Questão de dias
15 de março de 2003O êxito da União Européia (UE) na administração da crise na região dos Bálcãs foi tomado como base pelo ministro grego da Defesa para ressaltar a capacidade diplomática e militar da comunidade dos 15. Na condição de presidente do Conselho de Ministros da Defesa da UE, Giannos Papantoniou lembrou a necessidade de seus colegas de pasta trabalharem em conjunto. O que não é o caso em relação à crise do Iraque. Enquanto Alemanha e França lideram a frente dos pacifistas, Grã-Bretanha e Espanha querem desarmar o Iraque à força.
No encontro informal de dois dias, encerrado neste sábado (15) na capital grega, as divergências entre as duas frentes ficaram mais uma vez claras. Embora a maioria dos ministros defenda uma solução diplomática para o Iraque, o encarregado de relações exteriores e de política de segurança da comunidade admitiu o ceticismo, como os demais ministros presentes. "Gostaria que a guerra fosse evitada, mas não sei se isso se concretizará", disse Javier Solana,
Tanto Papantoniou como o ministro alemão da Defesa, Peter Struck, ressaltaram que não estão otimistas, mas continuam defendendo todos os meios diplomáticos para evitar um conflito, como havia sido decidido na cúpula extraordinária da União Européia, em fevereiro.
Ultimato de 72 horas – A Grã-Bretanha foi representada no encontro pelo ministro das Forças Armadas, Adam Ingram, segundo o qual o início da guerra é apenas uma questão de dias. O jornal Stuttgarter Nachrichten publicou neste sábado que o governo alemão e o Ministério das Relações Exteriores dispõem de informações de que o presidente norte-americano, George Bush, fará um pronunciamento na segunda-feira em que solicitará que os funcionários das Nações Unidas deixem o Iraque em 72 horas. A reportagem do diário de Stuttgart não foi comentada por Berlim.
Reta final nos Açores – Bush vai encontrar-se com os chefes de governo da Espanha e da Grã-Bretanha neste domingo nos Açores. Observadores vêem na cúpula a reta final de preparativos para o início de uma intervenção militar. Também o chefe do governo alemão, Gerhard Schröder, manifestou-se pessimista sobre as chances de evitar uma guerra. Mesmo assim, demonstrou mais uma vez a confiança nos esforços pacifistas da Alemanha, França, Rússia e China.
O político social-democrata esclareceu que não irá a Nova York, caso seja votada uma segunda resolução no Conselho de Segurança, e encarregou seu ministro do exterior para a viagem. Embora continue sendo contra o conflito, Schröder admitiu que a Alemanha participaria da reconstrução do Iraque após uma guerra, desde que sob a égide das Nações Unidas.
O ministro alemão da Defesa ressaltou a falta de dinheiro de seu ministério e destacou que as missões internacionais das Forças Armadas alemãs (Bundeswehr) já custam dois milhões de euros ao ano. Segundo o jornal Welt am Sonntag, Peter Struck ofereceu, no entanto, a retirada aérea, a partir do Kuweit, de soldados norte-americanos ou iraquianos feridos.
Informações não confirmadas dão conta de que já haveria também um programa de ajuda financiado pelo Instituto de Crédito para a Reconstrução – o banco de desenvolvimento do governo federal alemão, com sede em Frankfurt, e um pedido de mil soldados alemães para uma tropa de paz no Iraque.
Trabalho conjunto
– Os países da União Européia pretendem incrementar sua cooperação no âmbito da defesa. No encontro informal encerrado neste sábado em Atenas, os representantes dos 15 membros da comunidade destacaram a necessidade de melhorar, por exemplo, o intercâmbio no desenvolvimento de armas. Neste contexto, foi anunciada a criação de uma agência de armamentos, para coordenar os projetos armamentistas nos países da União Européia.No momento, cada país está estudando soluções para os problemas mais graves em sua defesa. Para maio, foi marcada uma conferência sobre o desenvolvimento das competências militares da comunidade. Os participantes do encontro elogiaram como grande êxito a planejada tropa de intervenção da União Européia, que estará pronta para entrar em ação no próximo mês de maio.
Manifestações
– Assim como em várias outras cidades ao redor do planeta, manifestações, correntes humanas e o bloqueio a uma base aérea norte-americana marcaram o protesto de dezenas de milhares de alemães, neste sábado, a uma guerra no Iraque.Em Berlim, milhares de pessoas participaram de uma corrente de luzes de 35 quilômetros de comprimento, enquanto em Frankfurt cerca de 1500 pacifistas participaram do bloqueio à base aérea dos Estados Unidos, por onde passam as tropas e os equipamentos com destino ao Golfo Pérsico. Cerca de 3 mil pessoas participaram da manifestação em Munique.
Pesquisa
– Uma pesquisa de opinião feita pelo grupo Wahlen, de Mannheim, através da consulta representativa, por telefone, com mais de 1200 pessoas, revelou que 75% dos alemães acham que haverá uma guerra no Iraque e 45% não acreditam que o trabalho dos inspetores da ONU leve ao desarmamento completo do Iraque.No caso de as Nações Unidas aprovarem uma intervenção militar contra o regime de Bagdá, 62% rejeitam categoricamente a participação de soldados alemães na guerra (em fevereiro haviam sido 50%). Já 24% defendem que a Alemanha preste apoio financeiro ou em forma de material, enquanto 11% são a favor da participação de soldados alemães no conflito (no final de fevereiro, haviam sido 14%).