê uma influência das eleições sobre o Produto Interno Bruto, a não ser que a médio prazo não se chegue a um consenso sobre as reformas.
Ele rejeita, entretanto, uma coalizão entre SPD, Partido Verde e Partido de Esquerda, já que os 8% dos eleitores que votaram no Partido de Esquerda representam a minoria que não quer as reformas.
Os únicos realmente satisfeitos com o resultado eleitoral são os representantes sindicais. Ao contrário dos empregadores, os sindicalistas atacaram veemente o plano de reformas da coalizão entre conservadores e liberais, chamando-o de um "perigo para todos os empregados". Para Michael Sommer, presidente da Federação dos Sindicatos da Alemanha (DGB), os eleitores deram um "não" a uma política contra os seus interesses.
Os representantes sindicais põem claro o medo que a população teve de reformas que pudessem levá-la a uma insegurança social.